Paulo Teixeira Pinto quebra o silêncio e desvenda a “cor do medo”

  • ECO
  • 10 Novembro 2017

O ECO falou com a jornalista Sílvia de Oliveira, que colocou um ponto final no silêncio de Paulo Teixeira Pinto, antigo presidente do BCP, e que escreveu a biografia intitulada "De Que Cor é o Medo".

Dez anos passaram sobre o fim da guerra que colocou frente a frente Paulo Teixeira Pinto, o então presidente do BCP, e Jardim Gonçalves, o seu antecessor. Foram anos de silêncio, fora da atenção mediática, agora rompido na sua biografia autorizada, escrita por Sílvia de Oliveira. O ECO falou com a autora, sobre um processo de escrita que a própria descreve repetidamente como tendo sido “intenso”, marcado por uma “contenção” por parte do biografado e de alguns dos seus amigos e próximos.

Sílvia conheceu Paulo Teixeira Pinto em 2005, enquanto jornalista a acompanhar o setor bancário. Paulo acabava de assumir o cargo de presidente do Banco Comercial Português (BCP), num mandato que viria a revelar-se atribulado para o banqueiro. “Ficámos muito surpreendidos com a escolha de Jardim Gonçalves”, recordou na apresentação do livro, a par das viagens “emocionantes” ao Porto para testemunhar as assembleias gerais do banco.

Por duas vezes a jornalista abordou Teixeira Pinto para escrever a sua biografia e por duas vezes recebeu um “não” como resposta. Mas foi à segunda, após alguma insistência, que Sílvia deu início à escrita da biografia autorizada, no final do ano passado. O livro aborda não só a mediática guerra aquando da sua presidência do BCP como também a vida familiar e amorosa do biografado.

Olhando para as primeiras conversas com o banqueiro, a autora recorda a tensão e o ambiente constrangedor entre os dois. Um dos primeiros episódios passou-se num escritório da Abreu Advogados. Na altura, Sílvia escrevia sobre a atual relação amorosa do banqueiro e Paulo estava a recuperar de uma operação. “Estávamos todos muito inibidos, ele porque estava a contar-me coisas da sua vida pessoal, e eu porque me sentia a invadir a intimidade dele”, afirmou. Com o passar dos meses e o progresso na escrita do livro, “as conversas foram fluindo”, tornando-se “mais fáceis”.

Ser banqueiro como acidente de percurso?

O assunto BCP foi aquele sobre o qual Paulo revelou maior dificuldade em falar. “Deixámos para o final, inclusive”, disse Sílvia. Dez anos de silêncio sobre o assunto levantavam constrangimentos ao biografado mas, à medida que a autora foi lançando as perguntas, Paulo foi cedendo e tornava-se cada vez mais evidente que “a biografia não podia saltar este ponto”, conta.

O Presidente de Administração do Millennium/BCP, Paulo Teixeira Pinto, durante a conferência de imprensa para anunciar os resultados do primeiro semestre, 24 de julho de 2007, na sede daquela instituição bacária, em Lisboa. INÁCIO ROSA/LUSA

Em dois capítulos, Sílvia de Oliveira escreveu sobre a ascensão e a passagem de Paulo Teixeira Pinto pela presidência do banco português. A autora falou com alguns dos envolvidos nos confrontos dentro do banco, nomeadamente os membros do conselho de administração Filipe Pinhal e Filipe Botton, e com o próprio Jardim Gonçalves.

Paulo foi sabendo dessas conversas e foi tomando conhecimento do seu conteúdo, sem ter levantado quaisquer tentativas de censura. “Aliás, eu também permiti que ele fosse lendo as provas, já no fim de tudo feito, e que estivesse a par de tudo”, disse, justificando-o primeiramente “por uma questão de respeito”. “Ele foi acompanhando tudo, mas eu não tive de mudar absolutamente nada”, resumiu.

"Foi preciso ter algum cuidado na forma de escrever mas não foi preciso omitir pormenores.”

Sílvia de Oliveira

Apesar da surpresa em 2005, Sílvia não considera que o percurso de Paulo enquanto banqueiro tenha sido um ‘acidente de percurso’. A autora relembra a entrada de Teixeira Pinto para o banco em 1995, após a derrota do Governo de Cavaco Silva nas eleições legislativas, e a carreira progressiva que se desenrolou nos dez anos seguintes e culminou na chegada à presidência em 2005. “Eu diria que dez anos, com os mais de dois anos que teve na presidência, é muito tempo para ser um acidente”, admite.

Um projeto “estimulante”

A escrita da biografia surge numa altura em que Sílvia se encontrava desempregada. Após 25 anos de trabalho enquanto “jornalista dos pés à cabeça”, viu na escrita do livro “um projeto interessante para fazer”. “Ficar assim, de repente, sem nada por fazer, foi um impacto muito forte”, explica.

Sílvia refere que a escrita desta obra “surgiu na altura ideal”, e que lhe conferiu um “crescimento interior”.

"Foi uma oportunidade fantástica para mim enquanto pessoa conhecer alguém que me obrigou a crescer, a pensar, a viver formas novas de penar.”

Sílvia de Oliveira

A ironia também teve um papel na escrita desta biografia. Na última entrada do prólogo, Paulo Teixeira Pinto escreve que, se pudesse escolher, preferia morrer “de pé”. Pois foi a intensidade de todo o processo de escrita do livro que provocou “uma inflamação gigante no nervo ciático” de Sílvia, recorda, obrigando-a a ler a prova final do livro, também ela, “de pé”.

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