Na Suécia, até Deus aceita pagamentos via app

  • Bloomberg
  • 20 Maio 2017

Número crescente de paróquias suecas começou a receber doações através de aplicações móveis.

Catedral de Uppsala aceita cartões de crédito.Pixabay

Na sociedade que menos usa dinheiro vivo no planeta, agora até Deus aceita pagamentos digitais. Um número crescente de paróquias suecas começou a receber doações através de aplicações móveis. A catedral de Uppsala, do século XIII, também aceita cartões de crédito.

O esforço das igrejas para acompanhar os novos tempos é o último sinal da rápida mudança da Suécia para um mundo sem notas e moedas. A maior parte das agências bancárias do país deixou de trabalhar com dinheiro vivo, ao mesmo tempo que algumas lojas e museus agora só aceitam plástico. E até num mercado ou feira da ladra é provável que o vendedor peça para ser pago através da aplicação Swish, muito popular na Suécia, e não com dinheiro.

“Há quinze anos eu levantava todo o meu salário e andava com o dinheiro na carteira e, por isso, sabia exatamente quanto ainda tinha. Hoje em dia, nunca ando com dinheiro”, explica Lasse Svard, vigário da paróquia de Jarna-Vardinge, a cerca de 50 quilómetros ao sul de Estocolmo.

Desaparecimento do dinheiro

A aversão dos suecos ao dinheiro vivo é cada vez mais visível também nos dados sobre a oferta monetária. Segundo a agência sueca de estatísticas, as notas e as moedas em circulação caíram para uma média de 56,8 mil milhões de coroas (seis mil milhões de euros) no primeiro trimestre deste ano. Esse foi o nível mais baixo desde 1990, mais de 40% abaixo de pico registado em 2007, com o ritmo do declínio acelerado em 2016.

De acordo com o banco central, que também está a estudar a possibilidade de lançar a sua própria moeda digital, a principal razão para o desaparecimento é a inovação técnica.

A vice-presidente do Riksbank, Cecilia Skingsley, observa que os suecos foram os primeiros a adotar computadores pessoais e telemóveis (lembra, por acaso, dos telefones Ericsson?) e que os bancos do país agiram rapidamente para criar estruturas para todo o setor como cartões de débito, cartões de crédito e a app Swish, que tem 5,5 milhões de utilizadores e é propriedade dos maiores bancos do país. Os suecos também parecem confiar nesses sistemas, disse a resposável, em entrevista recente em Estocolmo.

Impulso para inovação

“Foi criado um impulso para a inovação na Suécia para chegar a alternativas para o dinheiro com bom custo-benefício e fáceis de usar”, disse Skingsley. É provável que o dinheiro “quase desapareça” como forma de pagamento no setor privado, disse ela.

Mas uma sociedade sem dinheiro também tem desafios e críticos. Muitos pensionistas têm dificuldades para fazer pagamentos no mundo online e os defensores da privacidade lamentam o facto de o Estado estar a comprar um maior controlo sobre o que cidadãos fazem. Existem também preocupações relacionadas com a vulnerabilidade de uma sociedade sem dinheiro em caso de um ataque ou de grandes blackouts.

Mas parece que, por enquanto, os benefícios — incluindo menores custos corporativos, maior controlo sobre a receita tributária e o aumento da segurança em relação aos criminosos — superam os inconvenientes.

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