Investidores vão de férias, mas negócios na bolsa não param. E nem sempre correm bem

A última grande crise financeira começou a 9 de agosto de 2007. Mas não foi a única. Existiram outros verões conturbados nos mercados. Neste, a guerra comercial é a principal ameaça.

Fotomontagem: Lídia Leão / ECO

Verão, calor, praia… São estes os pensamentos da maioria das pessoas nesta altura do ano e os investidores não deverão ser exceção. As negociações nos mercados financeiros desaceleram, mas não param e são vários os problemas que surgiram exatamente durante o verão. Foi assim com a maior crise económica e financeira desde a viragem do século. A dúvida é se a espuma do mar estará a trazer novamente à costa uma surpresa negativa.

Há quase dois séculos e meio, em junho de 1772, os bancos do Reino Unido inundavam a economia com crédito barato quando os donos de uma prestigiada financeira fugiam para França por não conseguirem responder aos pagamentos que tinham a fazer. A situação lançou o pânico e a crise do crédito espalhou-se pela Europa e pelas colónias britânicas.

Não é, no entanto, preciso recuar tanto. O verão de 1982, há menos de quatro décadas, foi quente. Apesar de ser inverno na região, a crise aconteceu na América Latina, onde o México, Brasil e Argentina — que se financiavam a baixos custos para pagar o desenvolvimento e infraestruturas — se viram afogados em dívidas. A recessão mundial da década anterior revelou a incapacidade de reembolso e, em agosto de 1982, o México declarava oficialmente que não conseguia pagar aos credores.

Quinze anos depois, a crise das dívidas soberanas da América Latina viria a repetir-se na Ásia. Em julho de 1997, o governo tailandês decidiu desvincular a moeda local, o baht, do valor do dólar. A moeda afundou de tal forma que o país, que já tinha dificuldades em pagar a dívida a credores internacionais, teve de assumir que não conseguia fazê-lo. A história é semelhante: a crise espalhou-se pela região, com a Coreia do Sul, Indonésia, Laes, Hong Kong e Malásia a ser afetados.

9 de agosto e uma seca nos mercados

Uma década mais tarde, seria a vez da Zona Euro e dos EUA. “Umas das maiores crises financeiras da história, a crise do subprime, desencadeou-se no mês de agosto. Dia 9 de agosto de 2007 é a data consensual para o início da crise financeira que abalou o mundo nas últimas décadas”, lembra Nuno Caetano, analista da corretora Infinox.

"Umas das maiores crises financeiras da história, a crise do subprime, desencadeou-se no mês de agosto. Dia 9 de agosto de 2007 é a data consensual para o início da crise financeira que abalou o mundo nas últimas décadas.”

Nuno Caetano, analista da Infinox

Nesse dia, o Banco Central Europeu (BCE) injetou 96 mil milhões de euros para ajudar os mercados e tentar evitar uma crise financeira, já que a liquidez do mercado interbancário começou a secar. “À época, esta foi a maior injeção de liquidez de sempre, na história do banco central”, recorda Caetano.

Mas o BCE, então liderado por Jean-Claude Trichet, não estava sozinho. A Reserva Federal norte-americana lançou 24 mil milhões de dólares nas habituais operações de concessão de liquidez aos bancos, assim como o Banco do Japão injetou um bilião de ienes (o equivalente a 8,45 mil milhões de dólares). O Banco da Austrália e o Banco da Coreia também se mostraram prontos a intervir.

Apesar da tomada de posição dos bancos centrais, os problemas da banca não passaram e foram-se agravando ao longo de um ano. Chegado setembro de 2008, o banco norte-americano Lehman Brothers falhava um negócio para ser comprado e via-se obrigado a abrir falência. Foi a maior de sempre do setor financeiro e fez com os problemas da banca se tornassem numa crise profunda e global, cujas consequências ainda se sentem.

Quem fica é que mexe o mercado

Não só a nível macro, mas também nas cotações das bolsas ou nos juros das dívidas, a tendência é notória: no verão, o volume de transações baixa e os movimentos correm o risco de ter efeitos amplificados. “Em agosto há menos volume negocial porque grande parte dos analistas e dos investidores encontram-se de férias”, refere Carla Maia Santos, sales team leader da corretora XTB.

Com menos investidores, os que estão a negociar, acabam por influenciar mais as tendências e a volatilidade acaba por ser muito maior, com maiores variações intra-diárias”, sublinha. Este ano, o verão nos mercados voltou a ser especialmente quente, com dois grandes temas a criarem receios entre os investidores.

Ordens recebidas pelos intermediários financeiros em Portugal afundam em agosto

Fonte: Comissão do Mercado de Valores Mobiliários

Os analistas não têm dúvidas que a guerra comercial é o principal fator que está a afetar os mercados este verão, com as bolsas a serem atiradas para terreno negativo no acumulado do ano e os juros das dívidas a negociarem em mínimos históricos. A desaceleração das grandes economias globais, bem como as tensões sentidas em Itália e na Argentina têm também pesado. Resta saber se a guerra comercial terá impacto suficiente para aquecer este verão à semelhança de verões anteriores.

Mesmo num cenário de crise durante o verão, é possível ganhar com a turbulência das bolsas. “Os investidores podem proteger-se, investindo em ativos-refúgio, como o ouro, o iene japonês ou o franco suíço. O valor do ouro disparou e toca valores de 2013. Ou poderão shortar os índices acionistas, investir no movimento de desvalorização, através de derivados financeiros, como os CFD, por exemplo”, sublinhou Carla Maia Santos.

Nuno Caetano concorda que é possível “ganhar com a crise, através de especulação no mercado”, sugerindo ainda a possibilidade de “esperar por momentos em que os ativos estão em mínimos históricos para comprá-los nessa altura e ganhar com a correção de mercado”. Em alternativa lembra que “muitas vezes ativos reais como o mercado imobiliário são uma alternativa de proteção por parte dos investidores aos ativos mobiliários”.

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