Hoje nas notícias: TAP, enfermeiros e vacina

  • ECO
  • 15 Dezembro 2020

Dos jornais aos sites, passando pelas rádios e televisões, leia as notícias que vão marcar o dia.

A TAP continua a marcar o dia, sabendo-se agora que a companhia aérea tem 83 milhões de euros para pagar a saída de trabalhadores em 2021. Em termos de pandemia, os enfermeiros Covid estão a passar precários no acesso a quadros, enquanto os centros de saúde já escolhem doentes para a vacina da Covid-19. Destaque ainda para os residentes não habituais que custam 600 milhões de euros ao país.

TAP tem 83 milhões para pagar saída de trabalhadores em 2021

A TAP tem 83 milhões de euros em carteira para pagar as saídas de trabalhadores previstas no plano de restruturação, entre rescisões amigáveis e despedimentos que estão programados para o próximo ano. A estratégia de corte de postos de trabalho passa, primeiro, por um quadro de adesões voluntárias, como rescisões amigáveis (que darão direito a subsídio de desemprego), trabalho parcial (pensado em termos de sazonalidade) e licenças sem vencimento. Leia a notícia completa no Público (acesso pago).

Enfermeiros Covid passam precários no acesso aos quadros

Os hospitais estão a contratar enfermeiros para reforçarem a resposta à pandemia, estando estes profissionais a passar colegas precários que estão há vários anos sem entrar para os quadros. Quem está há vários anos nos hospitais contesta a admissão de candidatos com menos tempo de serviço. Os sindicatos consideram que as vagas são insuficientes. Leia a notícia completa no Jornal de Notícias (link indisponível).

Centros de saúde já escolhem doentes para a vacina da Covid-19

Os centros de saúde já estão a identificar quem são os utentes com mais de 50 anos e patologias de risco associadas que devem ser vacinados contra a Covid-19 na primeira fase da campanha que, segundo o primeiro-ministro, deverá arrancar a 5 de janeiro. Os processos clínicos dos utentes estão a ser consultados pelos coordenadores das equipas de enfermagem de cada Agrupamento de Centros de Saúde (ACES). Leia a notícia completa no Correio da Manhã (acesso pago).

Residentes não habituais custam 600 milhões ao país

Portugal tem um regime fiscal desenhado para atrair “cérebros”, mas também pensionistas com elevada capacidade financeira. Uma “borla” no IRS para os chamados residentes não habituais que passou, no ano passado, uma fatura de 620 milhões de euros ao país. De acordo com o parecer do Tribunal de Contas à Conta Geral do Estado, o benefício fiscal dos residentes não habituais teve um incremento de 72 milhões de euros (13,1%), passando a constituir 53,7% da despesa fiscal do imposto. Leia a notícia completa no Diário de Notícias (acesso livre).

Governo do PSD? Só com “entendimento escrito”, diz Ventura

André Ventura está na corrida às presidenciais, mas atento ao que possa vir a acontecer numas futuras legislativas. Depois de validar a solução governativa nos Açores, o líder do Chega admite integrar em minoria um Governo do PSD, mas só de “papel passado”. “Será um entendimento escrito em que fica claro que vamos fazer reformas nestas áreas fundamentais, no sistema de justiça, no sistema fiscal, no sistema económico e na administração interna em geral”, diz. “Não aceitaremos nenhum Governo em que não possamos influenciar decisivamente estas áreas”, remata. Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (acesso pago).

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Prova dos 9. TAP paga mesmo mais que outras companhias aéreas?

Ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, diz que empresa paga mais que as congéneres. Os sindicatos rejeitam. Veja as contas.

A TAP prepara-se para receber mais de três mil milhões de euros em ajudas de Estado, que serão acompanhadas de um duro plano de reestruturação. Governo e empresa dizem não ter alternativa se não cortar custos operacionais e com pessoal, enquanto os sindicatos discordam da estratégia.

Foi neste cenário que o ministro da Economia trouxe a público uma questão que, de tempos a tempos, regressa: os salários na TAP. Pedro Siza Vieira defendia, na semana passada, que algumas remunerações são mais elevadas que as das pares. E dias depois, o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, clarificava, dizendo que especificamente os pilotos é que têm ordenados desproporcionais.

Numa altura em que se discute o plano de reestruturação — que até 2025 prevê a saída de dois mil trabalhadores (além dos 730 que já saíram) e cortes salariais de 25% acima dos 900 euros mensais –, a questão é: será que os trabalhadores da TAP ganham assim tão bem? O ECO fez as contas e a prova dos 9 às afirmações do ministro.

A afirmação

As remunerações que são pagas a muitos dos trabalhadores [da TAP] são superiores ao que as suas congéneres e concorrentes suportam“, disse o ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, esta quarta-feira na conferência de imprensa que se seguiu à reunião da concertação social. “Todas as companhias aéreas tem de fazer este esforço porque neste momento não há passageiros“.

