Saiba tudo sobre o fim anunciado dos HFCs

  • Marta Santos Silva
  • 18 Outubro 2016

A indústria mundial dos eletrodomésticos já previa uma viragem e algumas empresas já tinham investido em alternativas. A redução obrigatória dos HFCs não chega para todos os países ao mesmo tempo.

É “uma conquista há muito esperada”, diz Andrea Voigt, da Parceria Europeia para a Energia e o Ambiente (EPEE), grupo que representa as indústrias do aquecimento, climatização e refrigeração na Europa. Voigt refere-se à ratificação este sábado, no Ruanda, de uma adenda ao Protocolo de Montreal que vai pôr fim à venda e produção de eletrodomésticos que façam uso dos Hidrofluorcarbonetos, ou HCFs, um gás de efeito estufa que leva ao aquecimento do planeta e à degradação da camada de ozono.

Os HFCs são amplamente usados em eletrodomésticos como os frigoríficos, as arcas congeladoras e os sistemas de ar condicionado. Agora, os fabricantes destes produtos por todo o mundo vão ser obrigados a procurar alternativas. Mas a maioria vê a mudança como positiva — e várias grandes empresas que já tinham desenvolvido estratégias para fugir aos HFCs veem aqui uma enorme oportunidade de mercado e apoiaram ativamente a decisão.

Indústria aliou-se aos ambientalistas

“Aperceberam-se de que sem uma mudança das regras, os produtos deles não poderiam competir”, explicou ao New York Times o diretor da iniciativa federal norte-americana Climate and Clean Air Program, David Doniger. “Acordaram e disseram: ‘A ciência é real’. Nós queríamos restringir [os HFCs] por razões puramente ambientais, e as empresas queriam restringi-los por muitas outras razões”, que incluíam os lucros, disse Doniger. “Mas o que conta é que tinham um certo interesse em comum com a comunidade internacional”.

Uma das grandes empresas que lutou pelo fim dos HFCs foi a norte-americana Honeywell. Nos últimos anos, essa empresa cotada em bolsa tem desenvolvido novos químicos refrigerantes que emitem menos gases perigosos do que usando HFCs, e uma das suas novas linhas de aerossóis, solventes e refrigerantes mais seguros, chamada “Solstice”, deverá ser um “negócio de mil milhões de dólares” em 2017, segundo afirmou um dos seus vice-presidentes, Patrick Hogan, numa conferência de imprensa em junho. Cerca de nove milhões de veículos já tinham ares condicionados que funcionavam com o refrigerante “pós-HFC” da Honeywell em junho, e a empresa esperava que esse número duplicasse até ao final do ano, escreve o Wall Street Journal.

A transição “não é um grande choque para o sistema”, admitiu à agência Reuters o porta-voz do Instituto do Ar Condicionado, do Aquecimento da Refrigeração, Francis Dietz. “Está a ser faseada um pouco de cada vez”.

Ao Wall Street Journal, um porta-voz da agência federal do ambiente nos EUA, a EPA, afirmou: “Embora haja alguns gastos na transição para as alternativas, não prevemos que esta seja um fardo significativo para a indústria, especialmente tendo em conta os muitos compromissos que já fizeram para mudar para alternativas amigas do ambiente”.

Na Europa, o caminho está traçado

A regulação europeia já previa um fim faseado dos gases de efeito estufa, com particular impacto nos HFCs, e entrou em vigor em abril deste ano. A EPEE, através do seu projeto Gapometer, identificou os principais desafios que se colocam aos países europeus.

Para atingir os objetivos, é necessário agir em dois setores principais, explica Andrea Voigt num vídeo divulgado pela EPEE: a refrigeração comercial e o ar condicionado estacionário são “particularmente críticos”, com a refrigeração comercial a tomar o lugar de principal preocupação a curto prazo para o fim faseado dos HFCs.

“Esperamos que o nosso trabalho a nível europeu com o Gapometer ajude a inspirar outras regiões do mundo que estão a tentar implementar o acordo de Kigali e ser bem-sucedido nestes compromissos”, disse Andrea Voigt.

Os custos vão chegar aos consumidores?

Embora se espera que inicialmente o aumento da produção das alternativas aos HFCs e a substituição dos equipamentos existentes por novos dê origem a custos acrescidos que poderão ser sentidos para os consumidores, o aumento do preço final deverá desaparecer a longo prazo, disse à Reuters o presidente do Instituto para a Governança e Desenvolvimento Sustentável, Durwood Zaelke.

“Se comprar um ar condicionado, vai usá-lo durante cerca de 10 anos. A maior parte do custo é a eletricidade, o refrigerante é cerca de 1% do custo do ciclo de vida do ar condicionado”, explicou.

Os HFCs não acabam para todos ao mesmo tempo

Mas o fim dos HFCs não vai ser igual para todos. Enquanto a União Europeia já começou com regulações contra os HFCs, os primeiros a juntar-se são os restantes países desenvolvidos a partir de 2018, com as nações em vias de desenvolvimento a começarem o processo em duas fases: uns a partir de 2024 e outros a partir de 2028. Na cauda estarão a Índia, o Irão, o Iraque e o Paquistão. Espera-se que, com esta estratégia, os níveis globais de HFCs desçam entre 80 e 85% até 2047, fazendo com que o mundo aqueça menos meio grau centígrado antes do final do século — uma poupança que pode ser fundamental para a sobrevivência da espécie humana.

Na Índia, onde o fim faseado dos HFCs tem um prazo mais alargado, como em vários países emergentes e em desenvolvimento, não se espera que haja um grande impacto nos consumidores.

Em 2028, quando está previsto que a Índia comece a reduzir o seu consumo de HFCs, já os Estados Unidos e a Europa terão criado estratégias e alternativas cujo preço terá descido entretanto. “Temos tempo suficiente, e por essa altura as nações desenvolvidas já terão adotado isso e criado um mapa para nós”, disse Krishan Sachdev, gestor da fabricante indiana Carrier Midea India. “Não haverá impacto até lá”.

Texto editado por Mariana de Araújo Barbosa.

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