Tranquilidade com 40 milhões de prejuízo em 2019

Reforço de provisões, as tempestades Elsa e Fabien, imparidades em Angola, foram causas que levaram a um agravamento dos resultados da Seguradoras Unidas, que agrega a Tranquilidade, Açoreana e LOGO.

O último ano ainda na posse do fundo Apollo e de passagem para a Generali foi negativo para a Seguradoras Unidas, companhia que explora as marcas Tranquilidade, Açoreana e LOGO. De cerca de 50,6 milhões de resultados positivos em 2018 passou para 40,1 milhões negativos durante o ano passado. Questionada por ECOseguros, fonte da Seguradoras Unidas/Tranquilidade/Generali afirma que “tudo estava previsto na data da assinatura do contrato de compra em junho de 2019, pelo que nada se altera em relação ao valor ou condições de venda dos 100% do capital acordados entre a Apollo e a Generali”.

A quebra de resultados é espelhada no aumento do rácio combinado (indicador de margem operacional) da companhia de 95,4% para 105,4%, significando que os resultados dos investimentos financeiros da companhia não compensaram perdas no negócio segurador tradicional.

As perdas deveram-se segundo a fatores não recorrentes na companhia como:

  • Reforço de provisões técnicas Vida e Não-Vida, neste caso devido ao ramo acidentes de trabalho, relacionadas com o teste de adequação de responsabilidades no montante de, respetivamente, 20,6 e 28,2 milhões de euros;
  • Reforço de provisões técnicas nos ramos Acidentes de Trabalho no montante de cerca de 20 milhões de euros devida à alteração da tabela de mortalidade, e no ramo Automóvel, na sua componente de danos corporais, no montante de cerca de 18 milhões de euros;
  • Custos com sinistros relacionados com a ocorrência das tempestades Elsa e Fabien, no montante de 5 milhões de euros, líquidos de resseguro;
  • Custos com o processo de restruturação da Companhia, no montante de 10 milhões de euros;
  • Imparidade nas participações nas subsidiárias africanas, no montante global de 1,3 milhões de euros, relacionada com Angola e com a desvalorização da moeda local.

O resultado de 2018, de 50 milhões de euros, tinha por seu lado sido influenciado positivamente, segundo a companhia, por eventos de caráter não recorrente como mais valias decorrentes da alienação das participadas Europ Assistance e GNB Seguros nos montantes de 19,8 e 12,2 milhões de euros, respetivamente, pela imparidade nas participações nas subsidiárias africanas, no montante global de 5,2 milhões de euros e ainda o desreconhecimento de impostos diferidos (com origem na Tranquilidade) no montante de 24,4 milhões de euros.

Em relação à atividade comercial, a produção de seguro direto atingiu 871,5 milhões de euros em 2019, o que significa uma variação de +9 % em relação ao ano anterior, reforçando a sua 3ª posição no ranking nacional de seguradoras. No mesmo período o mercado segurador apresentou uma variação negativa de 5,7% relativamente a 2018, devido apenas à descida de vendas no ramo Vida.

O crescimento significativo no volume de prémios de seguro direto de 72,3 milhões de euros, deveu-se essencialmente aos ramos Acidentes de trabalho +17,1%, ou seja, +27,8 milhões de euros e em Automóvel +9,8%, ou seja, +32,3 milhões de euros. O ramo Saúde cresceu 9,7% face ao ano anterior, também acima do mercado que cresceu 8,7%.

Durante 2019 foi possível verificar que a Tranquilidade/Seguradoras Unidas tem apenas 5,5% do seu negócio no ramo Vida. Os principais ramos são automóvel com 41,8% dos prémios, acidentes e doença com 31,3% e incêndio, que inclui multirriscos, com 13,3% da receita de prémios.

Ainda na área comercial a Tranquilidade revelou que em 2019, colocou o foco nos agentes profissionais em particular na rede exclusiva, decresceu significativamente os agentes com carteiras reduzidas e concluiu o processo de rebranding da rede física, que conta atualmente com 590 lojas com imagem Tranquilidade, no continente e Madeira e com imagem Açoreana, nos Açores. Destas lojas, 13 são próprias em Lisboa, Porto e 11 nos Açores e 239 são exploradas por agentes exclusivos da marca. Como resultados, os parceiros multimarca e exclusivos cresceram em Não-Vida 13,8% face a 2018, com principal relevo em Acidentes de Trabalho e Automóvel. A companhia adianta ainda que os corretores apresentaram um crescimento de 4,6%, também com grande responsabilidade dos ramos Automóvel e Acidentes de Trabalho e que as parcerias cresceram globalmente 15%, assente sobretudo em Automóvel retalho.

Em custos com sinistros existiu um agravamento geral de 10% em ralação a 2018, com particular incidência em acidentes e doença e automóvel. Os ramos que significam dois terços do negócio da Tranquilidade são os obrigatórios auto e trabalho, exatamente os menos rentáveis do setor segurador. A própria companhia cita os dados da APS para acidentes de trabalho com o rácio combinado em junho de 2019, de 103,6% e em automóvel o mesmo rácio combinado é de 101%. Estes valores acima dos 100% significam que as receitas dos prémios não cobrem em 3,6% e em 1%, respetivamente, os custos das companhias com sinistros e despesas associadas aos ramos.

Os custos operacionais ascenderam a 117,8 milhões de euros em 2019, -4,8% em relação ao ano anterior, dos quais os custos com Pessoal significaram 58,3 milhões de euros. No final de 2019 a Seguradoras Unidas tinha 920 colaboradores.

No ano de 2019, o resultado da atividade financeira da Seguradoras Unidas, foi positivo em 14,1 milhões de euros o que representa uma redução de 48,6 milhões de euros, face ao ano anterior. A rentabilidade média dos ativos financeiros da Companhia foi de +0,9% (+3,8% em 2018) e, incorporando o efeito dos ganhos não realizados contabilizados na reserva de justo valor, a rentabilidade foi de +5,1% (+2,3% em 2018).

Consequências da Covid-19

A publicação das contas da Seguradoras Unidas COVID-19 já seguiu as instruções dadas pela ASF, entidade reguladora que incitou todos os operadores do setor a darem indicações sobre consequências da pandemia na sua atividade, uma vez que os relatórios e contas são apresentados já alguns meses após o começo do novo ano financeiro.

A companhia salienta que “o início do ano 2020 encontra-se a ser marcado por uma substancial e abrupta alteração nas relações sociais, em particular com o chamado isolamento social, e nas práticas laborais, em particular pela abstenção das mesmas ou conversão para regime de teletrabalho”. Como consequência, a Tranquilidade aponta que “haverá provavelmente lugar a um efeito combinado de redução do consumo e da produção, sendo por isso esperadas repercussões na atividade económica com respetivo impacto transversal a todo os setores económicos da sociedade”.

No que respeita à sua atividade, a companhia afirma ainda não ser possível aferir a dimensão dos impactos, estes serão potencialmente negativos dada a estreita relação da Companhia com o mercado segurador, deste com a economia e desta com a população.

Diz o relatório que “São expectáveis efeitos negativos na procura de produtos de seguros e no incremento de anulações de contratos existentes, o que deverá implicar um menor crescimento, ou eventualmente um decréscimo da receita, se bem que porventura compensado de alguma forma pela também expectável redução de sinistralidade em virtude das limitações de circulação de pessoas e da suspensão compulsória da maioria das atividades económicas o que conduzirá certamente a quebras relevantes da atividade comercial, industrial e agrícola”.

Adicionalmente, a seguradora assinala que nos investimentos, representados por ativos financeiros, a maior parte cotados em bolsas, são expectáveis efeitos negativos derivados da natural desvalorização de cotações e índices, bem como da evolução das taxas de juro associadas aos mercados obrigacionistas.

Apesar deste quadro “com elevada incerteza” os impactos estão muito dependentes da severidade e duração do surto epidémico, diz a Seguradoras Unidas, mas com os dados disponíveis ao momento “não se perspetivam efeitos que conduzam a níveis de solvência e equilíbrio financeiro, que ponham a causa as exigências regulamentares exigidas no setor segurador”, conclui o relatório da seguradora.

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