Derrota de Scholz na corrida à liderança do SPD deixa Governo de Merkel em risco

Norbert Walter-Borjans é o novo líder do SPD e quer renegociar o acordo de coligação, mas a CDU já respondeu que não há nada a negociar. Sem o SPD, Merkel não tem maioria no Parlamento.

O futuro do Governo alemão, liderado há 14 anos por Angela Merkel, está em dúvida depois de uma vitória surpreendente de Norbert Walter-Borjans sobre o vice-chanceler Olaf Scholz na corrida à liderança do segundo maior partido alemão, os sociais-democratas do SPD. O novo líder do SPD é crítico da coligação que serve de base ao Governo e quer novas concessões da CDU de Merkel. Partido de Merkel não aceita renegociar acordo de coligação.

Quando Angela Merkel venceu as eleições em 2017, a política alemã viu-se a braços com uma situação nova: instabilidade. Com o SPD a colocar-se de fora de uma nova coligação, depois de ter tido um dos seus piores resultados de sempre, e a CSU — partido irmão da CDU na Baviera — a exigir uma viragem mais à direita, as negociações falharam por várias vezes.

Depois de esgotadas as hipóteses de uma coligação com os Verdes e os liberais do FDP, e perante um cenário de um governo minoritário, nunca antes visto na história recente, o SPD aceitou voltar à mesa das negociações e apoiar mais um governo de Angela Merkel, que por sua vez prometeu que não voltaria a recandidatar-se em 2021.

Mas os problemas de Angela Merkel e do SPD não terminaram com o acordo. Com a extrema-direita a ganhar cada vez mais força — a AfD entrou pela primeira vez no Bundestag em 2017, e logo como a terceira força política –, e as forças mais à esquerda dentro do SPD também.

Com o afastamento da anterior líder, por motivos de saúde, a corrida à liderança do SPD até parecia estar a ser relativamente calma, com Olaf Scholz — atual vice-chanceler e ministro das Finanças — a perfilar-se como o favorito, mais pelo seu perfil público do que pelas sondagens. Scholz venceu a primeira volta, mas este sábado caiu com estrondo e a eleição acabou por criar mais dúvidas.

Norbert Walter-Borjans, antigo ministro regional do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, e Saskia Esken, uma deputada pouco conhecida eleita pelo círculo eleitoral de Bade-Vurtemberga, foram eleitos este sábado como a nova liderança dos sociais-democratas. Ambos são críticos da ‘grande coligação’ com a CDU, ambos querem mais despesa do Estado alemão — algo a que Olaf Scholz vinha a resistir –, e já avisaram que a primeira prioridade do partido vai ser definir a nova posição do partido em relação ao parceiro de coligação, a CDU.

A CDU não esperou para responder e avisou a nova liderança do SPD que não tem qualquer intenção de renegociar o acordo de coligação, que inclui os compromissos de despesa.

Futuro de Scholz em dúvida

A primeira dúvida mais imediata é o futuro de Olaf Scholz como vice-chanceler e ministro das Finanças. Sem a legitimação que estava à espera de obter com a vitória na liderança do SPD, que acabou por não conseguir, o ministro das Finanças alemã pode ter os dias contados.

Olaf Scholz tinha a oposição do partido quando defendia as finanças públicas equilibradas que caracterizam os cofres alemães — numa conjuntura de abrandamento económico, necessidades de investimento elevadas e crescimento da extrema-direita –, e do Governo nas suas posições de maior abertura para maior integração, nomeadamente na proposta que fez para a finalização da União Bancária.

Governo de minoria?

Caso a coligação acaba por cair em resultado da nova liderança do SPD, Angela Merkel terá de continuar como chanceler e fazer negociações caso a caso para conseguir sobreviver. A outra hipótese é o Bundestag avançar para eleições antecipadas.

No entanto, as eleições antecipadas dificilmente poderão acontecer nos próximos meses. Não só os alemães são avessos à instabilidade política no período do pós-guerra, como a Alemanha está a pouco mais de seis meses de assumir a presidência rotativa da União Europeia, o que faz com que já esteja a trabalhar nos preparativos, juntamente com Portugal e a Eslovénia, que são os países que lhe irão seguir.

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