Regresso ao trabalho e aos novos cortes nos spreads da casa

Depois do verão, com o regresso dos portugueses às suas vidas, os bancos voltam a atacar os spreads no crédito à habitação. Além do BIC, também o Novo Banco baixou a taxa mínima.

A “guerra dos spreads” no financiamento da compra de casa foi, como muitos portugueses, de férias. Mas com a rentrée, está de volta. O BIC, mas também o Novo Banco, avançou com cortes nas margens mínimas exigidas para conceder empréstimos à habitação. É mais um sinal de que o setor está cada vez mais disponível a emprestar dinheiro, seguindo a ordem do Banco Central Europeu.

Se nos meses de verão nada mudou, o início de outubro fica marcado por revisões em baixa das margens mínimas cobradas pelo BIC e o Novo Banco para conceder empréstimos à habitação. O banco liderado por António Ramalho tem agora em vigor um spread mínimo de 1,75%, abaixo dos anteriores 1,95%. Já o BIC baixou a sua anterior margem mínima de 2,1%, para 1,65%. Estas mexidas, especialmente a efetuada pelo BIC, levam a que entre os dez principais bancos na concessão de crédito à habitação em Portugal, todos ofereçam agora spreads a partir de valores inferiores a 2%.

Spreads da casa em dez bancos

Fonte: Preçários dos bancos (Valores em percentagem)
Fonte: Preçários dos bancos (Valores em percentagem)

 

No seguimento destas últimas revisões, o BIC passa a fazer parte do grupo de bancos com apresentam os spreads mais baixos do mercado nacional. Aquém do BIC estão apenas o Bankinter, que oferece a margem mínima de spreads mais baixa do mercado — 1,25% –, o Santander Totta e o Montepio, com valores de 1,5% e 1,55%, respetivamente. Ao mesmo nível do BIC está o Crédito Agrícola que no seu preçário também divulga um spread mínimo de 1,65%.

O Novo Banco, com a revisão em baixa do seu limite mínimo exigido para financiar a compra de casa, iguala a margem dos concorrentes diretos CGD e BCP, e fica abaixo do custo mais baixo exigido pelo BPI, que é de 1,95%.

Esta descida é um processo de alinhamento às taxas de mercado. Não queremos estar fora do mercado.

Porta voz do Novo Banco

“Esta descida é um processo de alinhamento às taxas de mercado. Não queremos estar fora do mercado“, disse fonte oficial do Novo Banco ao ECO, para justificar esta recente revisão em baixa do spread mínimo da instituição liderada por António Ramalho.

Filipe Garcia, CEO da IMF, salienta precisamente a estratégia concorrencial dos bancos como principal motor das mais recentes mexidas no preço que cobram para emprestar dinheiro para a compra de casa. “As descidas de spreads são uma ferramenta comercial para atrair clientes. Os bancos tentam que os clientes concentrem o envolvimento bancário numa instituição. Pretende-se que os clientes concentrem operações para que ao pensarem em serviços bancários pensem apenas em utilizar o seu banco de referência”, afirma o economista. “Com a importância crescente do comissionamento nas receitas dos bancos, é fulcral atrair e reter o cliente de forma a que este recorra aos serviços apenas desse banco”, acrescenta Filipe Garcia.

É com base neste tipo de argumentos que se poderá explicar que o Bankinter disponibilize a margem mínima de spreads mais baixa do mercado. De recordar que o banco espanhol que assumiu a partir de abril deste ano os ativos do retalho do Barclays, em Portugal, estabeleceu uma estratégia agressiva de implementação da sua marca no território nacional.

Uma parte do plano estratégico do banco espanhol para Portugal prevê multiplicar por sete o volume do negócio de crédito à habitação, atingindo uma quota de produção de 7% no espaço de três anos. Já o BIC, que representa uma fatia muito pequena no mercado de crédito à habitação nacional está a levar a cabo uma campanha de captação de clientes para o seu negócio de empréstimos para a compra de casa que é bastante visível no site da instituição financeira.

O que esperar?

Aquela que se insere numa estratégia de crescimento da atividade dos bancos acontece num contexto em que estes também se sentem mais à vontade para abrir os cordões à bolsa. “Percebe-se que os bancos estão mais confortáveis em conceder crédito à habitação, num contexto de subida das avaliações, diminuição da taxa de desemprego e política monetária expansionista”, explica Filipe Garcia.

A ordem do Banco Central Europeu é para que os bancos libertem liquidez no mercado, de forma a ajudar a empurrar a débil economia europeia, tendo para para tal colocado a taxa de juro de referência da Zona Euro num mínimo nunca antes visto de 0%.

Parece-me haver pouca margem para uma queda significativa dos spreads, dado que não é provável que o BCE corte a taxa de juro de depósitos, mas é bom ver o mercado a funcionar.

Filipe Garcia

Economista da IMF

Quem tem oportunidade de tirar partido dessa tendência são os consumidores que durante vários anos viram fechada a porta à oportunidade de comprar casa com recurso ao crédito, devido aos elevados custos de financiamento que se seguiram ao início da crise na Europa.

Os consumidores beneficiam, atualmente, por um lado do de indexantes do crédito à habitação que se encontram em valores negativos, mas também da oportunidade de negociar spreads bastante inferiores ao que estavam em vigor no pico da crise. Nessa ocasião as margens mínimas chegaram a atingir um valor médio de 3,5%, com algumas instituições a colocarem o valor mais baixo do spread disponível em valores em torno dos 4%.

Apesar das consecutivas descidas nos leques dos spreads no crédito à habitação por parte dos bancos, não haverá muito espaço para novas revisões em baixa. “Parece-me haver pouca margem para uma queda significativa dos spreads, dado que não é provável que o BCE corte a taxa de juro de depósitos, mas é bom ver o mercado a funcionar”, refere Filipe Garcia.

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