De “melhor ministro” à saída para o Banco de Portugal. Veja as reações políticas à saída de Centeno

Os principais partidos já reagiram ao pedido de demissão apresentado por Mário Centeno. Foi o "melhor ministro das Finanças de sempre" para o PS, mas o PSD fala em "falta de seriedade".

A notícia do pedido de demissão de Mário Centeno já chegou ao Parlamento. Um a um, os partidos já começaram a reagir à saída do ministro das Finanças e a passagem da pasta a João Leão, atual secretário de Estado do Orçamento. Há críticas e elogios ao trabalho de Centeno, esperanças no futuro ministro e especulações sobre a possível nomeação do ministro demissionário para o cargo de governador do Banco de Portugal.

Para Duarte Pacheco, do PSD, Mário Centeno “não tinha condições para continuar” na liderança do Ministério das Finanças. “Todos percebemos que, nestas semanas, estivemos a viver um ligeiro teatro e com alguma hipocrisia de parte a parte do primeiro-ministro e do ministro das Finanças. Mas concretizou-se o que dissemos. Não tinha condições para continuar”, afirmou o social-democrata, numa referência à autorização de transferência de dinheiro para o Novo Banco sem o conhecimento do primeiro-ministro, um caso que obrigou os dois governantes a uma reunião de emergência na noite de 13 de maio.

Neste momento, para o PSD, o importante é assegurar que Mário Centeno não acaba por ser nomeado governador do Banco de Portugal por João Leão. “Esperamos que essa remodelação não seja premiada à revelia do Parlamento para outras funções no Estado, para que a independência das instituições seja salvaguardada”, afirmou. Dito isto, referindo-se a João Leão, Duarte Pacheco indicou que “é uma pessoa competente e que desempenhou de forma sagaz a sua função”, lembrando que o Governo assumiu que “não haverá grandes alterações de política orçamental.

“O que esperamos é que [João Leão] seja muito mais verdadeiro do que era o Dr. Mário Centeno. Durante quatro ou cinco anos, foi feita uma política de consolidação das contas públicas, o que é positivo, [embora] através do aumento da carga fiscal, de cativações e do corte do investimento público. Mas isto nunca foi assumido”, considerou o deputado do PSD. “A cada dia, a cada minuto, alterar o conceito de carga fiscal para dizer que não estava a aumentar é falta de seriedade”, concluiu o deputado.

O que esperamos é que [João Leão] seja muito mais verdadeiro do que era o Dr. Mário Centeno. Durante quatro ou cinco anos, foi feita uma política de consolidação das contas públicas, o que é positivo, [embora] através do aumento da carga fiscal, de cativações e do corte do investimento público. Mas isto nunca foi assumido.

Duarte Pacheco

Deputado do PSD

“O melhor ministro das Finanças de sempre”

Já do lado do PS, o partido do Governo, a postura é de elogio ao ministro das Finanças. Ana Catarina Mendes disse mesmo que Centeno foi “o melhor ministro das Finanças de sempre”.

“Todos em Portugal reconhecem o professor Mário Centeno a enorme capacidade de liderar a equipa das Finanças, de prestigiar o país e de credibilizar as instituições europeias. Se, hoje, Portugal tem o enorme prestígio que tem junto da Europa e no mundo, isso deve-se muito a António Costa a liderar o Governo e Mário Centeno como ministro das Finanças”, apontou a líder do grupo parlamentar socialista.

Recusando reagir à hipótese de Mário Centeno ser conduzido ao cargo de governador do Banco de Portugal, Ana Catarina Mendes apontou que “esta saída de Centeno é uma substituição dentro da sua própria equipa”. “O professor João Leão será, ele também, capaz de continuar a política” seguida até aqui, considerou. “João Leão está nesta equipa há cinco anos com uma estratégia orçamental com resultados muito positivos”, apontou.

Mário Centeno foi o melhor ministro das Finanças de sempre.

