Mexia de saída da EDP após 13 mil milhões de lucros e 24 milhões em salários
Ao longo de 14 anos nos comandos da EDP, António Mexia apresentou lucros estratosféricos e remunerou muito bem os acionistas, mas também foi muito bem pago.
Foi em 2006 que António Mexia entrou na EDP para assumir os comandos da elétrica. 14 anos depois, e a cerca de um ano de completar o quinto mandato à frente da EDP, o gestor arrisca sair pela “porta pequena”. O juiz Carlos Alexandre validou a proposta do Ministério Público e determinou com efeito imediatos a suspensão de António Mexia como CEO da elétrica, a par de João Manso Neto na EDP Renováveis, no âmbito do caso EDP. Trata-se de uma forte machadada num gestor que apresentou lucros estratosféricos e remunerou muito bem os acionistas ao longo dos anos em que liderou a EDP, mas em que também foi muito bem pago.
Quando entrou para a EDP em abril 2006, António Mexia vinha de uma experiência curta enquanto ministro das Obras Públicas do Governo (também ele curto) de Pedro Santana Lopes. Ao longo dos 14 anos que se seguiram, a elétrica acumulou lucros de mais de 13 mil milhões de euros, quase nove mil milhões dos quais foram para os bolsos dos acionistas. Mas essa generosidade foi retribuída: entre salários e prémios, Mexia recebeu até ao final do ano passado mais de 24 milhões de euros. Números dessa monta fazem com que Mexia seja o CEO mais bem pago da praça portuguesa.
Lucros a rondar os mil milhões por ano
Em média, a EDP lucrou 950 milhões de euros por ano entre 2006 e 2019. Pode-se pensar que não era difícil obter um registo desta magnitude tendo em conta o perfil da empresa que tem atividade num mercado muito regulado e com muitas rendas garantidas. Mas foi com Mexia que a EDP se virou definitivamente para a área das energias renováveis e para o mercado norte-americano, decisões de risco que estão hoje a ser devidamente recompensadas.
EDP lucra e dá a lucrar
Fonte: EDP e Reuters
Hoje em dia, a EDP Renováveis é um dos principais players mundiais no setor das energias limpas — atingiu lucros de 475 milhões de euros no ano passado e deverá continuar a ser a galinha dos ovos de ouro da EDP. E por isso se percebe a razão pela qual a EDP tentou resgatar em 2017 a totalidade do capital da subsidiária, numa oferta pública de aquisição que resultou num flop tremendo para Mexia, que não estava disponível para abrir os cordões à bolsa. Mas o interesse na EDP Renováveis mantém-se, num setor que está mais do que “na moda”.
Para os acionistas, Mexia é sinónimo de dividendos generosos e consistentes. Todos os anos foram parar aos bolsos dos investidores uma média de 600 milhões de euros sob a forma de dividendos. Isto corresponde a um payout anual a rondar os 60%. Já todos se habituaram a ver a EDP como a rainha dos dividendos na bolsa nacional. Não há empresa em Lisboa que dê tanto dinheiro aos acionistas.
Ações da EDP ganham 33% em 14 anos
Fonte: Reuters
Em termos acumulados, cada ação deu direito a dividendos no valor de 2,4 euros. Isto num período de 14 anos em que os títulos apresentaram uma performance também positiva. Quando Mexia chegou à EDP, em abril de 2006, cada título da elétrica valia 3,25 euros. Hoje em dia, cada ação transaciona nos 4,33 euros, traduzindo num ganho de 33%.
Mas se não há empresa em Lisboa que dê tanto aos investidores, também não há gestor no PSI-20 tão bem remunerado como António Mexia. Entre prémios e salários, já acumulou 24,37 milhões de euros, segundo detalham os relatórios da empresa. Dá uma média de 1,74 milhões de euros por ano. É muito? “O meu salário equivale ao de um defesa direito de um clube do meio da tabela. Não me considerando eu um jogador desses”, disse Mexia em 2006 numa entrevista à Sábado.
Mexia recebeu em média 1,74 milhões por ano
Fonte: EDP e Reuters
Os últimos anos de Mexia à frente da elétrica não têm sido, contudo, tão fulgurantes em termos dos resultados conseguidos. Após um recorde de 1.113 milhões, em 2017, nos últimos dois anos os lucros da EDP caíram para quase metade. Resultado direto de medidas do Governo do PS, que anularam mesmo os lucros da operação da elétrica em Portugal, algumas delas em discussão em tribunal. Tal não fez, no entanto, qualquer “mossa” nos dividendos a distribuir pelos acionistas. Nos últimos anos superaram, aliás, sempre os lucros angariados.
Antes disso, a nomeação de António Mexia para o último mandato à frente da EDP que se iniciou em abril de 2018 gerou alguma controvérsia. O gestor chegou à assembleia geral que o nomeou alguns meses depois de o seu nome ter sido colocado em causa pelos acionistas, agastados com as polémicas colecionadas nos anos anteriores.
Foi constituído arguido a 2 de junho de 2016 no âmbito da investigação do Ministério Público ao caso das rendas dos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC) atribuídas à EDP e onde há suspeitas de corrupção. Agora, três anos depois, António Mexia arrisca a ver “fechar a porta” atrás de si na EDP.
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