Portugal assiste a mudança geracional com mais alunos nos cursos científicos

  • Lusa
  • 12 Setembro 2017

Em 2015, 28% dos diplomados pelo ensino superior em Portugal graduaram-se em áreas científicas, tecnológicas, de engenharia e matemática.

As áreas científicas, tecnológicas, de engenharia e matemática atraem cada vez mais estudantes no ensino superior, refere um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgado esta terça-feira, que considera que “Portugal está a viver uma mudança geracional” nas escolhas de áreas de estudo.

As áreas de engenharia, indústria e construção são aquelas que melhor representam o salto geracional em termos de escolha de áreas de estudo, aponta o relatório Education at a Glance 2017 da OCDE, dedicado a analisar o estado da educação nos países parceiros.

“Enquanto há apenas 15% de diplomados em engenharia, indústria e construção com idades entre os 25 e os 64 anos, esta área representou a que mais graduados formou em 2015 no ensino superior (21%, que comparam com uma média de 14% na OCDE)”, refere o relatório. O documento acrescenta que nas áreas de saúde, cuidados e bem-estar, que também atraem cada vez mais alunos portugueses, há uma percentagem total de diplomados de 14%, mas em 2015 foi responsável por 19% dos diplomados no ensino superior.

“Em 2015, 28% dos diplomados pelo ensino superior em Portugal graduaram-se em áreas científicas, tecnológicas, de engenharia e matemática [designadas pela sigla STEM], acima da média da OCDE de 23%”, aponta o relatório. Por outro lado, “apenas 1% dos estudantes obteve um diploma em tecnologias de informação e comunicação (TIC), uma das percentagens mais baixas de todos os países da OCDE”, sendo que a média da OCDE é de 4%.

A OCDE destaca ainda que a desigualdade de género que geralmente está patente nestas áreas de estudo — que atraem mais homens do que mulheres — é menos pronunciada em Portugal, onde as percentagens de mulheres a frequentar estes cursos superiores é superior à média dos países parceiros da organização.

A OCDE fez ainda contas ao investimento público no ensino superior entre 2010 e 2014, os anos da crise económica e da intervenção externa da troika, destacando que houve uma quebra de 9% na despesa com o ensino superior público. “Como o número de alunos no ensino superior também caiu nesse período, a quebra na despesa por aluno fixou-se nos 3%, mas contrariando um crescimento médio de 6% nos países da OCDE”, aponta o relatório.

Os 9.984 euros gastos por aluno do ensino superior (incluindo investigação científica) em 2014 em Portugal ficam milhares de euros abaixo da média de 13.507 euros da OCDE e dos 13.523 euros da média da União Europeia a 22 (UE22).

85% dos diplomados tem emprego

Em 2016, a percentagem de portugueses entre os 25 e os 34 anos com um diploma do ensino superior era de 35%, um crescimento de 16 pontos percentuais face a 2005. Já a percentagem de diplomados entre os 25 e 64 anos era em 2016 de 24%, abaixo da média da OCDE de 37%. Em 2016, 85% dos diplomados com idades entre os 25 e os 64 anos tinha emprego.

Entre a geração mais jovem (25-34 anos), o nível de escolaridade não revela ter grande influência na empregabilidade, dado que a taxa de desemprego nesta faixa etária se situa aproximadamente entre os 10% e os 15%, com o desemprego a afetar um pouco menos quem tem pelo menos uma licenciatura.

Em termos salariais, ter um diploma do ensino superior pode representar um salário quase 75% superior face a quem apenas concluiu o ensino secundário.

Já ter ficado aquém do 12.º ano de escolaridade pode representar uma diferença salarial de cerca de 25% a menos face a quem concluiu a escolaridade obrigatória.

Ensino profissional melhora taxas de conclusão do secundário

O relatório da OCDE destaca ainda que metade dos alunos do ensino secundário reprova pelo menos um ano ao longo deste nível de ensino, mas o ensino profissional tem-se mostrado eficaz no combate ao abandono antes da conclusão da escolaridade obrigatória.

A conclusão do ensino secundário em Portugal “permanece um desafio significativo”, onde metade dos alunos não consegue concluir este nível de ensino dentro do período da sua duração: três anos. Além disso, aponta a OCDE, de todos os países com dados disponíveis, Portugal tem a maior percentagem de alunos que abandonam o sistema de ensino sem concluírem o 12.º ano em cinco anos: 35%, que comparam com uma média de 21% na OCDE.

A média nos países da OCDE que disponibilizam informação sobre este tema é de 68% de conclusão. Já em Portugal, a taxa de conclusão sobe para os 61% se se considerar um período de cinco anos, ou seja, duas retenções, ainda assim significativamente abaixo da média da OCDE de 75% para um período igual.

O relatório da OCDE destaca a aposta de Portugal no ensino profissional, que em 2015 abarcava 45% dos alunos do ensino secundário, como forma de aumentar o número de graduados no ensino secundário ao mesmo tempo que promove uma ligação mais direta ao mercado de trabalho.

“Ao contrário de muitos países com dados disponíveis, o ensino profissional em Portugal é mais bem-sucedido em manter [na escola] até à graduação do que o ensino científico-humanístico. Enquanto apenas 59% dos alunos no ensino científico-humanístico concluem o ensino secundário em cinco anos, a taxa é de 64% no ensino profissional”, refere o relatório.

A taxa de não conclusão do ensino secundário na faixa etária entre os 25 e os 34 anos é de 31%, “quase o dobro da média da OCDE e uma das mais altas entre os países da OCDE”.

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