Marcelo acertou: Fitch mantém ‘rating’ de Portugal

Marcelo adiantou-se, mas acertou. O 'rating' atribuído pela Fitch a Portugal continua na categoria de 'lixo', embora com perspetiva estável. A Fitch deixa avisos ao défice e banca, mas elogia Costa.

O rating de Portugal para a agência Fitch continua a ser BB+ com perspetiva positiva. O anúncio foi feito pelo Presidente da República esta sexta-feira de tarde. Após o fecho dos mercados internacionais, a Fitch Ratings, de acordo com as regras, comunicou esta noite que mantém o rating da República.

“O rating soberano de Portugal é suportado por instituições fortes, um ambiente empresarial forte e uma das mais altas taxas de rendimento per capita na categoria ‘BB'”, escreve a agência de notação financeira. Em contrapartida, a Fitch refere também os fatores negativos: níveis elevados de dívida pública e privada, um crescimento económico “fraco” e problemas que se arrastam no sistema financeiro.

A Fitch mantém assim Portugal no nível de lixo, ou seja, fora do radar dos investidores, ao contrário da DBRS, que é a única agência de rating que mantém Portugal acima dessa fasquia, permitindo o acesso a programa de compras do Banco Central Europeu. Na semana passada, em entrevista ao ECO, o diretor de soberanos da Fitch referia que “a história do défice ainda não é nada”. Federico Barriga está de olhos postos na banca e na dívida.

Há elogios para o que já foi feito em termos de consolidação orçamental, mas a Fitch antecipa que o défice volte a derrapar em 2017 para “valores próximos de 3% do PIB”. Porquê? A recapitalização da CGD em 2,7 mil milhões de euros terá um peso, estima a Fitch, de cerca de 1,1% do PIB. Sobre o défice de 2016, a agência de notação financeira elogia o menor nível de despesa, estimado em 46% do PIB, desde 2008. No entanto, a Fitch ressalva que essa meta foi atingida, em parte, com “restrição” do investimento público, o que compromete o crescimento económico a médio prazo.

Mas há mais: “há muitos progressos a fazer em áreas chave como a venda do Novo Banco ou a implementação de uma solução sistémica para as carteiras com imparidades”. A Fitch considera que uma “incerteza recorrente” é a potencial exposição da República a estes desenvolvimentos, inclusivamente um problema adicional no setor financeiro que venha a exigir “um apoio financeiro substancial do Estado” poderá resultar numa revisão em baixa do rating português. Há ainda um alerta para a qualidade dos ativos na banca, que “permanece fraca”, com o crédito malparado nos 12,6% no terceiro trimestre de 2016.

A agência faz ainda considerações ao desenho político da solução governativa portuguesa. A Fitch alerta que “qualquer mudança derivada da política no setor bancário requer um esforço político concertado”, dado que o PS só tem maioria parlamentar com a ajuda do PCP e BE, um aviso que tem mais importância dados os recentes bloqueios no Parlamento, como foi o caso da redução da TSU. No entanto, há um elogio: “Costa tem um histórico de ser bom a gerir as diferenças partidárias, o que assegura a estabilidade política”. Contudo, há um lado mau que está na falta de abertura para implementar “reformas estruturais ambiciosas” em áreas económicas.

Os riscos externos são maiores do que os riscos internos, avisa a agência. Em causa está o crescente protecionismo à volta do mundo, o baixo crescimento económico na Zona Euro e as eleições em países europeus. “As próximas eleições em países chave da Europa podem levar a uma volatilidade política e dos mercados, o que poderá aumentar os custos dos empréstimos de Portugal e afetar a confiança e o investimento“, escreve a Fitch no nota de imprensa.

A radiografia da Fitch em 3 pontos

  1. As razões macroeconómicas: altos níveis de endividamento empresarial, fraco investimento, tendências demográficas adversas e um fraco setor financeiro que compromete a perspetiva de crescimento económico a médio prazo;
  2. As dificuldades nas finanças públicas: o rating da Fitch reflete o “muito elevado” nível da dívida pública portuguesa;
  3. Os constrangimentos financeiros externos: a dívida externa em percentagem do PIB é uma das mais altas do mundo;

O que poderá atingir o rating de Portugal?

  • Desenvolvimentos positivos: um decréscimo sustentado do nível da dívida em relação ao PIB; uma melhoria da balança comercial externa; perspetivas de crescimento económico a longo prazo mais fortes;
  • Desenvolvimentos negativos: um novo resgate estatal a um banco; um falhanço na diminuição dos níveis de endividamento público e dos desequilíbrios da balança externa; perspetivas fracas de crescimento económico que impactem de forma negativa o setor bancário ou as finanças públicas.

(Atualizado às 22h12)

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