Depósitos sobem, mas portugueses preferem o Estado

Em 2016, o saldo dos depósitos engordou em mais de dois mil milhões, mas representa apenas 30% do valor angariado pelos produtos do Estado. No banco, quase um terço do dinheiro está à ordem.

Em 2016, o montante aplicado em depósitos voltou a crescer, mas a um ritmo mais lento, com os portugueses a preferirem colocar as suas poupanças nos produtos do Estado. No final do ano, as famílias tinham um total de 142.222 milhões de euros em depósitos a prazo e à ordem, segundo dados divulgados hoje pelo Banco Central Europeu (BCE). Ou seja, mais 2.048 milhões face aos 140.174 milhões que estavam depositados no final de 2015. O valor aplicado em depósitos representa apenas 30%, em comparação com os 6.934 milhões de euros que os aforradores colocaram nos produtos de poupança do Estado, no ano passado.

Evolução dos depósitos em 2016

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Fonte: BCE (valores em milhões de euros)

O montante que entrou nos depósitos, em 2016, representa menos de metade face aos 5.554 mil milhões de euros captados no ano anterior. Esta quebra reflete a busca das famílias por retorno, numa altura em que as taxas de juro oferecidas pelos bancos nos novos depósitos a prazo — tradicionalmente o produto de poupança preferido dos portugueses — se encontram em mínimos históricos. Os últimos dados disponibilizados pelo Banco de Portugal, relativos a novembro do ano passado, indicam que os bancos ofereceram uma taxa de juro média de 0,34% pelas novas aplicações em depósitos a prazo. Trata-se do valor mais baixo, pelo menos desde 2000.

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Muitos portugueses preferiam assim direcionar as suas poupanças para os produtos do Estado, onde conseguem captar rentabilidades superiores. Em 2016, o Estado conseguiu captar quase sete mil milhões de euros em produtos financeiros colocados junto do retalho, contando com um grande empurrão das novas obrigações do Tesouro de rendimento variável (OTRV). Só com este produto, o Estado conseguiu mais 3.450 milhões de euros através das três operações lançadas durante o último ano, apoiado pela oferta de remunerações bastante superiores às oferecidas pelos bancos.

Comparação dos montantes aplicados em 2016

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Fonte: BCE (valores em milhões de euros)

A outra metade do dinheiro foi canalizada para os certificados, com os certificados do Tesouro Poupança Mais (CTPM) a captarem a maior parte dos valores investidos. Em 2016, os portugueses aplicaram 3.355 milhões de euros em CTPM, procurando tirar partido da oferta de juros também acima da banca. No primeiro ano, este produto oferece uma taxa de juro bruta de 1,25%, sendo que quem esperar pela maturidade do produto (cinco anos) pode atingir uma remuneração média de 2,25%, em termos brutos. Bem acima dos da taxa dos depósitos a prazo.

A tendência de quebra das remunerações dos depósitos a prazo acompanha o rumo descendente das Euribor, que se mantêm em valores negativos. Mas esta também decorre do desinteresse dos bancos em captar recursos, num altura em que reequilibraram os seus rácios e em que o Banco Central Europeu cede liquidez ilimitada. Tendo em conta essa realidade, a prioridade dos bancos passa agora por maximizar os seus proveitos pela via das comissões e do crédito.

No banco, mas à ordem

A remuneração oferecida nos depósitos a prazo é de tal forma baixa que os aforradores preferem ter o dinheiro disponível na conta à ordem. Em 2016, os valores à ordem ascendiam a 43.302 milhões de euros, o que representa o valor mais elevado de sempre, tendo em conta um histórico que remonta ao início de 2003. Já os montantes aplicados em depósitos a prazo, ascendiam na mesma altura a 98.657 milhões de euros, o valor mais baixo desde agosto de 2011.

Esta distribuição leva a que quase um terço dos depósitos detidos pelos portugueses no final de 2016, estivessem à ordem. Mais em concreto 30,5%, o que representa um novo máximo histórico face ao último recorde atingido em julho do ano passado. Algo que é fácil de explicar numa altura em que há bancos que oferecem uma taxa de juro de 0% nos depósitos a prazo. É o que acontece, por exemplo, com todos os depósitos a prazo do BPI. Já a CGD vai passar também a não remunerar este tipo de aplicações já a partir de março. Uma decisão que acontece depois de o banco público ter sido aquele que mais cortou na remuneração dos depósitos a prazo no último ano.

E todos os sinais apontam para que a tendência de juros baixos se mantenha durante alguns anos. Ou pelo menos enquanto a entidade liderada por Mário Draghi não inverter o rumo à política de juros historicamente baixos. Os futuros para a Euribor a 3 meses, colocam os juros em terreno negativo até março e 2019. Só a partir dessa altura o indexante deverá assumir valores cada vez mais positivos, mas com um movimento de subida muito gradual, e pouco vantajoso para quem aprecia colocar o seu dinheiro a render em depósitos a prazo.

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