Ordem é preparar vacinação em massa, mas Portugal vai aguardar avaliação da Agência Europeia de Medicamentos

Os hospitais britânicos estarão a preparar-se para receber a potencial vacina da Oxford já na próxima semana. Contudo, o Infarmed prefere aguardar pela avaliação da Agência Europeia de Medicamentos.

O Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) alertou os países para começarem a preparar uma campanha de “vacinação em massa”, assim que comecem a ser disponibilizadas as primeiras vacinas contra a Covid-19. Esta semana foi também noticiado pelo The Sun que os hospitais do Reino Unido deverão começar a receber as primeiras vacinas desenvolvidas pela Universidade de Oxford, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, no início da próxima semana. Ainda assim, apesar de o Governo ter já encomendado 6,9 milhões de doses desta potencial vacina, o Infarmed prefere aguardar pela avaliação da Agência Europeia de Medicamentos para avançar com uma data sobre a distribuição das primeiras doses deste fármaco.

Num relatório publicado esta segunda-feira, o Centro Europeu de Controlo de Doenças adverte que “é preciso preparar e treinar recursos humanos dedicados a uma campanha de vacinação em massa”, acrescentado que apesar de ainda não existir nenhuma aprovação de uma potencial vacina na Europa contra o novo coronavírus, quando esse momento chegar deve existir uma “monitorização ativa e passiva de eventos adversos após a imunização”,dados robustos e oportunos de cobertura de vacinação”, tanto a curto como a longo prazo e uma “monitorização da aceitabilidade da vacina e pesquisa comportamental”.

Nesse contexto, a agência europeia para a saúde pública alerta que são precisos profissionais de saúde, assim como logística, comunicação e gestão para que a campanha de vacinação funcione bem. Dado que numa fase inicial as doses disponíveis serão “limitadas”, o ECDC sinaliza a importância de garantir um “acesso ético e equitativo à vacinação”, sugerindo que sejam definidos grupos prioritários para a vacinação. Assim, deve ser ministrada primeiro aos grupos de risco, trabalhadores de setores essenciais e grupos mais vulneráveis, tendo em conta a idade e as doenças preexistentes.

Milhares de cientistas por todo o mundo procuram uma solução para a pandemia, sendo que esta “corrida” em contrarrelógio conta já com quase 200 potenciais vacinas em desenvolvimento. Destas, 154 estão em avaliação pré-clínica (sem testes em humanos) e 44 em avaliação clínica (com testes em humanos, em diferentes etapas – fases 1, 2 e/ou 3), últimos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicados a 19 de outubro.

Um destes últimos casos é o da vacina que está a ser desenvolvida pela Universidade Oxford em colaboração com o laboratório AstraZeneca. Esta vacina encontra-se na fase 3 de ensaios clínicos, o que permite uma testagem alargada da potencial vacina e é crucial para aferir efeitos secundários, de modo a concluir se é eficaz e segura para a comercialização massificada. Certo é que tem demonstrado resultados promissores. De acordo com os últimos resultados preliminares divulgados, a vacina está a produzir “uma resposta imunitária robusta” em pessoas acima dos 55 anos, segundo revelou o Financial Times (acesso livre, conteúdo em inglês). Trata-se de uma descoberta particularmente relevante pelo grupo etário considerado, dado ser a idade mais avançada um fator de risco para o desenvolvimento de complicações associadas à Covid-19 e para a mortalidade.

Esta notícia surgiu, após os ensaios terem sido suspensos no início de setembro, depois de ter sido identificada uma suspeita de reação adversa séria num participante do estudo. Contudo, dias depois o estudo foi retomado. Ainda em julho, a vacina já demonstrava sinais promissores, com os primeiros dados a apontarem para o facto de se estar perante uma vacina segura, que produzia uma resposta imunitária e que não provocava “efeitos secundários graves”.

Na sequência destes resultados, o The Sun revelou também esta segunda-feira que alguns responsáveis dos maiores hospitais de Londres receberam indicações de que as primeiras doses da vacina chegarão na primeira semana de novembro. Contudo, o secretário de Estado da Saúde, Matt Hancock, veio posteriormente resfriar as expectativas, dizendo que “não descarta essa possibilidade”, mas que a expectativa central é a de que “a maior parte dos lançamentos ocorra no primeiro semestre do próximo ano”, disse em declarações ao The Sun (acesso livre, conteúdo em inglês).

Certo é que a Comissão Europeia já reservou antecipadamente 300 milhões de doses desta futura vacina, estando neste lote incluídas 6,9 milhões de doses para Portugal. Tal como explicou o Infarmed aquando do anúncio, as vacinas serão distribuídas proporcionalmente, conforme o número de habitantes por país. E se numa fase inicial a expectativa era a que de as primeiras doses chegassem em dezembro, agora preferem não antecipar datas. “A utilização da referida vacina na União Europeia está dependente do cumprimento do processo de avaliação da segurança, eficácia e qualidade pela Agência Europeia de Medicamentos“, afirma ao ECO, fonte oficial do Infarmed, acrescentando que “nestas circunstâncias qualquer vacina para a Covid-19 depende desta apreciação, pelo que só após o seu cumprimento se poderá considerar a sua utilização na União Europeia”.

Esta parece ser a mesma estratégia utilizada pelas autoridades de saúde nacionais nos testes rápidos à Covid-19, já que só depois de ter sido demonstrada a sua forte eficácia é que a Direção-Geral da Saúde (DGS) decidiu utilizá-los, isto apesar de já serem utilizados em vários países a nível mundial. Segundo a nova norma da DGS, os testes devem ser utilizados apenas nos casos suspeitos sintomáticos, surtos de Covid e para testar profissionais de saúde. Graça Freitas explicou que a DGS só agora tomou a decisão de usar estes testes porque “são o resultado da evolução do conhecimento”. “Já andamos há muito tempo a ouvir falar de testes rápidos”, mas “só agora temos disponíveis no mercado testes rápidos com boa sensibilidade e boa especificidade”, justificou. Os testes mostram o resultado em 15 a 30 minutos e começaram a ser utilizados dentro de duas semanas.

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