• Entrevista por:
  • António Ferreira

Paulo Garcia (Unipartner): Covid-19 ajudou seguradoras a tornarem-se mais ágeis e rápidas

Managing Partner na Unipartner, Paulo Garcia ajuda-nos a compreender os desafios emergentes da pandemia no setor e a relação crescente entre o movimento insurtech e seguradoras tradicionais.

As companhias seguradoras são, por natureza, data intensive e o processo de digitalização, já iniciado antes desta pandemia, está a conhecer um novo impulso na medida em que as Insurtech são fonte crucial de inovação para a indústria seguradora, aponta o especialista da Unipartner, em resposta a questões de ECO Seguros no âmbito de uma recente conferência, em Lisboa.

Como estão as incumbentes a adaptar-se ao movimento insurtech?

À medida que as insurtechs se transformam numa fonte crucial de inovação nos seguros, também o interesse das companhias seguradoras incumbentes (tradicionais) na inovação tecnológica aumenta. Por um lado, as seguradoras começam a explorar as insurtechs, ajudando-as a crescer através da sua participação em programas de incubação e aceleração. Para além de investimento, as companhias seguradoras também providenciam guidance, dados massivos para testar soluções e acesso a infraestruturas.

Por outro lado, as Insurtechs também elas fomentam a transformação interna das Seguradoras incumbentes, obrigando-as a modificar progressivamente os seus sistemas legados, transformando-os para arquiteturas mais abertas, com recurso a plataformas de suporte aplicacionais mais ágeis, de forma a integrarem mais facilmente as soluções tecnológicas trazidas pelo insurtech.

De acordo com a McKinsey, num estudo publicado em maio deste ano “A new industry model for insurtech”, o modelo vencedor requer uma combinação das capacidades trazidas pelas companhias seguradoras já instaladas, com as novas skills tecnológicas e agilidade trazidas pelo movimento de inovação digital. No mesmo sentido, de acordo com uma análise realizada pela Deloitte sobre o tema “Accelerating insurance innovation in the age of InsurTech”, vemos que as companhias seguradoras tradicionais não podem confiar apenas no crescimento orgânico e na inovação interna para serem bem-sucedidas. Os vencedores serão aqueles que conseguirem combinar o seu ADN com o ADN destas start ups inovadoras.

É um facto de que em Portugal, e não só, vemos muitas vezes uma forma diferente de pensar Seguros, entre uma Seguradora Tradicional e uma Insurtech. No entanto, se ambas conseguirem identificar o Win Win e se conjugarem esforços, acredito que podemos entrar em níveis mais elevados de colaboração e parceria no mercado. Quando esta combinação funciona, quem ganha é o consumidor.

Como caracteriza os efeitos da pandemia na indústria seguradora?

À luz do “novo normal”, que traduz no impacto transversal da pandemia na economia, as seguradoras devem aproveitar a oportunidade para agir sobre os custos internos e na proximidade com os clientes. A tecnologia pode ter aqui um papel crucial, através da disponibilização de ferramentas de colaboração remota, bem como pela otimização e simplificação de processos através da automatização e da robotização.

As empresas têm de proporcionar experiências remotas cada vez mais personalizadas e mais direcionadas. Isto é especialmente importante no setor segurador, onde o canal direto não tem na maioria dos casos o peso que tem o canal agente/mediador.

Como vê essa transição da indústria para seguros à distância de um clique?

Esta evolução já se sentia antes da pandemia, mas foi claramente reforçada e acelerada nos últimos meses. Foi necessário fazer face às limitações que se colocaram na venda presencial, alterando para modelos de venda remota. Com o crescimento da venda remota, as companhias seguradoras têm de capacitar os seus colaboradores na área comercial, em particular os gestores dos clientes, os seus agentes, e os contact centers, com um conjunto de ferramentas digitais de apoio ao processo comercial.

A pandemia obrigou as seguradoras a potenciar canais diretos e digitais, porque o tráfego gerado nestes mesmos canais subiu exponencialmente de um momento para o outro. E, com mais tráfego, foi possível às seguradoras detetar novos padrões de comportamento dos clientes e agir sobre esses mesmos padrões, introduzindo marketing digital potenciado, complementando modelos de propensão com estratégias de event based marketing e real time marketing, identificando triggers que possam ajudar a detetar mais precocemente potenciais leads e a converter essas leads em negócio.

Paralelamente, as ofertas de produtos e os modelos de subscrição têm evoluído no sentido de ser mais modulares, granulares e adaptadas às necessidades dos clientes em termos de cobertura e janela temporal de proteção. Os conceitos de subscrição têm vindo a ser alterados, baseados em conceitos de Insure as you Go, mais diretamente relacionados com os eventos para os quais queremos cobertura e no tempo adequado.

Dados e modelos Data Driven. Como têm sido potenciados pelas companhias seguradoras?

Os dados são um ativo muito valioso para as seguradoras. As companhias estão a tirar partido de soluções baseadas em Inteligência Artificial, utilizando algoritmos avançados de machine learning e técnicas de visualização computacional avançadas, de forma a desenvolver as suas capacidades de avaliação de riscos, monitorização em tempo real e prevenção dos mesmos. Ao incentivar o comportamento seguro, e fornecer alertas e assistência atempadamente, as seguradoras podem tornar-se um parceiro preventivo e útil no dia-a-dia dos seus clientes.

A indústria seguradora é, por natureza, data intensive. E os recentes avanços tecnológicos abriram as possibilidades de acesso a novas fontes de dados que podem ser utilizados para otimizar processos ao longo de toda a cadeia de valor. No entanto, com as crescentes preocupações com a segurança de dados, as companhias seguradoras têm de tomar medidas para assegurar a privacidade de dados que é exigida por clientes e reguladores.

Tal faz com que as seguradoras se preocupem em implementar sistemas robustos de gestão de dados dos clientes para cumprir os regulamentos de proteção dos mesmos, quer no seu armazenamento, partilha e utilização. As seguradoras devem incluir a privacidade dos dados nas suas decisões comerciais e exigir a proteção dos mesmos em processos e produtos de negócio que lidam com dados pessoais.

Em referência à recente Insurtech Conference, em que participou na Fintech House, em Lisboa, Paulo Garcia, CCO na Unipartner IT Services, fez balanço positivo: “Não obstante o pano de fundo em termos económicos ser caracterizado por enormes desafios, foi unânime entre os diversos oradores, que estes momentos são também eles mesmos aceleradores de mudança e criam oportunidades de crescimento”.

  • António Ferreira

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