De uma pequena oficina, Corticeira Amorim fez-se gigante em 150 anos

História da Corticeira Amorim é longa, mas repleta de conquistas, cá e lá fora. Tornou famosa a cortiça portuguesa em todo o mundo, com as rolhas, mas também as pranchas e surf e até os aviões.

Nasceu em 1870. Virou dois séculos, um deles que mudou o milénio. Cresceu numa pequena oficina a produzir rolhas, expandindo desde então — ainda que com alguns reveses pelo caminho — até chegar aos quatro cantos do mundo. Em 150 anos, a Corticeira Amorim transformou-se na maior transformadora de produtos de cortiça do globo. Com as rolhas sempre em primeiro lugar, diversificou o uso da matéria-prima que, hoje em dia, se encontra desde os isolamentos até às pranchas de surf na Nazaré.

A história da Corticeira Amorim é longa, mas repleta de conquistas. Lançada pela mão de António Alves Amorim, foi saltando de geração em geração, até chegar à quarta geração, a de António Rios de Amorim. Com cada uma, evoluiu. E foi conquistando mercado atrás de mercado, da Europa aos EUA, até aterrar na China, com a aposta na qualidade das suas rolhas, mas também na sustentabilidade.

Tornou famosa a cortiça portuguesa, claramente pelas rolhas, que se encontram nas garrafas de vinho, mas também de whisky mais famosas do mundo. Mas também pela multiplicidade de aplicações que conseguiu dar a esta matéria-prima.

Tudo isto tem sido conseguido, ao longo de muitos anos, com esforço, dedicação e muito investimento. Mas esse dinheiro aplicado no desenvolvimento da empresa familiar tem-se traduzido em resultado cada vez mais expressivos. O volume de negócios desta empresa de século e meio ascende aos 700 milhões de euros.

Conheça, momento a momento, a história desta empresa portuguesa.

Família Amorim abre a primeira fábrica de rolhas

Recuando no tempo, a atividade da Corticeira Amorim inicia-se, em 1870, com a fundação da primeira fábrica de produção manual de rolhas de cortiça, no Cais de Vila Nova de Gaia, liderada por António Alves de Amorim. Mas é a década de 90, desse mesmo século, que marca os primeiros passos do que viria a ser o império da família Amorim.

Já em 1908, a família abre uma nova oficina em Santa Maria de Lamas, com o objetivo de alargar a produção. Nesta altura a rolha de cortiça começa a ser vista mais como um produto de luxo, obrigatório nos vinhos de elevada qualidade produzidos pelas melhores caves da época.

Primeira empresa da família nasce em 1922

É no dia de 11 de março de 1922 que nasce a primeira empresa do grupo, a Amorim & Irmãos. Foi criada, na altura, com um capital social de 90 mil escudos, tendo como sócios os filhos de António Alves Amorim e Ana Pinto Alves: José, Manuel, Henrique, Américo, Ana, Rosa, António, Joaquim e Bernardina. Esta segunda geração Amorim imprimiu um novo dinamismo à atividade desenvolvida e tornou a empresa numa referência da indústria corticeira nacional.

Amorim & Irmãos torna-se na maior fábrica de rolhas do norte

Ao longo da década 30, a Amorim & Irmãos tornou-se na maior fábrica de rolhas do norte de Portugal. De forma a potenciar o crescimento a família Amorim adquire, em 1935, um pequeno armazém em Abrantes. Passados três anos, numa década marcada por grandes dificuldades sociais, a Corticeira Amorim constrói o primeiro refeitório para os funcionários, onde a empresa passa servir diariamente uma sopa quente.

Incêndio destrói por completo as instalações da empresa

Após 74 anos de crescimento, um incêndio vem assombrar o que família Amorim trabalhou para construir. Em 21 de março de 1944 um incêndio destruiu completamente as instalações da empresa, em Santa Maria de Lamas, deixando em ruínas a maior fábrica de Vila da Feira. Com esta tragédia, centenas de operários ficam sem trabalho e os prejuízos atingem os 15 mil contos. Dois meses depois, recomeçam as operações a tempo parcial.

Em 1950 a Amorim & Irmãos aposta em aprofundar o conhecimento na cortiça, assim como o seu funcionamento no mercado. A correta valorização desta matéria-prima permite à família recuperar a posição de maior fábrica corticeira da região norte, face ao incêndio que destruiu as instalações da empresa em Santa Maria de Lamas.

Terceira geração assume comando da Amorim & Irmãos

É no ano de 1953 que a terceira geração Amorim assume o comando da Amorim & Irmãos. No período pós-guerra, os quatro irmãos – José, António, Américo e Joaquim Ferreira de Amorim – assumem o leme da empresa e a responsabilidade de alterar a fisionomia da indústria corticeira portuguesa. A década de 50 é marcada também pela primeira viagem de Américo Amorim à União Soviética, que acontece em 1958, e acaba por tornar a Amorim & Irmãos, o maior exportador português para a Europa de Leste.

