Cottarelli sem apoio dos populistas em Itália. Mercados caem

Carlo Cottarelli aceitou formar Governo em Itália. Mas não tem apoio do Movimento 5 Estrelas e nem da Liga, que prometem meses de campanha contra o Executivo. Os mercados estão a reagir negativamente.

Carlo Cottarelli, antigo diretor do Fundo Monetário Internacional para as questões orçamentais, aceitou formar Governo em Itália. Contudo, esta escolha deve inflamar as divisões políticas no país. Tanto o líder do Movimento 5 Estrelas como o da Liga mostraram-se contra a opção do Presidente italiano. Assim, é de esperar que o nome de Cottarelli não passe no Parlamento, abrindo a porta a eleições antecipadas, “o mais tardar no início de 2019”. Os mercados, que começaram o dia a subir, estão a reagir negativamente a esta pressão: as ações afundam e os juros da dívida não param de subir.

No arranque do dia, as yields da dívida soberana italiana estavam a descer. Mas este alívio acabou por ser temporário — estão agora a subir 11,9 pontos base para 2,572%, tendo chegado a avançar para 2,644% durante a sessão. Isto está a levar a diferença entre as taxas de juro das dívidas soberanas italiana e alemã a subir para o nível mais alto desde novembro de 2013.

Em Portugal, que tal como a Itália está entre os países com maior dívida pública face ao PIB, os juros da dívida a dez anos seguem o mesmo rumo, avançando 8,9 pontos base para 2,024%. Já o euro interrompeu a subida, passando a perder 0,03% para 1,1647 dólares.

“Estamos a assistir a rally de alívio nos mercados europeus, a começar com o euro no overnight, com o risco de um ministro das finanças anti-euro em Itália a aliviar”, disse Michael Leister, estratega do mercado cambial do Commerzbank, no início da sessão. Contudo, o mesmo analista alertou logo que este alívio nos mercados seria “apenas de curto prazo”, acrescendo que Itália “apenas comprou tempo”.

“O problema é que aqueles que são contra e a favor do euro — que se vai tornar no tópico principal de uma potencial nova eleição — vão tornar-se mais radicais nas suas posições”, explicou, por seu turno, Nicola Nobile, economista sénior da Oxford Economics.

Euro em queda contra o dólar

E isto acabou mesmo por acontecer, com os líderes do Movimento 5 Estrelas e da Liga a afirmarem que o Presidente italiano, Sergio Mattarella, que escolheu Carlo Cottarelli para liderar o Governo, cedeu às pressões dos investidores e de países como a Alemanha quando decidiu vetar a decisão dos populistas de nomearem o economista eurocético Paolo Savona para ocupar o cargo de ministro das Finanças.

"O problema é que aqueles que são contra e a favor do euro — que se vai tornar no tópico principal de uma potencial nova eleição — vão tornar-se mais radicais nas suas posições.”

Nicola Nobile

Economista sénio da Oxford Economics

Guy Stear, chefe do departamento de análise sobre mercados emergentes e crédito, coloca a tónica do problema tanto para os investidores como para as agências de rating no “hiato de poder nos próximos meses”, enquanto se preparam as novas eleições, “no facto de a campanha eleitoral provavelmente se transformar num referendo ao euro” e ainda a “probabilidade de um governo ainda mais radical assumir o poder depois das eleições”.

“O resultado das próximas eleições parece mais ameaçadora do que nunca”, acrescenta o economista citado pela Reuters. “Os investidores terão de ser corajosos se quiserem manter os seus títulos de dívida a dez anos a 220 pontos base acima da bund alemã”.

Além do mercado de dívida e cambial, as bolsas europeias também estão a reagir negativamente. O italiano FTSE Mib está a cair 1,14% para 22.147,60 pontos, enquanto o espanhol Ibex está a ceder 0,17% para 9.810 pontos. Por cá, o PSI-20 não escapa a esta tendência. A bolsa nacional recua 1,11% para 5.547,26 pontos, influenciado pela instabilidade política em Itália, mas também pela entrada em ex-dividend de cinco das suas cotadas.

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