Verdade e mentira na Europa

Na sexta-feira a União Europeia anunciou a estratégia para o combate à desinformação. E colocou em ponto de mira as plataformas digitais onde grassam as mentiras.

O plano de ataque à desinformação já era conhecido, passando por responsabilizar as plataformas que espalham as mentiras enquanto estuda formas de perseguir quem as cria. O momento mais interessante do dia terá sido o ataque de Juncker ao primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, acusando-o de de ser um dos promotores de notícias falsas.

A UE não acordou cedo para o problema. É verdade que este é o quarto pilar de uma estratégia concertada contra as grandes plataformas americanas – que começou nas investigações lançadas pela comissão na área da concorrência, seguido da proteção de dados e da reforma dos direitos de autor – mas este último esforço arrisca-se a chegar tarde demais. As eleições europeias são em maio e não há qualquer hipótese de garantir que as coisas vão correr bem, pelo que resta contar com a boa vontade das grandes plataformas, que não têm propriamente sido exemplares no tratamento das questões relacionadas com a proteção da democracia.

Parte da questão tem a ver com a amálgama de interesses que é a Comissão. Ao contrário do que seria de esperar, o tema não fica nas mãos da comissária para o digital. Vai antes para Federica Mogherini, entrando no portfolio dos serviços externos, o que ao menos lhe permite ter acesso a um pequeno orçamento de cinco milhões de euros – a razão para este alinhamento parece ser o entendimento de que o problema da desinformação vem essencialmente de entidades externas como a Rússia, mas a questão é bem mais complexa e passa pela crise do jornalismo e pelos interesses populistas anti-europeus que estão bem enraizados no continente.

Em Portugal, o problema é duplo, por causa das eleições legislativas no outono. E, como o Diário de Notícias tem revelado numa série de excelentes artigos, o problema existe por cá também – e só vai crescer com a agitação dos interesses envolvidos nos atos eleitorais. São razões mais do que suficientes para tornar estas matérias particularmente sensíveis aqui também – ou então não, tendo em conta que ninguém as discute.

Em pano de fundo está a crise dos média, que se continua a agravar com um impacto crescente na qualidade do jornalismo produzido e na qualidade da discussão no espaço público. Para esse problema nem a União Europeia tem ainda solução, até porque é demasiado perigoso interferir com a independência jornalística. Só que a inação é igualmente arriscada, porque a perda de quantidade e qualidade de títulos jornalísticos não augura nada de bom.

E é uma pena que a atual ministra esteja ainda a aprender os contornos da pasta que titula. De outra forma, até poderia ter uma ideia sobre o assunto, fosse ela qual fosse. Até porque, se há algo necessário neste tema, são ideias e ações.

Ler mais: Foi publicado no último verão um interessante livro chamado Fake News, Propaganda, and Plain Old Lies: How to Find Trustworthy Information in the Digital Age. Escrito por Donald Barcklay, um bibliotecário de carreira, oferece uma visão desapaixonada do problema da informação falsa e apresenta dicas práticas sobre como gerir o consumo de informação numa sociedade hipermediatizada.

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