Economia circular vigente na década de 60

Já com foco na redução de desperdícios, o grupo cria em 1963, a Corticeira Amorim, uma unidade industrial vocacionada para a produção de granulados e aglomerados de cortiça. O objetivo é transformar 70% dos desperdícios produzidos pela Amorim & Irmãos, derivados da fabricação de rolhas.

Corticeira Amorim torna-se responsável por cerca de 75% da produção nacional

Na década de 70 a Corticeira Amorim passa a ser a capital rolheira do país, responsável por cerca de 75% da produção nacional. Nesse mesmo ano, em 1972, é criada a primeira unidade fabril de transformação de cortiça fora de território nacional, a Compagnie Marocaine de Transformation du Liège (Comatral), em Skhirat, Marrocos. Passado um ano, em 1973, a família Amorim inicia com êxito a produção de cortiça com borracha.

Em quatro anos, família abre duas novas empresas

No ano de 1978 a Corticeira Amorim cria a empresa Ipocork – Indústria de Pavimentos e Decoração (atual Amorim Revestimentos). Esta nova empresa marcou a entrada da Corticeira Amorim no mercado dos parquês e dos revestimentos. Passados quatro anos viria a nascer outra empresa da família Amorim, a Champcork Rolhas de Champanhe, empresa direcionada para a produção de rolhas para champanhe e vinhos espumosos.

Grupo avança para a bolsa. É a OPV

Em 1988, as quatro maiores empresas da Corticeira Amorim – Amorim & Irmãos, Corticeira Amorim Indústria, Indústria de Pavimentos e Decoração (Ipocork) e Champcork – Rolhas de Champanhe lançam uma oferta pública de venda de ações representativas do seu capital social na Bolsa de Valores de Lisboa.

Produtos do grupo representam 34% das exportações portuguesas de cortiça

O ano de 1989 representa o primeiro ano de consolidação de contas de toda a atividade corticeira do Grupo. O volume de vendas da Corticeira Amorim, SGPS atinge 23,6 milhões de contos, com os seus produtos a representarem 34% das exportações portuguesas de cortiça. No total, emprega 2.593 trabalhadores que representam 18% do setor.

Grupo Amorim expande oferta e aposta nos isolamentos em cortiça

Com o objetivo de expandir a oferta, em 1997, é criada uma nova unidade. É, assim, a constituída a Amorim Isolamentos direcionada para a produção de aglomerados destinados a isolamentos.

Grupo Amorim altera logótipo

Em 1998, o Grupo Amorim surge com uma nova imagem corporativa. O logótipo Amorim passa a ser uma árvore estilizada com o nome Amorim, simbolizando os princípios do Grupo: harmonia ambiental, força natural e confiança no crescimento, que vem reforçar a identidade e a cultura Amorim.

Mais uma unidade, agora em Ponte de Sôr

Na viragem do século é criada a Amorim & Irmãos – Unidade de Ponte de Sôr. Um polo de preparação da matéria-prima e fabrico de discos para rolhas Twin Top. Nesse mesmo ano há um reforço da estrutura de capitais próprios da Corticeira Amorim, através do aumento do capital reservado a acionistas de 71,5 milhões de euros para 133 milhões de euros: 23,8 milhões de euros por incorporação de reservas e 37,7 milhões de euros por entradas em dinheiro.

Quarta geração assume o comando

Em 2001, António Rios de Amorim, com 34 anos, sucede a Américo Ferreira de Amorim. A quarta geração da família Amorim, ativa no Grupo há mais de uma década, começa assim a assumir papéis de liderança.

António Rios de Amorim, da Corticeira Amorim, está nomeado para melhor CEO na relação com o mercado.

No mesmo ano desenrola-se a constituição da Amorim & Irmãos – Unidade de Coruche. Gémea da fábrica de Ponte de Sôr, esta unidade está vocacionada para a produção de discos para as rolhas de champanhe comercializadas sob a marca Spark. Com a abertura das unidades de Ponte de Sôr e Coruche, a verticalização de todo o processo produtivo de rolhas de cortiça torna-se uma realidade.

Nasce uma nova empresa do grupo, a Amorim Cork Composites

Em 2007 o grupo cria a Amorim Cork Composites, uma nova unidade de negócios da Corticeira Amorim, resultante da integração da cortiça com borracha e aglomerados técnicos.

Corticeira Amorim com foco na sustentabilidade

Assumindo a sua responsabilidade enquanto líder mundial do setor transformador da cortiça, a Corticeira Amorim publica o primeiro e único relatório de sustentabilidade da indústria em 2007. Um ano mais tarde este primeiro relatório de sustentabilidade é distinguido pela “Corporate Register” como um dos três melhores relatórios do mundo na categoria “openess and honesty” e como um dos seis melhores na categoria “relevance and materiality”.

Já com foco na sustentabilidade e na economia circular a Amorim Cork Composites, inaugura, em 2009, a primeira instalação mundial de reciclagem de rolhas de cortiça em Mozelos, Santa Maria da Feira.

