Euro afunda. Próxima paragem: paridade?

  • Rita Atalaia
  • 3 Janeiro 2017

Subida dos juros, nos EUA, e injeção de estímulos do BCE, na Europa. Esta divergência deve pressionar o euro. Mas será a política a levar a moeda única a valer o mesmo que o dólar em 2017.

O euro não para de tocar mínimos. E a moeda deve continuar a cair no próximo ano. As promessas de investimento de Donald Trump devem obrigar a Reserva Federal dos EUA a subir as taxas de juro mais rapidamente do que o antecipado. Mas, no Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi deve manter o programa de estímulo. Esta divergência está a pressionar a moeda única contra o dólar. Contudo, será a política na Europa o fator-chave para que o euro passe a valer o mesmo, ou menos, que a divisa norte-americana já no próximo ano.

Desde a crise financeira global, em 2008, quando o euro tocou um máximo de 1,604 dólares, a moeda única tem vindo a cair. E desde a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, o euro acentuou esta tendência negativa. A divisa já tocou os 1,0352 euros, mas é possível que continue a cair, ao ponto de chegar à paridade face ao dólar. Portanto, valer o mesmo que a divisa norte-americana, o que não acontece há 14 anos. Por agora, a moeda está perto dos 1,0550.

Euro rumo à paridade

eurodolar-01

E pode mesmo atingir os 0,95 dólares no próximo ano, o valor mais baixo desde 2002. Pelo menos é esta a previsão do Deutsche Bank e do ABN Amro. O Barclays projeta 0,98 dólares e o Morgan Stanley prevê 0,99 dólares, mas só mais para o final do próximo ano.

Este movimento reflete as diferentes expectativas para as taxas de juro da Reserva Federal dos EUA e do BCE, liderado por Mario Draghi. Se, por um lado, a Fed deve subir as taxas de juro mais depressa do que previsto, devido às promessas de investimento de Donald Trump, por outro, o BCE continua a injetar estímulos na economia.

“Nos EUA, os eventos têm sido positivos para o dólar. Desde o aumento da probabilidade de haver estímulo orçamental, à intensificação do protecionismo e controlos de imigração”, escreve o Goldman Sachs. A isto junta-se a aceleração da inflação, que deixa antecipar uma restrição da política monetária do banco central dos EUA.

“O euro deverá afundar para a paridade no final do próximo ano, assumindo um alargamento no diferencial das taxas de juro entre a Zona Euro e o os EUA“, diz Daisaku Ueno, estratega-chefe do mercado cambial do Mitsubishi UFJ Morgan Stanley.

Política monetária? Não só

Mas o mercado acredita que a queda do euro pode estar mais relacionada com questões políticas. “Faz sentido convencermo-nos de que a Fed vai subir os juros um pouco mais depressa e faz sentido acreditarmos na ideia de que o crescimento dos EUA está a ser impulsionado pela Administração Trump. Mas isto tudo já está incorporado no valor [do par euro face ao dólar]”, diz o Société Générale. O problema é outro: os investidores temem que a vitória de Trump alimente a maré populista, que está a ganhar força na Europa.

Na Holanda, Geert Wilders, que lidera o Partido para a Liberdade, partido populista de extrema-direita e anti-islâmico, está à frente nas sondagens de opinião antes das eleições de março. Na Alemanha, o mais recente ataque terrorista aumentou ainda mais a pressão para a chanceler alemã, Angela Merkel, que enfrenta eleições legislativas no próximo outono. Mas o foco está virado para França, onde Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, deve ganhar a primeira ronda nas eleições presidenciais, em abril.

Marine Le Pen, leader of the French National Front, listens during a party debate in Paris, France, on Thursday, Oct. 20, 2016. Once seen as fringe groups, France's National Front, Italy's Five Star Movement, and the Freedom Party in the Netherlands have attracted legions of followers by tapping discontent over immigration, terrorism, and feeble economic performance. Photographer: Marlene Awaad/Bloomberg
Marine Le Pen, líder da Frente NacionalMarlene Awaad/Bloomberg

“O nervosismo em torno da perspetiva política e o potencial de haver outra surpresa populista manterão o euro sob pressão”, diz Kit Juckes, um dos estrategas cambiais do Société Générale, referindo-se às eleições francesas. “Ainda esperamos que o euro chegue à paridade face ao dólar entre agora e as eleições francesas, em abril ou maio“, refere o banco.

“Na Europa, a atual incerteza sobre o processo do Brexit deve pesar na libra, enquanto a vaga de eleições legislativas em França, Alemanha e Holanda vão pressionar o euro”, explica a equipa de analistas numa nota de investimento citada pela Bloomberg.

Paridade não é para todos

Mesmo com o diferencial de juros entre a Fed e o BCE, e os receios do crescimento do populismo na Europa, não é consensual que o euro chegue a valer o mesmo que o dólares. A “possibilidade de o euro atingir a paridade com o dólar é mais remota do que parece, devido ao excedente de balança comercial da Zona Euro, que se deve, em larga medida, à Alemanha”, diz Steven Santos, gestor do BiG.

Ainda que alguns dos maiores bancos de investimentos internacionais preveja um euro abaixo do dólar, o consenso também aponta para que a moeda única continue acima da paridade. Deve cair para os 1,05 dólares até ao final de 2017, de acordo com a média das estimativas dos analistas consultados pela Bloomberg. E mesmo que baixe do dólar, tem potencial para rapidamente recuperar.

“O euro não deve manter-se abaixo da paridade, a não ser que as eleições em França sejam uma grande surpresa”, diz o Société Générale. Além disso, o banco também espera que os benefícios que o dólar colheu com esta divergência entre as políticas monetárias dos EUA e da Zona Euro atinja um limite até meados de 2017, quando o BCE alterar mais significativamente o seu programa de compra de ativos. “Consequentemente, prevemos que o par entre o euro e o dólar recupere e abandone a paridade a partir da primavera“.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Euro afunda. Próxima paragem: paridade?

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião