Dez temas para aquecer a consoada. De que lado da mesa fica?

  • ECO
  • 24 Dezembro 2017

Com a família reunida, são vários os temas que vão encher a mesa da consoada. Da economia à política, passando pela loucura com a bitcoin. E, claro, as táticas para ver o Benfica pentacampeão.

Foi um ano de altos e baixos, como tantos outros. Mas, neste final de ano, são vários os temas que prometem aquecer as conversas à mesa da consoada. Desde o vigor da economia nacional, a Mário Centeno no Eurogrupo, mas também à pressão sobre o Executivo com o caso Raríssimas, são vários os pratos quentes a servir. O ECO elegeu dez temas, que passam ainda pela Altice, a bitcoin e até o Benfica, apresentando-lhe os argumentos a favor e contra para cada um. Só tem de escolher o seu lado da mesa.

Crescimento da economia veio para ficar?

A economia portuguesa superou as expectativas e deverá fechar 2017 a crescer 2,6%. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego está a cair consistentemente, recuando para valores abaixo dos dois dígitos. As exportações continuam a crescer e o investimento já reanimou. Contudo, as importações também estão a subir a bom ritmo, o crédito ao consumo acelerou e Portugal conta com uma ajuda relevante da política acomodatícia do Banco Central Europeu (BCE).

A favor

  • O PIB deverá crescer 2,6% em 2017, significativamente acima dos 1,5% registados em 2016;
  • A taxa de desemprego deverá ficar em 9,2%, um número bem abaixo dos 11,1% verificados ainda em 2016;
  • O crescimento tem sido suportado pelo investimento e pelas exportações, que aceleraram face a 2016. As exportações devem fechar 2017 a crescer 8,3% e o investimento 7,7%.

Contra

  • Problemas de fundo da economia permanecem: o país está sobre-endividado, com o total do endividamento das empresas, famílias e administrações públicas a superar os 720 mil milhões de euros;
  • As principais instituições internacionais que acompanham Portugal (Comissão Europeia, FMI, OCDE) avisam que Portugal está a perder a oportunidade que o crescimento dá para corrigir as suas debilidades;
  • As famílias estão a beneficiar dos juros zero do BCE para as principais operações de refinanciamento e negativos para os depósitos. Quando a política for invertida, serão os jovens e os pobres os mais prejudicados, diz o Banco de Portugal.

Centeno é um herói?

Foi em 2017, com Mário Centeno como ministro das Finanças, que Portugal conseguiu baixar o défice orçamental para menos de 3% do PIB e sair do Procedimento por Défice Excessivo. O Estado recapitalizou a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o acordo para a venda do Novo Banco foi fechado. Contudo, a folga orçamental dada pelo crescimento económico acima do previsto não resultou num défice significativamente abaixo da meta: as margens foram sendo gastas ao longo do ano, alimentando despesas estruturais. Além disso, a dívida pública continua perto dos proibitivos 130% do PIB e o ritmo de crescimento das importações aumentou.

Sim

Não

  • O país teve a ajuda da retoma da zona euro, que deverá ter crescido 2,2%, o ritmo mais acelerado da última década;
  • Apesar da forte melhoria da economia, Centeno não foi significativamente além da meta de 1,5% do PIB para o défice orçamental (estima-se que fique em 1,4%);
  • Os bancos continuam a braços com um peso elevado de crédito malparado: o peso diminuiu de 8,2% em janeiro para 7,8% em outubro.

Rio ou Santana? Quem se segue a Passos?

Rui Rio e Pedro Santana Lopes enfrentam-se dia 13 de janeiro nas eleições diretas onde os militantes vão escolher o sucessor de Pedro Passos Coelho. Desde as eleições legislativas de 2015 que o PSD tem vindo a descer nas sondagens. Desde que são candidatos à liderança do partido, Rio e Santana têm discutido… sobre quando e onde vão discutir. Ambos têm passados diferentes: Rio foi deputado, vice-presidente do PSD e presidente da Câmara do Porto; Santana passou pela Câmara de Lisboa, já foi primeiro-ministro (durante meses) e era Provedor da Misericórdia de Lisboa até ter decidido candidatar-se. Já têm, pelo menos, uma divergência: Rio é a favor da eutanásia, Santana é contra.