Corticeira Amorim é eleita a 25.ª empresa mais influente do setor vinícola

A Corticeira Amorim é considera, em 2009, a 25.ª empresa mais influente do setor vinícola a nível mundial, pela prestigiada revista britânica de vinhos Drinks Business.

Rolhas da Corticeira Amorim escolhidas para vedar whisky mais caro do mundo

No ano de 2010 a Corticeira Amorim desenvolve uma coleção de rolhas capsuladas de luxo. A nova rolha de cortiça natural, denominada “Top Series”, surge no âmbito do compromisso estratégico com a inovação. Esta rolha premium foi escolhidas para vedar o whisky mais caro do mundo, o Dalmore Trinitas 64. Foram produzidas apenas três garrafas de luxo, com um preço que rondava os 118 mil euros por garrafa.

Grande passo em direção à China

Em 2011 a Corticeira Amorim faz uma aliança estratégica entre com uma empresa sediada em Xangai, a Vertex Group. Esta aliança uniu os dois maiores produtores de revestimentos de cortiça e de luxury vinyl tiles (LVT).

Ainda no mesmo ano arrancam com a nova fábrica de preparação de cortiça, em Salgueiros, Ponte de Sôr, com uma área total de 17 hectares e revestem a mítica Sagrada Família, em Barcelona, com o pavimento wicanders da Amorim Revestimentos.

Nasce a Amorim Cork Ventures orientada para a internacionalização

Em 2014 é criada a Amorim Cork Ventures, uma incubadora de negócios da Corticeira Amorim, com o propósito de fomentar o desenvolvimento de novos produtos e negócios com cortiça, orientados fundamentalmente para os mercados externos.

Das rolhas de cortiça às pranchas de surf

O surfista havaiano Garrett McNamara recolocou o mar português na memória do mundo ao surfar a maior onda alguma vez surfada no mundo, recorde ultrapassado em 2017 pelo surfista brasileiro Rodrigo Koxa. Inspiradas por este recorde a Mercedes-Benz Portugal, em parceria com a Corticeira Amorim, desenvolveram, em 2014, uma nova prancha de surf, concebida totalmente em cortiça portuguesa, para o surfista Garrett McNamara. Estas pranchas tow-in, que incorporam cortiça, foram desenhadas para superar o colossal desafio das ondas da Nazaré.

“Quando estás a surfar ondas gigantes precisas de uma prancha flexível e resistente ao impacto. [Uma prancha] que não se parta. Acredito que estas pranchas de surf serão benchmark em termos de tecnologia para os que surfam ondas gigantes”, destacou, à data, Garrett McNamara.

Américo Amorim morre aos 82 anos

O ano de 2017 foi marcado pelo falecimento de Américo Amorim, o carismático líder da terceira geração da família Amorim, presidente da Corticeira Amorim entre 1953 e 2001. O empresário foi considerado o homem mais rico de Portugal, ficando na 385ª posição na lista das pessoas mais ricas do mundo, em 2017, do ranking da Forbes. O “Rei da Cortiça”, como era apelidado pela revista norte-americana, faleceu com 82 anos e uma fortuna avaliada em 4,4 mil milhões de dólares (mais de quatro mil milhões de euros).

Corticeira Amorim celebra 30 anos na bolsa

O ano 2018 representou um marco histórico para o grupo ao celebrar 30 anos na bolsa. A abertura em bolsa do capital da Corticeira Amorim teve iniciou em abril de 1988, a que se seguiram a Ipocork e a Amorim & Irmãos, em junho, e a Champcork, em julho. Um ano mais tarde, foi lançada uma oferta pública de troca de ações da Corticeira Amorim pelos títulos das restantes empresas.

Espumantes sem sabor a rolha by Corticeira Amorim

No ano de 2019 a Corticeira Amorim descobre uma solução para os “espumantes sem sabor a rolha”. Foi antes do virar da década que o grupo lançou as primeiras rolhas de cortiça para vinhos espumantes sem sabor a rolha. Graças à tecnologia NDtech Sparkling, resultado de dois anos de investimento em I&D, a empresa transformadora de produtos de cortiça criou um sistema que acabou por conseguir replicar nas suas rolhas para espumantes.

Amorim aposta no design para conquistar os Estados Unidos

Sempre com foco em grandes voos, um dos objetivos do grupo Amorim para 2020 é conquistar os Estados Unidos. Como? A empresa procura levar a cortiça portuguesa a Nova Iorque, com foco na sustentabilidade climática. Criou o projeto City Cortex 2020 que tem como foco colocar a cidade de Nova Iorque e a cortiça lusitana lado a lado. O objetivo é reestruturar uma das maiores metrópoles do mundo de forma sustentável.

O designer Stefan Sagmeister, um dos responsáveis pelo mais recente projeto da Corticeira Amorim, acredita que “a cortiça é o melhor material para combater o problema da poluição sonora em Nova Iorque”, afirma o designer em conversa com o ECoolHunter.

Atualmente a Corticeira Amorim atua em mais de 100 países e produz mais de 25 milhões de rolhas por dia, o que equivale a 5,5 mil milhões de rolhas por ano.

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