Patrões contra “soluções populistas fáceis” de Costa para aumentar salários e fazer regressar jovens emigrados

"Soluções fáceis, imediatas e populistas". É assim que António Saraiva caracteriza as propostas do primeiro-ministro para atrair os jovens quadros emigrados.

O patrão dos patrões considera que a sugestão do primeiro-ministro de que “é fundamental as empresas alterarem radicalmente as suas políticas salariais” é “populista e fácil”. António Saraiva, em declarações ao ECO, defende que é necessário Estados e empresas trabalharem de mãos dadas — “interagir com um conjunto de soluções” — e que as empresas já estão a fazer a sua parte, “criando novos empregos”.

Em entrevista ao jornal Expresso (acesso pago), este fim de semana, o primeiro-ministro defendeu que além de todos os incentivos que o Estado possa dar” — e no Orçamento do Estado para 2019 haverá “um pacote fiscal muito agressivo para atrair o regresso dos quadros jovens” —, “é fundamental as empresas alterarem radicalmente as suas políticas salariais”. “Se não pagarem adequadamente o trabalho qualificado, é impossível recuperar esta geração”, disse o chefe de Governo. “A política salarial das empresas hoje não é aceitável”, disse António Costa, dando o exemplo da EDP para demonstrar o “desinvestimento que as empresas fazem nos quadros jovens”.

Para António Saraiva “a solução não é assim tão simples”. “Não se pode tratar uma determinada tipologia de doença só com antibiótico, quando o paciente necessita de uma transfusão de sangue”, diz o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), numa metáfora que termina com a observação que, para este caso, “é necessário um choque vitamínico”.

“Soluções fáceis, imediatas e populistas, fáceis de pronunciar”. É assim que António Saraiva caracteriza as propostas do primeiro-ministro. Para o empresário há “uma atratividade que o país tem de desenvolver” e as “empresas já estão a fazer a sua parte através da criação de novos empregos, mais tecnológicos”. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que, no segundo trimestre, a economia gerou mais 67,4 mil postos de trabalho líquidos.

E se as empresas querem atrair mão-de-obra qualificada têm de pagar bem, dada a escassez, garante António Saraiva. “Neste momento, as empresas se querem ter jovens qualificados têm de lhes pagar mais”, sublinhou ao ECO, Paulo Nunes de Almeida. O presidente da Associação Empresarial de Portugal defende ainda que “a realidade incentiva as empresas a reduzirem o gap entre os salários que são pagos no estrangeiro e os pagos em Portugal”. “Claro que as empresas não conseguem anular totalmente o gap“, mas é um caminho que está a ser feito, diz o empresário. António Saraiva acrescenta ainda que hoje, as empresas se querem mão-de-obra qualificada têm elas próprias de contratar no estrangeiro, porque o mercado nacional não fornece ativos suficientes.

Mas, o presidente da CIP lembra que “o salário não é a única variante relevante na política de atração de captação de mão-de-obra qualificada“. Paulo Nunes de Almeida corrobora. De acordo com um estudo que a AEP fez — “Regresso de uma geração”, os jovens que emigraram para além da componente salarial, apontam a falta de perspetivas de carreira como pontos negativos em Portugal, a que acresce também a falta de formação.

De qualquer forma, a AEP, à semelhança do ano passado, vai promover um matching point entre empresas e jovens a 27 e 28 de dezembro. A associação pretende assim ajudar ambas as partes a satisfazer necessidades mútuas, mas oferece ainda ajuda aos jovens emigrados a criarem as suas próprias empresas ou a candidatarem-se a apoios comunitários, explicou Paulo Nunes de Almeida.

Ambos os responsáveis defendem que o problema só pode ser resolvido através de uma atuação conjunta do Estado e das empresas. Incentivos fiscais, apoios à habitação, já que em Portugal os preços não são tão baixos como há uns anos, agilizar os processos nos consulados para quem quer regressar, criar políticas de atratividade para todo o país e não apenas para Lisboa e Porto são algumas das medidas que o Estado pode e deve fazer.

Questionado sobre se o Executivo já iniciou contactos com as empresas para desenvolver medidas conjuntas para a atração dos jovens, António Saraiva disse que “até agora não houve contactos nesse sentido, para haver uma concertação entre poderes público e privados”.

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