Mapfre Economics explica o que a indústria deve esperar e quais os ramos mais vulneráveis

  • ECO Seguros
  • 29 Abril 2020

As piores crises económicas dos últimos 40 anos resultaram em forte retrocesso nos prémios de seguro em valor agregado. O forte gabinete de estudos da Mapfre explica o que a indústria pode esperar.

Em geral, existe uma correlação entre os ciclos de crescimento económico e a evolução no volume de prémios de seguros que, por vezes, expande acima das taxas de variação do PIB. No caso atual, sustenta a Mapfre, um cenário de incerteza extrema devido ao impacto sem precedentes da covid-19 sobre a atividade, estima-se uma quebra na evolução do negócio segurador, mas com efeito assimétrico nas diferentes linhas do negócio e diferenciado consoante se trate de mercados emergentes ou economias mais industrializadas.

A assunção é da Mapfre Economics num documento em que o research do grupo espanhol faz análise extensa e detalhada dos efeitos da crise “covid-19’ para um conjunto significativo de economias (Zona euro, EUA China) e, em particular, nos seguros, abordando o impacto setorial em alguns países da Europa (Espanha, Itália, Alemanha e Reino Unido), da Ásia (China, Japão, Turquia, Indonésia e Filipinas) e do continente americano (EUA; México, Brasil e Argentina).

O impacto da crise nos seguros é perspetivado em função de elementos do cenário económico e das medidas sanitárias. Na perspetiva económica, os fatores de desaceleração da atividade, taxas de juro baixas e volatilidade explicam riscos de liquidez (por via do decréscimo da procura de seguros, aumento da sinistralidade em Não Vida e consequente pressão na estrutura de custos das seguradoras, além dos resgates no ramo vida). Outros impactos decorrem indiretamente dos riscos de liquidez na economia, risco de mercado e risco de crédito.

Sintetizando a ameaças que, por via das medidas sanitárias, se colocam às seguradoras, o estudo aponta por um lado riscos de natureza operacional – pela sinistralidade – nos ramos saúde, vida e produtos de rendimento vitalício e, por outro, os que decorrem da atividade de subscrição, classificados como sendo de natureza reputacional e de adversidade na seleção dos riscos subscritos.

Caracterização do impacto por ramos de seguro

À luz do estudo “Panorama Económico e Setorial 2020”, elaborado e publicado pela Mafpre Economics, departamento de pesquisa e estudos da Fundación Mapfre, o ramo automóvel, as coberturas de empresas e indústrias e o ramo Vida serão os mais atingidos pelas consequências de curto prazo na presente crise.

os seguros de Saúde têm mostrado bastante resiliência em situações de crise, comportando-se até de forma anticíclica em alguns dos piores momentos das crises. Por seu lado, o seguro habitação deverá mostrar algum abrandamento, sem registar retrocesso acentuado, refere o relatório trimestral da Mapfre Economics.

Em Não-vida admite-se um aumento dos sinistros, nomeadamente nos seguros de viagem, nos seguros que cobrem a eventualidade de desemprego temporário do tomador, nos seguros que cubram atrasos ou interrupções na cadeia de abastecimento de empresas, bem como nas coberturas de interrupção de negócio e perdas de exploração. Também o seguro de crédito, tanto para exportações como para transações comerciais internas, sofrerá aumento de sinistralidade significativa.

Assim, refere o estudo, dependendo da estrutura da carteira de riscos de cada seguradora, ambas as situações [tanto na perspetiva económica como na vertente sanitária] “implicarão um aumento da taxa de sinistralidade e, consequentemente, uma maior tensão na sua estrutura de custos, sobretudo porque a queda da procura de seguros pode implicar um problema de escala a curto prazo, uma vez que os níveis de custos operacionais fixos não podem ser reduzidos a uma velocidade semelhante à da queda dos proveitos de prémios”.

Por fim, o segmento Vida-poupança e produtos de rendimento vitalício tem como agravante mais desfavorável (com implicação estrutural a médio e longo prazo) o contexto de taxas de juro baixas que já era um problema das economias “desenvolvidas” antes da pandemia e agora se estende às economias “menos desenvolvidas”. O relatório adverte ainda que, por via da redução de rendimentos pessoais e de família (por causa do confinamento) emerge um aumento potencial de resgates em seguros de vida.

No documento salienta-se ainda os possíveis efeitos da crise sobre os balanços e a solvência das companhias seguradoras que, se prevê, se mantenha (como no caso de Espanha) em níveis relativamente conservadores.

Contração mundial entre 3% e 8%; Espanha em declínio de quase 6%

Em termos da evolução económica, o relatório considera dois cenários, um de base e outro de maior stress, visto como mais adverso ou de maior pressão, em função dos impactos gerados pela propagação da pandemia e das medidas de supressão ou contenção que se adotem.

Para definir os intervalos de contração económica no cenário base e, embora admitindo um cenário alternativo mais grave (de depressão económica) que o estudo evita desenvolver, a Mapfre recorreu a 35 fontes institucionais atualizadas em abril , sobretudo a bancos internacionais e a agências de notação financeira, mas incluindo também previsões do FMI e do Banco de Espanha.

Com base nesses critérios e enquanto a crise persistir, o relatório da seguradora estima que a economia mundial vai contrair entre 3% e 8,2% em 2020. “O custo económico da pandemia é enorme, devido às perturbações nas cadeias de abastecimento, à aversão ao risco e às implicações financeiras que pode ter”, assinala o relatório.

Para Espanha, o gabinete Mapfre Economics antevê uma derrapagem de entre 5,6% e 10,7% no produto, uma estimativa que o research da seguradora avisa que poderá ser revista consoante durem as condições de confinamento.

Com a economia do país a entrar “rapidamente em recessão”, o estudo aponta para uma taxa de desemprego de 18% no final de 2020, não sendo de excluir que, no cenário mais severo, se aproxime dos 23% que tocou durante a crise financeira iniciada em 2009. Ademais, ao nível das contas públicas, o relatório refere que os gastos correntes do esforço que está a ser realizado para estabilizar a economia terão “impacto colossal” no défice e na dívida, a qual deverá superar 115% do produto no final de 2021.

Para a zona euro no seu conjunto, o estudo prevê uma contração de pelo menos 5,1%, estimativa “que dependerá da duração e profundidade da contração da atividade económica, da eficácia das medidas de apoio, tanto sanitárias como económicas, e, muito especialmente, dos compromissos institucionais que forem alcançados” para financiar a sobrevivência do eurossistema.

No cenário de base mais adverso, o PIB conjunto da região de integração económica e monetária poderia estatelar-se uns inéditos 12,4%. Porém, de acordo com o mesmo relatório, parece que os lideres europeus já perceberam que o Euro enfrenta a pior crise desde a fundação do projeto europeu e, nessa condição, vão apresentando entendimentos.

O crescimento económico voltará a ser mais ou menos forte em 2021 e assumirá a forma de um aumento da dívida pública de, pelo menos, 15% do PIB mundial.

Aceda ao relatório na íntegra .

 

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Mapfre Economics explica o que a indústria deve esperar e quais os ramos mais vulneráveis

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião