Dívida, juros e “aumento considerável” nos gastos com pessoal agravam prejuízo do Metro para 27,9 milhões

Resultado líquido da transportadora agravou-se 14%. Mas resultado operacional continua positivo, apesar da quebra de 65%. Dívida e juros arrastam resultados financeiros para -31 milhões.

O elevado peso da dívida e dos juros, conjugado com o impacto do descongelamento das carreiras, agravaram as contas do Metro de Lisboa, com a transportadora a reportar um resultado líquido negativo de 27,9 milhões negativo, um agravamento superior a 3,3 milhões face a 2017. Só na rubrica dos resultados financeiros, empresa perdeu 31 milhões de euros.

“O ano de 2018 caracterizou-se por uma evolução desfavorável no que respeita aos resultados globais da empresa, face a 2017”, assume a transportadora no relatório e contas de 2018 agora divulgado através da Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários, apontando neste documento que o “resultado antes de impostos degradou-se em cerca de 4,1 milhões de euros”, já que apesar dos resultados financeiros terem pesado um pouco menos em 2018 — passaram de -33,12 milhões em 2017 para -31,12 milhões em 2018 –, a quebra nos resultados operacionais foi superior a esta melhoria.

O resultado operacional do Metro caiu de 9,38 milhões de euros positivos em 2017 para 3,27 milhões em 2018, um decréscimo de 6,1 milhões, já que se por um lado os rendimentos operacionais da empresa mantiveram-se praticamente inalterados (-0,2%), nos 155 milhões, o mesmo não aconteceu nos gastos operacionais, que pesaram mais 5,7 milhões — para 151,7 milhões de euros — no ano passado.

Sobre o crescimento da despesa operacional, o Metro aponta que este veio “das principais rubricas de gastos, fruto do esforço da empresa para garantir a qualidade do serviço público prestado, que se reflete no consumo de materiais para recuperação da frota de material circulante (+1,7 milhões) e nos fornecimentos e serviços externos (+2,6 milhões)”. Além disso, houve também que contar com o descongelamento das carreiras.

Carreiras e anuidades

“Os gastos com pessoal registaram também um aumento considerável (+7,1 milhões dos euros, dos quais 5,7 milhões de euros se referem a remunerações e cerca de 1,4 milhões de euros a encargos patronais), em resultado, por um lado, do impacto do descongelamento de carreiras e das valorizações remuneratórias decorrentes da aplicação das leis de OE de 2017 e 2018 e, por outro, das novas contratações”, refere o documento do ML a propósito da subida da despesa operacional.

Analisando o quadro sobre a despesa com os colaboradores em detalhe, a transportadora aponta que “a principal causa” para o crescimento de 10% nesta rubrica prendeu-se com o “aumento das remunerações, através do crescimento dos valores relativos a progressões nas carreiras, pagamento de prémios de desempenho e reposição de pagamento de anuidades, na sequência da aplicação das Leis de Orçamento do Estado de 2017 e 2018”. Além disso, houve ainda que contar com o aumento de 1,3 milhões de euros associados à taxa social única, que subiu “seguindo a tendência de remunerações”.

Contudo, parte do aumento dos gastos com pessoal veio também do reforço dos próprios quadros do grupo. Considerando todas as empresas que compõem o Metro de Lisboa, o grupo fechou 2018 com um total de 1.470 colaboradores, contra os 1.408 com que tinha fechado o exercício de 2017.

Swaps” e dívida

Já no capítulo financeiro, o Metro de Lisboa salienta que os resultados neste campo “registaram uma variação positiva na ordem dos dois milhões de euros”, uma melhoria assente no facto “de em 2017 terem sido considerados valores a liquidar por conta do processo dos “swaps” do Santander no valor dos encargos, facto que já não ocorreu em 2018″.

Não tivessem sido antecipados estes valores em 2017, refere a empresa, “o valor de 2018 e juros a liquidar seria superior ao de 2017”, o que se pode verificar olhando para a taxa de juro implícita associada ao endividamento do metro. Apesar desta taxa ter dado um salto muito significativo de 2016 para 2017, por culpa do acordo dos “swaps”, continuou a crescer em 2018. O juro implícito estava em 3,24% em 2016, passou para 4,8% em 2017 e 4,99% no ano passado.

“Desde 2017, na sequência do acordo alcançado entre o Santander e a República, foi retomado, a partir de maio, o pagamento dos “swaps” do Santander, anteriormente em contencioso, facto que contribuiu para que a taxa de juro implícita registasse um incremento de 1,75 pontos desde essa altura“, aponta o Metro de Lisboa nas contas.

A transportadora gastou no total 31,12 milhões de euros com juros bancários, valor que compara com 35,8 milhões em 2017 e 44,4 milhões em 2016. Mas apesar da divida história pesada que afunda as contas do Metro anualmente, esta continuou a crescer no ano passado. O passivo remunerado da empresa cresceu de 3,44 mil milhões de euros para 3,78 mil milhões, uma subida totalmente concentrada na dívida de curto prazo, que cresceu 462 milhões de euros.

“Na estrutura da dívida, as dívidas ao Tesouro (44%) e os empréstimos obrigacionistas (35%) são os financiamentos com maior peso face ao total da dívida do ML”, detalha a empresa.

Procura e oferta

A tendência de crescimento no total de passageiros transportados manteve-se em 2018, referem as contas do Metro, com diversos fatores a contribuírem para o reforço da procura, que se traduziu num salto de 4,7% passageiros, ou seja, mais oito milhões de viagens, para perto de 170 milhões de passageiros.

O crescimento da procura arrastou consigo um aumento nas receitas tarifárias de 4,8%, face a 2017. Segundo o relatório e contas, o Metro encaixou 103 milhões de euros com receitas de transporte.

O documento reconhece, porém, que as limitações atuais estão a complicar a realidade da empresa, apontando que “o aumento de oferta em 2018 esteve condicionado pela indisponibilidade de material circulante devido a imobilização para manutenção programada durante parte significativa do ano transato”, sublinhando, porém, que já no último trimestre de 2018 foi possível aumentar a oferta na hora de ponta da manhã das linhas Azul e Amarela.

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