Rui Rio

  • Diz ser “mais estável” do que Santana, que está a fazer as mesmas “trapalhadas” que fazia em 2004;
  • Endireitou as contas da Câmara do Porto e argumenta que com o PSD no Governo o défice já seria zero;
  • Quer baixar a carga fiscal que incide sobre os portugueses, principalmente o IRC das empresas.

Pedro Santana Lopes

  • Diz ter estado sempre ao lado de Passos Coelho, aparecendo como herdeiro, até por ter apoios passistas, como o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares;
  • É crítico da ação da União Europeia, apontando erros à Comissão Europeia e ao BCE;
  • Defende a diminuição da despesa pública, no seu programa fala de um “Estado abusador” nos impostos e diz ser “urgente” que o país cresça acima dos 3%.

Caso Raríssimas: Quem tem culpa?

Já todos ouviram falar da reportagem da TVI que deu início às revelações sobre a associação Raríssimas: Paula Brito e Costa acusada pelos funcionários de gestão danosa desta IPSS — criada para apoiar pessoas com doenças mentais e raras — para ter uma vida de luxo. A própria rejeita as acusações e aponta o dedo a outros na organização, num caso que já chamou à baila o ministro do Trabalho e da Segurança Social, Vieira da Silva, e a mulher, Sónia Fertuzinhos.

Denúncias:

  • Paula Brito e Costa, de acordo com testemunhos de antigos funcionários, faria deslocações fictícias, além de comprar vestidos de alta-costura e gastar dinheiro em supermercados para fins pessoais com dinheiros públicos.
  • O secretário de Estado da Saúde Manuel Veloso, que se demitiu na sequência das revelações, receberia 3000 euros mensais para fazer trabalhos de consultadoria para a IPSS. Revelou-se ainda que este tinha uma relação pessoal com Paula Brito e Costa, com quem fazia viagens pagas pela IPSS.
  • O salário da presidente da Raríssimas era de três mil euros mensais, a que acresciam 1.300 euros em ajudas de custo. Além disto recebia 816 euros de um plano poupança-reforma e ainda 1.500 euros em deslocações.

Defesa:

CTT entram em contenção de custos

Os últimos dias do ano foram marcados pela apresentação do plano de reestruturação dos CTT. Ao fim de anos de quebras no negócio principal — a entrega de correio — a empresa viu-se obrigada a reduzir custos de forma drástica. Mil trabalhadores que vão deixar a empresa, 30 imóveis alienados, fecho de algumas lojas e conversão de outras em postos de correio, corte do dividendo a distribuir aos acionistas, redução dos salários da administração, suspensão dos bónus e limites aos aumentos salariais: é este o plano dos CTT para conseguir poupar 45 milhões de euros a partir de 2020. Vai resultar?

Sim

  • A quebra das receitas no segmento do correio vai continuar, mas a empresa tem uma oportunidade no segmento das encomendas, que está a crescer a um ritmo acelerado. Francisco Lacerda quer voltar-se para o digital e aproveitar o crescimento do comércio eletrónico.
  • O Banco CTT, criado em 2016, continua a dar prejuízo, mas a administração mantém as previsões iniciais: chegar ao break even em 2019. Se isso acontecer, esta poderá começar a ser uma fonte de receitas para o grupo.
  • A empresa vai perder mil trabalhadores, mas a administração acredita que vai conseguir funcionar com menos pessoas. A solução será a automatização dos centros de processamento.

Não

  • O plano vai permitir à empresa poupar 45 milhões de euros a partir de 2020. O corte de custos é significativo, mas não são conhecidas medidas para aumentar receitas.
  • Se os CTT já não conseguem cumprir os mínimos do serviço postal, segundo a avaliação que foi feita pela Anacom, como vão fazê-lo com a redução de 8% da força de trabalho que está prevista?
  • A queda do correio não é de hoje. Desde 2016 que as receitas dos CTT estão a afundar, mas só agora é que o plano de reestruturação vai avançar. Se a intervenção tivesse sido feita mais cedo, um choque tão grande poderia ter sido evitado.

Altice quer comprar a TVI. Vai conseguir?

O negócio de compra da TVI pelos franceses da Altice já mexeu com o mercado de telecomunicações e media em Portugal. Mas o processo está longe de ficar concluído. Quais os pontos que a Altice tem a favor e contra si?

