“Está na hora de repensar plano estratégico da TAP”, admite Antonoaldo Neves

Confrontado com a forte derrapagem entre os resultados previstos no plano estratégico e a realidade, CEO explicou as razões e assumiu que o plano tem de ser refeito. Mas diz que 2019 é de transição.

A entrada do Brasil num período de incerteza, país a que a TAP estava “excessivamente” exposta, e os atrasos na entrega de novos aviões por parte da Airbus foram as razões apontadas pelo CEO da companhia aérea para a enorme diferença entre os resultados prometidos no plano estratégico da empresa e o que a realidade tem mostrado. Mas apesar de apontar para razões externas, Antonoaldo Neves assume: “Está a chegar altura para repensar plano estratégico.”

Presente na Comissão de Economia da Assembleia da República, o CEO da TAP foi confrontado com o plano estratégico que a companhia entregou ao Tribunal de Contas, na altura da reentrada do Estado no capital da transportadora. Segundo esse plano, a TAP prometia “passar o resultado líquido de 37,15 milhões negativos, em 2017, para 167,76 milhões positivos, em 2022”, tendo como metas intermédias lucros de 84,4 milhões em 2018, de 75 milhões em 2019 e mais de 100 milhões de euros a partir de 2020. Ora, a TAP fechou o ano passado com prejuízos de 118 milhões. Com o resultado líquido a derrapar, também os objetivos para os capitais próprios da companhia derraparam.

“A realidade é que o contexto mudou muito desde que o plano foi feito”, começou por responder Antonoaldo. O que mais contribuiu, e não falando de itens não recorrentes, foi que se instalou uma grande crise no Brasil que não se previa quando se desenhou o plano. O Brasil valia 30% das receitas da TAP. Felizmente hoje, com a aposta nos EUA, diminuímos a dependência do mercado brasileiro“, referiu.

Mas o peso do Brasil nas contas da TAP continua a pesar, assim como a não estabilização do país, assumiu. “A dependência do Brasil era aguda na empresa, perdemos quase 100 milhões de euros de receita em 2018 no Brasil”, explicou, numa queda essencialmente explicada pela desvalorização do Real, já que em volume as vendas até cresceram. Efeito que ainda se sente em 2019: “Tivemos um primeiro trimestre muito difícil ainda, no segundo trimestre já está melhor”, revelou.

"Estamos num ano em que a expectativa é que seja muito melhor que 2018, mas é um ano de transição.”

Antonoaldo Neves

CEO da TAP

Mas além do impacto da quebra económica do Brasil, que ainda se faz sentir, Antonoaldo Neves justificou as derrapagens face ao plano estratégico com a Airbus, que atrasou a entrega de várias novas aeronaves à TAP em até dois anos. “Não permitiu avançar com a expansão. Esperávamos receber o A321 Long Range, o A320 Neo e o A330 Neo, e contávamos com esses aviões para o plano que desenhámos”, salientou.

Contudo, e apesar de todas as razões externas a justificar o desvio entre a realidade e o plano estratégico, Antonoaldo Neves assumiu aos deputados presentes na Comissão de Economia que “está a chegar altura de repensar plano estratégico” da companhia aérea. Até porque estes planos têm prazos, salientou, “e é preciso construir o plano para os próximos anos”.

2019 é de transição, mas será melhor que 2018

Questionado sobre a evolução do negócio em 2019, o líder da Comissão Executiva da TAP não quis adiantar muitos detalhes, admitindo todavia que o corrente exercício ainda deve ser encarado como de “transição” face à previsão de se ter a companhia aérea a explorar todo o seu potencial. E as razões são essencialmente duas: pilotos, aviões.

“Em 2018, tivemos vários problemas com o planeamento de pilotos”, explicou o gestor, lembrando a greve de zelo destes profissionais, isto quando a companhia aérea já tinha uma equipa de pilotos demasiado curta. “Felizmente está resolvido, fizemos um acordo com o sindicato, mas este é um problema que precisa de tempo para ser resolvido”, explicou aos deputados.

E porquê? Porque a TAP está a apostar forte numa expansão da rota e, para isso, precisa de pilotos. Mas os pilotos demoram a formar. “Contratamos 300, mas ainda temos 150 em formação”, explicou. Ainda assim, os novos pilotos que já estão a operar, em conjunto com as melhorias no planeamento, estão a trazer bons frutos este ano: Segundo Antonoaldo Neves, entre janeiro e julho deste ano, “a TAP está com 0,5% de voos cancelados, uma 99,5% de regularidade nos voos, acima das melhores práticas globais.

Além dos pilotos, também as várias aeronaves que a TAP tem comprado para renovar e reforçar a frota precisam de tempo para trazer todo o seu potencial para a transportadora aérea. Não só a sua chegada é gradual, como a entrada ao serviço dos que já chegaram é igualmente gradual. Por isso, ganhos como os -20% de consumo de combustível de muitas destas novas aeronaves só será totalmente repercutido nas contas em 2020.

“Este ano é de transição, com a entrada gradual dos novos aviões ao serviço, e de pilotos. O resultado ainda não ter o pleno potencial, há aviões por chegar e mais crescimento”, referiu o CEO. “É um ano de preparação para o crescimento do ano que vem”, sublinhou. Ainda assim, “estamos num ano em que a expectativa é que seja muito melhor que 2018, mas é um ano de transição”, rematou.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

“Está na hora de repensar plano estratégico da TAP”, admite Antonoaldo Neves

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião