Metade dos reembolsos no crédito da casa acabam com a dívida

Os portugueses têm amortizado os empréstimos à habitação num valor superior ao habitual. O Banco de Portugal admite que alta no imobiliário e juros baixos nos depósitos podem explicar o movimento.

Os portugueses estão a fazer mais amortizações aos empréstimos à habitação, mas não o fazem para trocar de casa ou mudar de banco em busca de melhores condições de financiamento. Um estudo do Banco de Portugal indica que cerca de metade dos reembolsos correspondem a amortizações que não estavam previstas no contrato e que permitem acabar com a dívida ao banco.

“No final de 2017, os reembolsos de empréstimos para habitação, calculados com base nas estatísticas monetárias e financeiras do Banco de Portugal, situavam-se em valores máximos dos últimos anos”, nota a instituição num estudo publicado junto com o Boletim Económico divulgado esta quinta-feira. Em setembro do ano passado, as amortizações chegavam perto de 1.000 milhões de euros.

Perante estes dados, o Banco de Portugal foi tentar perceber que razões poderiam estar por trás: os portugueses estariam a fazer os reembolsos previstos nos contratos de crédito à habitação ou teriam mudado o seu comportamento?

A primeira coisa que os economistas do banco central descobriram foi que, “no período mais recente, os reembolsos previstos no contrato representam cerca de 40% do total dos reembolsos, o que compara com cerca de 50% no caso dos reembolsos totais antecipados e de 10% no caso dos reembolsos parciais antecipados”. Os dados analisados pela equipa de especialistas vão desde setembro de 2009 a setembro de 2017.

E esta evolução não foi sempre assim. “Os reembolsos totais antecipados reduziram-se até meados de 2014 e aumentaram significativamente nos anos seguintes”, explica o banco, lembrando de seguida que estes reembolsos são determinados por decisões dos indivíduos “e, portanto, particularmente sensíveis à situação financeira dos mesmos”.

"A maior parte do montante dos reembolsos totais antecipados deve-se a devedores que não contraem um novo empréstimo à habitação, sugerindo que a troca de casa ou de banco tem um contributo reduzido para o dinamismo observado nos reembolsos do crédito à habitação.”

Economistas do Banco de Portugal

Além disso, os economistas do Banco de Portugal apuraram que “o número de reembolsos totais aumentou de forma considerável, passando a ser superior ao dos parciais”.

Chegados aqui, os peritos da instituição admitiram, com base na experiência passada, que estas amortizações totais dos empréstimos pudessem explicar-se pela necessidade de mudança de banco ou pela celebração de um novo contrato de empréstimo para compra de outra casa.

Mas não foi isso que os dados revelaram. “A maior parte do montante dos reembolsos totais antecipados deve-se a devedores que não contraem um novo empréstimo à habitação, sugerindo que a troca de casa ou de banco tem um contributo reduzido para o dinamismo observado nos reembolsos do crédito à habitação.” Estes são mais velhos, com idade próxima dos 48 anos de idade.

Então, excluídas as hipóteses habituais, o que explica esta aposta dos devedores na amortização total dos empréstimos à habitação? O Banco de Portugal não tem uma resposta definitiva para esta pergunta, mas no estudo avança com algumas hipóteses que têm em conta o enquadramento económico atual.

“O aumento dos reembolsos antecipados no crédito à habitação nos últimos anos pode estar relacionado com o aumento do diferencial entre as taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos e com o facto das taxas de juro dos depósitos se situarem em valores próximos de zero”, admitem os economistas.

Por outro lado, “num contexto de aumento significativo dos preços da habitação, estes reembolsos totais antecipados podem estar ainda associados à venda de imóveis sem envolver a contratação de novos empréstimos para compra de habitação por parte destes devedores“. Uma hipótese reforçada pelo facto de os dados relativos às transações de imóveis sugerirem que o “peso das vendas de imóveis usados no total de transações de imóveis aumentou consideravelmente desde 2009”.

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