Carlos Costa: “Falta-nos premiar a distribuição de dividendos com base em contas transparentes”

Carlos Costa pede novos empreendedores para regenerar a economia portuguesa. Mas também recomendou às empresas existentes que distribuam dividendos com base em contas transparentes.

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, considera que falta ao país um quarto pilar para completar a retoma “notável” que tem vindo a fazer desde a crise da dívida de 2011: “Falta-nos o premiar a propriedade sem prejudicar a gestão, o que significa que nos falta premiar a distribuição de dividendos com base em contas transparentes e auditadas de forma a assegurar que ser acionista ou proprietário de uma empresa não implica estar necessariamente no conselho de administração”.

Só por essa via é que as empresas portuguesas vão conseguir “atrair novos investidores” necessários para captar investimento de longo prazo e reduzir a dependência do financiamento bancário, completou o governador no discurso de abertura do Via Bolsa, uma iniciativa da Euronext Lisbon que decorre no Museu do Dinheiro, em Lisboa.

Ignorando por completo o caso relacionado com a sua passagem pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) na década passada, Carlos Costa falou dos pilares da recuperação da economia portuguesa que começou com o “programa de ajustamento que foi inevitável” entre 2011 e 2014, a que se seguiu uma “desenvolvimento notável das exportações”. Depois, veio a estabilidade financeira, “medida pela confiança dos depositantes nos sistema bancário, que está espelhada na evolução dos depósitos”. Mas falta agora um quarto pilar, frisou.

“Falta investimento. Investimento não só de natureza incremental, mas investimento também de natureza disruptiva, assente em inovação radical. Falta-nos novos empreendedores, falta-nos a regeneração do tecido empresarial, falta-nos a profissionalização da gestão”, disse o líder do supervisor.

Foi neste ponto que Carlos Costa pediu maior disciplina na distribuição de dividendos, que tem de ser feita com base em “contas transparentes e auditadas”, através das quais as empresas conseguirão ter investidores que se “sintam confiantes para trazer capitais próprios ou para fazer empréstimos de longo prazo”.

Numa economia de “insuficiência crónica de poupança” e com dificuldade em captar novos investidores, as empresas estão limitadas “à dimensão do braço do seu proprietário”, que “tende a ser cada vez menos determinante à medida que sucedem as gerações”, notou.

“Por isso temos um problema que é cuidar da terceira geração empresarial, trazê-la para o mercado de capitais, assegurar que a abertura do capital a novos investidores é feita sem prejuízo da preocupação com rendimentos que essas empresas geram”, disse o governador do Banco de Portugal.

Para Carlos Costa, é importante promover a regeneração do tecido empresarial português, mas lembrou que não se trata de uma “uma política de terra queimada”. E contextualizou de seguida: “A transformação e regeneração do tecido produtivo de um país faz-se com as empresas que temos, mesmo que lhes acrescentemos também algumas sementes de regeneração”.

Após o discurso, Carlos Costa abandonou imediatamente o evento, sem falar com os jornalistas. Mas o governador do Banco de Portugal concede mais logo uma entrevista à SIC, onde deverá explicar a sua participação nas reuniões da CGD que aprovaram empréstimos de risco e que geraram perdas volumosas para o banco público, como as que foram identificadas pelo relatório da auditoria da EY.

(Notícia atualizada às 15h51)

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