Empresas europeias temem redução de compras pela China face a acordo com EUA

  • Lusa
  • 16 Janeiro 2020

O presidente da Câmara do Comércio da União Europeia alerta que é possível que o acordo assinado entre os EUA e a China, levem a que Pequim substitua os produtos europeus pelos norte-americanos.

A Câmara de Comércio da União Europeia na China expressou esta quinta-feira receios de que a promessa de Pequim de importar 200.000 milhões de dólares em bens norte-americanos resulte numa quebra das importações chinesas de produtos europeus.

“[O acordo parcial China – Estados Unidos) possivelmente vai afetar as nossas exportações para a China“, afirmou o presidente da Câmara, Jörg Wuttke, numa conferência de imprensa realizada em Pequim, alertando para o facto de os compromissos assumidos por Pequim poderem levar a que substitua produtos europeus por norte-americanos.

Segundo o acordo assinado na quarta-feira, em Washington, a China comprometeu-se a importar 200 mil milhões de dólares (quase 180 mil milhões de euros) adicionais em bens oriundos dos Estados Unidos, nos próximos dois anos, incluindo produtos agrícolas e bens manufaturados, para reduzir o deficit comercial entre os dois países.

Em 2018, os Estados Unidos exportaram mercadorias no valor de 120.000 milhões de dólares para a China.

Os Estados Unidos sempre defenderam a concorrência e a abertura e é muito interessante ver que agora dizem à China o que comprar e onde comprá-lo. (…) De repente, o líder do mundo livre começa a tornar-se num sistema parecido com o chinês“, observou Wuttke.

“É irónico”, acrescentou.

Embora tenha comemorado as “boas notícias” que marcaram o fim da “espiral negativa” na guerra comercial entre China e EUA, o representante das empresas europeias no país asiático reiterou as críticas a este novo contexto de um “comércio direcionado”, que na sua opinião “reescreve a globalização”.

As dúvidas da Câmara também abordam partes específicas do acordo, que incluem, por exemplo, um aumento das importações de aço dos EUA, um setor no qual a China tem já um problema de superprodução.

Wuttke comemorou, no entanto, as palavras “muito encorajadoras” do vice-primeiro-ministro chinês Liu He, que disse em Washington que o acordo não afetará países terceiros.

“Isto indica que talvez a China não esteja disposta a ser forçada a comprar apenas produtos norte-americanos, que queira manter o seu direito de obter os melhores e mais competitivos produtos no mercado global”, disse.

Em relação ao futuro da guerra comercial, o líder da Câmara lembrou que o “verdadeiro desafio” é a luta pelo domínio tecnológico: “Há uma tremenda pressão dos Estados Unidos sobre os negócios europeus, no sentido, por exemplo, de excluir as redes de quinta geração do [grupo chinês] Huawei”.

O representante disse, no entanto, que a Europa, tal como a China, “não gosta que lhe digam onde e o que deve comprar”.

O vice-presidente da agência, Jens Eskelund, lembrou ainda que a Europa é a principal fornecedora de tecnologia para a China, uma questão sobre a qual Wuttke acrescentou: “Os nossos membros sofrem com a guerra comercial porque a maioria opera na China para vender na China. Vendemos para muitos exportadores chineses, muitos de nós fomos afetados pelo aumento das taxas alfandegárias”.

O acordo parcial China – EUA não anula a maior parte das taxas punitivas impostas pelos EUA sobre 360 mil milhões de dólares (323 mil milhões de euros) de produtos importados da China e exclui reformas profundas no sistema económico chinês, incluindo a atribuição de subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.

Os Estados Unidos vão, assim, manter taxas alfandegárias adicionais de 25% sobre 250 mil milhões de dólares (quase 225 mil milhões de euros) de bens importados da China e de 7,5% sobre mais 120 mil milhões de dólares (quase 110 mil milhões de euros).

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