Ministro do Ambiente diz que centrais a carvão podem encerrar a meio da década

A central termoelétrica de Sines pode encerrar a meio da próxima década, bastante antes da data limite inicialmente avançada pelo Governo, admite o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes.

O Governo, no âmbito dos objetivos de atingir a neutralidade carbónica em 2050, decidiu encerrar até 2030 as duas centrais termoelétricas, Pego e Sines. Mas em maio passado o ministro João Pedro Matos Fernandes avançou que o Governo quer encerrar a central de produção de eletricidade a carvão do Pego em 2022, não se comprometendo com uma data para Sines.

Agora, numa entrevista à Agência Lusa a propósito da cimeira sobre o clima que se realiza na segunda-feira em Nova Iorque, o ministro disse que espera chegar a 2025 com uma central encerrada (Pego) e a outra (Sines) ou encerrada também ou prestes a encerrar.

Lembrando que Portugal já se comprometeu com o “abandono do carvão” em 2030, data com a qual está “confortável”, João Pedro Matos Fernandes acrescentou que esse compromisso pode ser “antecipado em alguns anos”.

O sucesso que tivemos com o recente leilão do solar [energia solar, em julho] diz-nos que se o compromisso que Portugal tem é de 2030 provavelmente vamos chegar a 2025, eu direi, certamente com uma das duas centrais encerrada e a outra se não estiver encerrada estará perto de encerrar”, afirmou.

O ministro explicou que para encerrar as duas centrais a carvão é preciso haver a garantia de que o país tem capacidade de produção a partir de fontes renováveis, compensando essa falta sem importar energia.

“Hoje não conseguimos isso, mas com os 1,4 gigawatts do leilão que já aconteceu, com uma igual dimensão do leilão do próximo ano e do ano a seguir”, há todas as condições para concretizar os projetos de produção de energia solar, disse Matos Fernandes.

“Não sei se é público, mas findo o leilão havia três semanas para se depositar as cauções e todas as 16 empresas depositaram as cauções e se comprometeram com um prazo de três anos para terem os projetos concretizados. A correr assim bem, sim, nós vamos poder antecipar num bom par de anos a data de 2030, com um ganho significativo no que às emissões diz respeito”, frisou o ministro.

Prestes a partir para Nova Iorque, onde vai participar na cimeira sobre o clima convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, João Pedro Matos Fernandes leva na bagagem o Roteiro para a Neutralidade Carbónica (anunciado no final do ano passado em Lisboa) e o facto de Portugal ter sido o primeiro país do mundo a apresentar essas metas concretas para fazer face às alterações climáticas.

Na entrevista à Lusa, o ministro reconhece que são grandes as responsabilidades e ambições de Portugal, mas assinala por outro lado que para que em 2050 o país não produza mais gases com efeito de estufa do que os que pode “eliminar” são precisos 85 mil milhões de euros.

Em democracia a transição tem de ser feita de forma justa e com aceitação popular”, sustenta, comentando depois que os que defendem já para 2030 a neutralidade carbónica têm uma “visão desviada” de quem acha que para se ser neutro é só fechar “meia dúzia de chaminés”.

A verdade é que, diz, para se ser neutro em carbono é preciso substituir os quase cinco milhões de veículos que existem em Portugal, quadruplicar a capacidade de produção de eletricidade a partir de fontes renováveis, tornar milhões de edifícios neutros do ponto de vista carbónico. Em 10 anos é impossível, garante.

Mas garante também que o caminho está a ser feito, que no ano passado e neste ano a quota de carros a diesel se reduziu e que em 2030 ainda serão menos, mesmo que nesse ano, dos carros que circularem nas estradas, dois terços ainda sejam movidos a combustíveis fósseis.

Se por um lado as metas não são mutáveis há por outro lado flexibilidade “no caminho para o cumprimento”, diz o ministro, acrescentando que vai haver também certamente “boas notícias”, da indústria, da tecnologia, de novas formas de ser mais eficiente, sustentável e hipocarbónico.

Otimista, João Pedro Matos Fernandes fala na entrevista do “financiamento sustentável”, onde Portugal também lidera, e lembra que recentemente foi assinado um protocolo com todas as instituições financeiras, no sentido de valorizarem os empréstimos que tenham preocupações com o risco ambiental. Aliás, recorda, no novo ciclo de financiamento comunitário 25% das verbas do Fundo de Coesão e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional serão associadas à ação climática.

E na próxima semana, lembra também Matos Fernandes, Portugal vai antecipar em um ano a entrega da estratégia de longo prazo para a ação climática, prevista no Acordo de Paris.

É esta noção clara de responsabilidade (de liderança no processo de luta contra as alterações climáticas), resume, que Portugal leva à cimeira de Nova Iorque

No entanto, avisa: “Pensam mesmo mal os que acham que se Portugal vai à frente deve relaxar um bocadinho para, sendo uma economia de dimensão intermédia à escala mundial, tentar colocar-se também numa posição intermédia na sua ambição”.

Ao contrário, garante o ministro, Portugal deve manter-se como país dos mais ambiciosos nesta luta. Muito além do bom nome há ganhos para a economia e para o bem-estar dos cidadãos por o país estar “na linha da frente” dessa transição.

“Esses 85 mil milhões de euros a mais representam também um aumento do PIB entre os 0,8 e 01% da criação de riqueza em cada ano. Porque cada vez mais falar de ambiente, nos dias que correm, é falar de investimento, mormente investimentos na produção e armazenamento de energia a partir de fontes renováveis, é falar em novas formas de produzir, em novas formas de consumir, é falar numa melhor gestão de recursos”, observa.

E é precisa uma nova forma de pensar e de agir, são precisas mudanças de comportamento. Diz o ministro que se de facto foi a espécie humana quem provocou as alterações climáticas tem de ser ela a resolvê-las. Não se pode é apostar nas mesmas formas e processos que levaram à degradação para agora tirar o planeta da crise climática.

E no final, defende: “Não vamos demasiado tarde”.

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