Como os locais: Banguecoque como destino

  • ECO
  • 7 Dezembro 2017

Depois de viver em Londres, Hong Kong e Kuala Lumpur, Ana Cruz aterrou em Banguecoque. E para já não pensa sair desta cidade onde se sente em casa.

Aos 38 anos de idade, Ana Cruz leva já 14 a viver fora de Portugal. E tendo em conta o entusiasmo que coloca em cada palavra que usa para descrever a experiência, tudo indica que a aventura vai continuar por muito mais tempo. A viver em Banguecoque, na Tailândia, desde julho de 2015, é professora de psicologia e confessa que dar aulas “é uma paixão”. Aliás, foi precisamente o convite para lecionar numa escola internacional que a fez sair de Londres e abraçar a experiência de ir viver para outro continente, em 2009. A cidade de Hong Kong, na China, acolheu-a com uma oferta de emprego que, diz, mudou a sua vida por completo. Seguiu-se Kuala Lumpur, na Malásia, em 2014, e finalmente Banguecoque.

Antes de se mudar para a capital da Tailândia, Ana Cruz já lá tinha estado em diversas ocasiões e recorda-se bem da sensação que teve quando ali aterrou pela primeira vez: “O que mais me impressionou foi o cheiro intenso das ruas, o caos, a velocidade, a imensa diversidade de pessoas, e também o que é permitido fazer ou não. Em Banguecoque vê-se um pouco de tudo e eu gosto disso. Gosto da falta de certezas e da relatividade das coisas, das pessoas e das suas idiossincrasias.”

Apesar de reconhecer que “a adaptação a Banguecoque não é fácil”, explica que no seu caso não foi muito custoso, uma vez que “já tinha vivido noutras cidades de grande dimensão na Ásia”. O mais difícil, diz em entrevista por e-mail, prende-se com o ritmo acelerado da vida: “A atividade diária começa cedo. Por exemplo, saio para trabalhar todos os dias às seis e meia da manhã e a vida já se faz nas ruas de Banguecoque como se fosse meio-dia.”

Ensinar empatia pelo outro

Interessante é, na sua perspetiva, trabalhar numa escola internacional, sendo que em cada país por onde passou, “a experiência é diferente”. “A maneira como dou aulas tem que se adaptar à cultura do país em que estou, pois cada cultura tem uma maneira diferente de ver o propósito e o valor da educação”, afirma, salientando que “Banguecoque não é o resto da Tailândia”. “Num país primariamente agrícola e que vive muito do turismo, Banguecoque é uma espécie de ilha que está a passar por um desenvolvimento económico mais rápido do que o resto do país”, explica. Além disso, pelo facto de os seus alunos apresentarem um nível económico privilegiado, sente que “ensinar-lhes acerca da disparidade e da pobreza acaba por ser um desafio”. Nesse sentido, uma das suas prioridades enquanto professora passa por “fazer com que os alunos, qualquer que seja a sua cultura, sintam empatia em relação às comunidades onde vivem e também além-fronteiras, num mundo onde a globalização é o presente e o futuro”.

Banguecoque “é casa”

O mais difícil para Ana Cruz passa por gerir as saudades da família. “Somos muito chegados. Os anos passam e não se torna mais fácil, pelo contrário”, refere a professora, que mantém uma ligação muito forte com os pais e o irmão a viver em Lisboa. “Cada vez que estou com eles quero aproveitar ao máximo os momentos que temos”, afirma, e viajar em família é uma das formas que encontram para matar saudades. Por isso, no ano passado, a família juntou-se a Ana Cruz e ao companheiro, de nacionalidade inglesa, e juntos passearam por Banguecoque, pelas praias do sul da Tailândia e pelo Camboja.

Mas apesar do forte laço que a une a Portugal, agora sente que Banguecoque “é casa” e não pensa em sair da cidade “para já”. “Quando não estou em Banguecoque começo a sentir falta de aqui estar. O caos e a incerteza da cidade atraem-me, talvez por ser um lugar muito diferente daquele onde cresci e que agora me parece uma aldeia comparando com Banguecoque com os seus 10 milhões de habitantes”, salienta a alfacinha de gema. Feliz com a vida que tem, Ana Cruz resume facilmente o que sente nesta experiência: “É um privilégio que não tomo como garantido e que posso agradecer à minha família pelas oportunidades que me proporcionaram na vida e me trouxeram até aqui.”

Entende que “casa é onde nos sentimos bem”, razão por que quando aterra em Lisboa também se sente imediatamente em casa. “Mas mudei tantas vezes nos últimos 14 anos que aprendi a gostar da mudança, aliás ela é até um pouco viciante”, justifica, lembrando que de cada vez que toma a decisão de mudar de país está a fazer uma escolha: “A de que a experiência que quero ter só eu posso controlar e determinar.”

O que também a ajuda a sentir-se confortável nos destinos por onde vai passando são os amigos que faz por todo o lado: “Posso dizer que nos últimos 14 anos tenho tido muitas mini-famílias de amigos e todos já nos mudámos para países diferentes mas ainda nos visitamos”.

Vantagens de viver em Banguecoque

Entre as vantagens de viver em Banguecoque, Ana Cruz não hesita em destacar o calor que se sente o ano inteiro. De tal forma que hoje em dia já não consegue “estar com temperaturas abaixo dos 18 graus”. “Aqui a temperatura nunca desce abaixo dos 24 graus à noite em janeiro, por isso, quando vou a Portugal no Natal pareço uma cebola com tantas camadas de roupa e queixo-me do frio o tempo inteiro”, revela com sentido de humor.

Além disso, considera que a vida em Banguecoque “é fácil e conveniente”. “Nunca me sinto frustrada por não saber o que fazer, pois há sempre tanto para ver e fazer, desde a parte antiga da cidade à parte mais moderna, com muita arte, música, cinema, literatura”. Outro ponto favorável é que “o nível de vida é barato”. “Viver em Banguecoque é extremamente interessante e acho que o mundo ocidental talvez ainda considere que é uma cidade subdesenvolvida, mas não é. Muito pelo contrário”, esclarece.

A terminar, destaca a gentileza e o entusiasmo pela vida” que os tailandeses emanam, acolhendo-a “de braços abertos”. “É um povo extremamente mai pen lai — que, em tailandês, significa ‘sem problema’ — o que revela a sua atitude descontraída, assim como um povo sanuk, isto é, divertido”, remata.

Seis programas a não perder

  • Visitar monumentos e templos budistas, nomeadamente, o palácio real, o Buda de Esmeralda e o Buda Reclinado.
  • Chinatown com os seus bairros, oficinas antigas, becos cheios de gente e lojas onde se pode comprar de tudo um pouco.
  • Passear e conviver à noite, experimentar a deliciosa comida de rua e visitar os mercados noturnos.
  • Bares e restaurantes com vistas imperdíveis, como o Above 11 e o restaurante Vertigo no topo do hotel Banyan Tree.
  • Ouvir jazz nos clubes da parte antiga da cidade.
  • Saborear pratos tradicionais tailandeses como o Tom Kha Gai; Green, Yelow, Red Curry; Stir Fried Vegetables; Pad Thai e Chicken Satay.

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