Ana Catarina Mendes

Líder do grupo parlamentar do PS

“Banco de Portugal está infiltrado por banqueiros”

Do lado do PAN, André Silva considerou “profundamente lamentável” o anúncio da saída de Centeno precisamente no dia em que o Parlamento debateu propostas para alterar a forma como é nomeada a figura do governador do Banco de Portugal. Deste modo, o partido assume a missão de “acabar com esta dança das cadeiras entre banca comercial, Ministério das Finanças e Banco de Portugal”. “Não há falta de ética na pessoa, mas falta de ética na passagem do ministro das Finanças para o Banco de Portugal”, acrescentou.

Sobre a saída do ministro, André Silva indicou que o partido preferia a manutenção de Centeno no cargo. “Defendemos que Centeno deveria manter-se, por uma questão de credibilidade e estabilidade do pais e imagem de Portugal no estrangeiro, junto dos mercados, que Mário Centeno conseguiu granjear. Mário Centeno deveria manter-se”, concluiu o deputado.

A deputada Paula Santos, do PCP, não quis “alimentar especulações” sobre o Banco de Portugal e recusou abordar o tema. “Aquilo que é importante para o PCP é efetivamente que opções políticas serão adotadas e é por isso que nos iremos bater”, apontou, elencando preocupações do partido, como a “valorização dos salários” dos trabalhadores e a resposta social às dificuldades geradas pela pandemia.

Quanto a Mariana Mortágua, deputada do BE, mostrou convicção de que ainda há margem para o partido negociar propostas para o Orçamento Suplementar já com João Leão como ministro das Finanças. Mas recusou falar sobre a saída de Centeno em concreto: “Não sou comentadora política, não estou aqui para comentar o passado de Mário Centeno”, rematou a bloquista.

Sobre a possibilidade de Centeno vir a ocupar o cargo de governador do Banco de Portugal, Mariana Mortágua considerou que a figura do governador é “demasiado séria” para a sua nomeação estar assente numa só pessoa. E apontou baterias à entidade liderada atualmente por Carlos Costa: “O Banco de Portugal é uma instituição que está infiltrada por banqueiros. Não aceitamos que se trate governantes e banqueiros da mesma forma. O Banco de Portugal tem de ter mais escrutínio e não ter estatuto de exceção que tem, por exemplo, Carlos Costa”, sinalizou.

Defendemos que Centeno deveria manter-se, por uma questão de credibilidade e estabilidade do pais e imagem de Portugal no estrangeiro.

André Silva

Deputado do PAN

“Péssimo timing” para a saída de Centeno

O presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, disse que o partido tem tentado perceber “quanto é que o ‘Ronaldo das Finanças’ seria transferido”. Fala, por isso, num “péssimo timing para esta remodelação no Governo”, até porque o ministro das Finanças que leva ao Conselho de Ministros um Orçamento Suplementar “não será o mesmo a responder perante o Parlamento” sobre esse mesmo documento.

Quanto ao tema da eventual nomeação para o Banco de Portugal, o líder do CDS disse defender que a nomeação do governador “deve ser feita sob proposta do Presidente da República, ouvida a Assembleia da República”.

Para André Ventura, deputado único do Chega, “é irónico que Mário Centeno saia antes de ser apresentada legislação que cria novas regras para a nomeação de entidades independentes”. “Fica muito mal ao Governo”, afirmou, criticando Centeno por abandonar “o cargo no momento em que mais se precisa dele”.

Por fim, para João Cotrim Figueiredo, deputado único da Iniciativa Liberal, a saída de Centeno do Governo é “o segredo mais mal guardado”. E referindo-se à promessa de continuidade de políticas por João Leão, feita pelo primeiro-ministro, o deputado disse que “é uma má notícia”. “Foi responsável pela maior carga fiscal e abuso de competências pela autoridade tributária”, indicou. “Vão mudar uma equipa de um ministério fundamental a meio de jogo”, criticou.

(Notícia atualizada pela última vez às 14h53)

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