Economia portuguesa ainda desperdiça mais de 44 mil jovens licenciados

  • Margarida Peixoto
  • 19 Maio 2017

O PIB cresceu 2,8% no primeiro trimestre deste ano. E a taxa de desemprego diminuiu. Mas, mesmo assim, ainda há milhares de jovens que não estudam, nem trabalham.

Nos primeiros três meses de 2017, a economia nacional cresceu ao ritmo mais elevado em quase dez anos. A taxa de desemprego caiu para 10,1%, contrastando com os 12,4% registados um ano antes. Mas, mesmo assim, há 44,2 mil jovens licenciados que não trabalham, nem estudam. Porquê?

Em Portugal, o número de jovens licenciados que não trabalham nem estudam, até tem vindo a diminuir. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, no primeiro trimestre deste ano eram 44,2 mil os jovens com idades entre os 15 e os 34 anos que se encontravam nestas condições. Este é o valor mais baixo desde o segundo trimestre de 2011 mas, mesmo assim, ainda representa uma taxa de 8,8% no total de jovens licenciados destas idades.

Número de jovens que nem estuda, nem trabalha diminui

Fonte: INE

Os jovens que entram nesta categoria não estão a estudar, nem em qualquer outro tipo de ação de formação, nem tiveram atividade remunerada durante o período de referência do inquérito — independentemente de a terem procurado, ou não. Os dados do INE mostram que, no total, a maioria dos jovens “nem-nem” são desempregados (perto de 60%), mas ainda há cerca de 40% que são inativos, isto é, que não não têm trabalho nem o procuraram.

Porque é que isto acontece? Tem sobretudo que ver com as qualificações em causa. “Às vezes a formação que as pessoas têm não corresponde à procura”, avança Filipe Garcia, economista do IMF – Instituto de Mercados Financeiros. João Cerejeira, professor na Universidade do Minho, vai mais longe: “Em Portugal há cursos com um perfil de especialização muito grande. Quanto mais especializada é a formação, mais difícil é encontrar emprego nessa área”, explica.

Além disso, lembra, há a questão salarial: “Quem tem determinados cursos tem uma exigência salarial maior e, por isso, pode estar mais tempo à espera até encontrar uma oferta de emprego que vá mais ao encontro das suas expectativas.”

"Qualquer pessoa desempregada, ou que não está em formação, está-se a desqualificar.”

Filipe Garcia

Economista do IMF - Instituto de Mercados Financeiros

Apesar de tudo, o grupo dos jovens licenciados que caem nesta categoria foi o que registou uma redução homóloga mais acentuada: caiu 28%. Entre os jovens com menos qualificações académicas — formação ao nível do ensino básico — a queda face ao primeiro trimestre de 2016 foi de 15%, semelhante à registada no grupo dos jovens com formação ao nível do ensino secundário (14%).

Ainda assim, as consequências para a economia são relevantes. “Qualquer pessoa desempregada, ou que não está em formação, está-se a desqualificar”, diz Filipe Garcia. “Há uma desvalorização do capital humano”, corrobora João Cerejeira. “É muito preocupante porque é um fator produtivo potencial, que está na altura das suas maiores capacidades e que não está a ser aproveitado”, concretiza ainda outro economista, que preferiu não ser identificado.

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