ASF quer reforço de coberturas contra riscos catastróficos

  • ECO Seguros
  • 4 Novembro 2020

As famílias e empresas têm maior vulnerabilidade na exposição a riscos catastróficos, devido a baixa cobertura de seguros para eventos adversos em Portugal, adverte o Supervisor.

As alterações climáticas e a atual pandemia vieram realçar a “problemática do protection gap, isto é, do diferencial entre as perdas económicas decorrentes de eventos adversos e aquelas que se encontram efetivamente protegidas por intermédio de cobertura seguradora”, sinalizou a presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), durante um evento em Lisboa.

A penetração de seguros em Portugal com coberturas de riscos catastróficos “é reconhecidamente baixa
, especialmente quando comparada com outras economias desenvolvidas, amplificando a vulnerabilidade social e da atividade económica para riscos desta natureza”, recordou Margarida Corrêa de Aguiar. Falando no encerramento de uma conferência promovida pelo Jornal de Negócios, a responsável da ASF referiu que, o “desenvolvimento de medidas que estimulem a procura e possibilitem a oferta de produtos a preços comportáveis, com vista à colmatação do protection gap, será, assim, essencial para propulsionar a resiliência nacional a fenómenos desta natureza”.

Além de atuar no sentido da redução dos custos globais, “em especial daqueles que teriam sempre de ser assumidos pela esfera pública, em situações de catástrofe, o aumento da cobertura seguradora permite, no âmbito do processo de subscrição, uma maior capacidade de mensuração dos riscos ex-ante e o incentivo à implementação de medidas de mitigação desses riscos, reduzindo as vulnerabilidades”, considerou a responsável.

Perspetivando macro tendências globais e setoriais do futuro próximo, a presidente da ASF referiu-se à ideia do protection gap, “no sentido da necessidade de encontrar soluções para encurtar a falta de proteção para diversos riscos a que estão sujeitas as famílias e as atividades económicas” e, no limite, o Estado, relativamente aos “riscos de incêndios e tempestades e eventos sísmicos que afetam o património e as atividades económicas, riscos pandémicos e longevidade“.

Seguro tem sido lento na resposta ao envelhecimento populacional e alterações climáticas

A adoção do digital na atividade seguradora é, segundo afirmou, “um processo que vem conhecendo desenvolvimentos” há muitos anos, mas que a pandemia de COVID-19 “tornou mais visível, tendo conhecido, em face das circunstâncias, uma aceleração bem-sucedida”, em termos de “capacidade operativa e de aceitação e envolvimento por parte da sociedade”.

“Este é um lado da inovação, o lado que muda a gestão e a operação das empresas de seguros e que permite transformar a forma como os operadores e clientes se relacionam, seja na contratação dos seguros, seja na gestão dos sinistros ou na aplicação da poupança. Com efeito, o setor segurador tem sido muito rápido na adoção de inovações decorrentes da aplicação de tecnologia em áreas de gestão, operacionais, de avaliação de risco e de comercialização”.

Um dos grandes desafios que o setor segurador tem realmente pela frente “está em saber como é que será feita a incorporação das novas tecnologias nas suas cadeias de valor. É um caminho incontornável (…). No entanto, o setor segurador tem sido mais lento na oferta de produtos que respondam às necessidades trazidas por fenómenos tão importantes como o envelhecimento da população e o aumento da longevidade ou as alterações climáticas e a digitalização da economia”, assinalou.

Longevidade, poupança e sustentabilidade

Na intervenção, Margarida Corrêa de Aguiar referiu que o fenómeno do aumento da longevidade “obrigará, com efeito, a impor correções na redistribuição do consumo e do rendimento ao longo do ciclo de vida. Sendo maior a longevidade, é necessário gerar mais rendimento e/ou acumular mais poupança durante a vida ativa”.

Neste sentido, “os seguros têm um contributo para dar na oferta de respostas associadas ao risco de longevidade. Respostas que passam, por um lado, pela incorporação de inovação no desenho de produtos – capazes de conciliar fluxos regulares de rendimento na reforma e proteção aos riscos de despesas
médicas e de outras provenientes de problemas de saúde que decorrem do aumento da idade e da dependência – e, por outro lado, suscetíveis de mobilizar a captação de poupança de longo prazo”.

Também aqui “estamos na presença de uma mudança de paradigma” em que a promoção de uma cultura de poupança alicerçada nas suas finalidades e objetivos específicos “poderá ajudar a ultrapassar o desincentivo que constituem as baixas taxas de juro para a mobilização de poupança de longo prazo”, sugeriu.

Em relação aos seguros voluntários de saúde que, em particular, têm registado crescimentos significativos, inclusive em plena pandemia, “a ASF está a trabalhar num conjunto de medidas regulatórias que contribuam para um desenvolvimento equilibrado do mercado, salvaguardando um posicionamento mais informado dos consumidores e requisitos de transparência que são exigíveis num tipo de seguro com esta relevância económica e social”, recordou.

Tendo em conta as prioridades definidas pelo Governo no Plano de Recuperação e Resiliência, “designadamente a transição climática e a transição digital, as quais implicam alterações profundas de paradigma, o setor segurador pode ter um papel de relevo, quer na vertente de grande investidor institucional de longo prazo, apoiando o financiamento de projetos de infraestruturas e contribuindo para o sustainable finance, quer na vertente de gestor profissional dos riscos associados”, referiu Margarida Aguiar na mesma intervenção.

Por isso, a responsável da Supervisão defende que o setor segurador deve “tornar-se um agente de promoção do crescimento sustentável através da oferta de produtos e serviços que tenham em consideração os aspetos ambientais, sociais e de governação, bem como direcionando os fluxos financeiros – investimentos e poupanças – para projetos, empresas e instituições que promovam a transição para um novo modelo de desenvolvimento da sociedade”.

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