A favor

  • A Altice é um importante player internacional e irá reforçar a oferta televisiva da TVI;
  • Franceses já garantiram que a TVI vai manter a sua independência editorial;
  • Controlo estrangeiro? A TVI já é detida pelos espanhóis da Prisa, que também procuram reduzir a dívida.

Contra

  • A Altice comprou a Meo e está a despedir. Vai fazer o mesmo na Media Capital;
  • Esta operação de concentração vai dar poder à Altice para controlar os media em Portugal;
  • A Altice está muito endividada. Como é que a TVI vai beneficiar com isso?

Há uma bolha nos preços das casas?

Este ano foi marcado por uma aceleração dos preços das casas, em Portugal, para níveis anteriores aos da crise financeira. Há quem já questione se estamos perante uma bolha no setor imobiliário em Portugal. Estamos?

Sim

  • Os preços das casas cresceram 30% desde o mínimo da crise financeira, registado no segundo trimestre de 2013;
  • Tudo aponta para que os preços do imobiliário continuem a crescer. Os operadores do mercado antecipam que, nos próximos 12 meses, os preços das casas aumentem, em média, 5%;
  • O ambiente é propício à subida do preço das casas — com o aumento da concessão de crédito, os juros em mínimos, e os spreads em queda — e as autoridades mostram-se atentas. O Banco de Portugal pondera obrigar os bancos a apertar os critérios de avaliação para dar crédito.

Não

  • O aumento dos preços acontece após um período de profunda crise no setor imobiliário e num contexto de melhoria das perspetivas económicas que levam mais pessoas a comprar casa, bem como de maior abertura dos bancos para dar crédito.
  • A maior pressão sobre os preços das casas afeta os grandes centros urbanos como Lisboa e Porto face ao interesse dos investidores e o fascínio dos estrangeiros por Portugal. Nas restantes regiões a pressão altista sobre os preços é menor.
  • Apesar de estarem atentas à evolução dos preços, as autoridades não identificam para já o risco de uma bolha do setor imobiliário. O presidente do BCE, Mario Draghi, disse-o recentemente, e o mesmo aconteceu com o Banco de Portugal há poucos dias.

Bitcoin não para de subir. Temos bolha?

É um dos temas do momento, mesmo para quem é pouco entendedor desta coisa de bolsas e mercados financeiros. A bitcoin não para de subir e toda a gente fala dela. Temos bolha?

Sim

Não

  • A bitcoin é mais do que uma moeda digital. É o símbolo da blockchain, tecnologia vai revolucionar o sistema económico.
  • Quando a bitcoin valia 1.000 euros também falavam em bolha. E não rebentou.
  • Não é só a bitcoin que está a valorizar. Há mais moedas virtuais que estão a subir.

Benfica diz adeus ao penta?

Uma reunião familiar que se preze tem de discutir futebol. E o Benfica não deve fugir ao debate, sendo ou não adepto dos encarnados. Depois de quatro campeonatos seguidos, a equipa liderada por Rui Vitória vai deixar escapar o penta?

Sim

  • Os encarnados não apresentam uma regularidade exibicional como nos anos anteriores;
  • A venda de jogadores importantes torna impossível ao Benfica competir com os rivais;
  • O FC Porto e o Sporting estão bem e a revelar organização e competência dentro de campo.

Não

  • O Benfica está apenas a três pontos da liderança. E ainda há muita bola para correr até maio;
  • A eliminação da Liga dos Campeões e da Taça de Portugal obriga a manter foco exclusivo na liga;
  • O Benfica vai ao mercado na janela de inverno e tem dinheiro para comprar bons jogadores.

Redes sociais. Boas ou más?

Se antes as pessoas aproveitavam a mesa de Natal para estar com a família e pôr a conversa em dia, hoje a tendência é para que esse tempo seja passado, sobretudo, nas redes sociais. Será esta mudança de paradigma benéfica?

Sim

  • Encurtam as distâncias, sobretudo, quando a família está longe e não pode deslocar-se;
  • Facilitam a conversação e entretêm;
  • Permitem partilhar experiências.

Não

  • Mostram que há uma maior dependência das redes sociais;
  • As pessoas deixam de se relacionar, isolando-se mais;
  • Promovem a competição (por exemplo, quem publica mais fotos no Instagram).

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