Reviravolta na guerra comercial trava perdas nas bolsas, mas não afasta investidores do ouro

Os mercados reagiram negativamente ao escalar de tensões entre os Estados Unidos e a China, mas notícias de que os países iam voltar às negociações aliviaram as perdas.

Os últimos dias da semana passada e o fim de semana estiveram repletos de notícias que deram sinais contrários aos mercados. Os investidores parecem ainda estar a tentar digerir as várias declarações e, com os bancos centrais atirados para segundo plano, é a guerra comercial a centrar atenções.

Os mercados foram apanhados de surpresa na sexta-feira, com a China a decidir aplicar tarifas sobre bens norte-americanos no valor de 75 mil milhões de dólares. Os EUA responderam com um aumento das tarifas aplicadas sobre 250 mil milhões de bens importados da China e uma subida das novas taxas aduaneiras sobre 300 mil milhões de dólares de importações.

A reação foi negativa e tudo indicava que as ondas de choque se prolongassem esta semana até porque, durante o fim de semana, a reunião do G7 aqueceu ainda mais as tensões.

Questionado sobre a guerra comercial, o presidente Donald Trump admitiu que “pensou duas vezes”, levando os jornais a falarem de arrependimento. Mas a responsável pela comunicação da Casa Branca, Stephanie Grisham, apressou-se a clarificar: o que Trump queria dizer era que tinha pensado duas vezes se não deveria ter aplicado ainda mais tarifas.

“Melhor do que parece”

As praças asiáticas caíram e a moeda chinesa desvalorizou para mínimos de onze anos, face ao dólar. As bolsas europeias, incluindo a lisboeta, replicaram o sentimento e abriram em queda. Mas novas notícias de um volte-face animaram os investidores: o presidente dos EUA disse que recebeu duas chamadas de Pequim para retomar as negociações, o que deverá acontecer “em breve”. Mas Trump sublinhou que é a China ter maior interesse num acordo do que os EUA.

“O estado atual dos mercados é melhor do que parece”, explicam os analistas do Bankinter, numa nota de research. “Não achamos que as ocorrências de sexta-feira tenham grande relevância, mas foram um fator que impactou a performance dos mercados e que continuará a pesar nos próximos dias. Ainda assim, são menos graves do que parecem”.

Duas horas depois da abertura dos mercados na Europa, os futuros norte-americanos recuperaram de perdas e as praças europeias inverteram: o Stoxx 600, o alemão DAX e o francês CAC 40 avançam mais de 0,5%, enquanto o português PSI-20 ganha 0,44%. Mas o cenário não é exatamente pacífico já que se mantêm receios sobre os desenvolvimentos na guerra comercial, bem como em outras frentes.

Bolsa de Lisboa recupera em linha com a Europa

“As dúvidas sobre as ações dos bancos centrais e a desaceleração global unem-se a estes receios e podem continuar a provocar tomadas de mais-valias nos próximos dois ou três dias. Ainda assim prevemos uma recuperação. Já as obrigações continuam a valorizar”, diz o Bankinter.

Com a retoma nas ações, os juros das dívidas sobem ligeiramente, mas continuam em níveis muito próximos de mínimos históricos. As Bunds alemãs a dez anos têm um juro negativo de 0,67%. Em Portugal, a yield dos títulos benchmark situa-se em 0,173%, perto dos 0,144% que os investidores pedem a Espanha.

Bancos centrais em segundo plano

No entanto, o apetite por ativos mais arriscados não tirou o interesse por ativos refúgio. O ouro aprecia-se 0,24%, valendo já quase 1.530 dólares por onça e o iene japonês ganha 0,50%. A bitcoin — que tem valorizado com as tensões nos mercados — ganha 2,35% e está acima dos 10.000 dólares.

O apaziguar das tensões comerciais não parece chegar para os investidores se sentirem totalmente seguros a abandonar os ativos refúgio, especialmente numa altura em que a sombra de uma recessão à espreita é um dos principais fatores de stress.

A forma como os bancos centrais iam abordar a questão da recessão era uma das principais expectativas em relação ao simpósio em Jackson Hole, que também aconteceu no final da semana passada. No entanto, levantaram-se mais dúvidas do que as respostas que foram dadas.

Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos EUA, reforçou a mensagem de que irá atuar caso seja preciso para dar suporte ao atual ciclo de expansão, mas que sobre as taxas de juro não tem nenhuma decisão tomada. Já Philip Lowe, governador do banco central da Austrália, afirmou que “os banqueiros centrais não podem salvar a economia sozinhos” e Mark Carney, governador do banco central de Inglaterra, alertou para o aumento do risco da “armadilha de liquidez”.

Esta reunião de banqueiros centrais acabou por ficar na sombra de um G7, no qual Trump aumentou a pressão comercial sobre a China e reduziu sobre o Japão”, sublinharam os analistas, acrescentando que acabou por ter um “impacto negativo sobre o mercado devido tanto à falta de novos conteúdos nas mensagens (sobretudo de Powell) como aos alertas sobre os riscos“.

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