Os factos

O Governo tem defendido que a TAP está sobredimensionada, com demasiados trabalhadores e muitos custos, especialmente para o impacto da pandemia no negócio. Era assim que se justificava a necessidade de despedir e cortar salários. Siza Vieira exemplificava com a alemã Lufthansa, que está a implementar reduções nos rendimentos de cerca de 45% e a despedir 27% dos trabalhadores. Mas em que circunstâncias chegaram à pandemia?

A companhia área alemã contava, no ano passado, com 37.721 trabalhadores, com os quais teve um custo de 3.049 milhões de euros, o que representa cerca de 80,8 mil euros por pessoa. O relatório anual da Lufthansa indica mesmo que os gastos com pessoal caíram 3% no ano passado, “devido principalmente a menores pagamentos de bónus e menores custos com reformas”. Se o indicador usado for o peso deste indicador face ao volume de negócios, então é cerca de 19%.

Em sentido contrário, a TAP viu os custos com pessoal aumentarem (7%) em 2019, devido a “novas contratações de colaboradores para fazer face ao crescimento de atividade com a expansão da frota, novas rotas e mais frequências, bem como aos aumentos salariais acordados com os sindicatos em 2018”. As 9.006 pessoas nos quadros de pessoal da TAP no final do ano passado custaram 678,6 milhões de euros à empresa, o que representa cerca de 75,3 mil euros por pessoa ou 21% do volume de negócios anual.

Olhando para o mesmo indicador dos custos com pessoal face ao volume de negócios, no caso do grupo dono da espanhola Iberia situa-se em 22% e nos franco-holandeses da Air France/KLM sobe para 30%.

Se olharmos para as low cost, não é comparável, e olhando para as congéneres então não é verdade“, diz André Teives, presidente do Sindicato de Técnicos de Handling e representante da plataforma dos sindicatos de pessoal de terra, sobre as declarações do ministro. Admite que uma empresa como a Ryanair possa pagar salários mais baixos, mas sublinha que o negócio é diferente. “A nossa principal concorrente, a Iberia, paga mais que a TAP. Não sei em que dados o ministro se baseia”, acrescenta.

O ministério da Economia não respondeu às questões do ECO até à publicação deste artigo. Mas Pedro Nuno Santos deu, em entrevista à SIC, dados mais concretos. “Os salários [da TAP estão] acima dos de algumas concorrentes, como a Iberia”, disse o ministro, apontando para diferenças salariais de 18% até 85% nos vencimentos de tripulantes da TAP em comparação com os da Iberia. E, recorrendo às suas notas, apresentou alguns valores brutos anuais que são pagos a alguns dos trabalhadores da companhia que agora é controlada pelo Estado:

  • Oficial Piloto com 1 ano na TAP – até 80 mil euros/ano
  • Comandante com 10 anos na TAP – até 185 mil euros/ano
  • Comandante com 20 anos na TAP – até 241 mil euros/ano
  • Comandante com 30 anos na TAP – até 260 mil euros/ano

O ECO tentou confirmar esta informação junto do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), mas não foi possível. O Sindicato de Técnicos de Handling considera que estes valores estão fora da realidade, enquanto a Comissão de Trabalhadores da TAP diz não agregar esta informação.

Ainda assim, a coordenadora Cristina Carrilho, admite que há disparidades entre, por exemplo, pilotos ou técnicos não qualificados. “Se há a ideia que os pilotos são dos que mais ganham, é preciso dizer que os trabalhadores da manutenção são dos que menos ganham na Europa“, refuta. “Há quem vá para fora e ganhe, em 15 dias, o mesmo que num mês cá”, acrescenta Carrilho.

A Prova dos 9

Feitas as contas… É difícil tirar a Prova dos 9. Considerando os custos suportados pela TAP com o pessoal, dividindo por cada trabalhador, o valor das remunerações fica aquém dos obtidos pelos trabalhadores de outras companhias aéreas de “bandeira” de outros países europeus. E a mesma conclusão pode tirar-se quando se considerar o peso dos salários nas receitas.

Ou seja, à luz dos dados públicos, não seria correta a afirmação de Siza Vieira, mas é preciso ter em atenção que o ministro salientou que “muitos dos trabalhadores” da TAP auferem estes salários superiores aos de outras companhias, não todos. Tendo em conta os valores avançados por Pedro Nuno Santos, bem como a comparação destes com a Iberia, poderia dizer-se que sim, que a TAP paga mais, mas apenas em relação à congénere espanhola.

Tendo em conta que esta informação não é pública nem lá fora, nem pela TAP, torna-se impossível fazer a avaliação justa da afirmação em si. Assim, tendo em conta esta dificuldade em comparar diretamente os vencimentos as mesmas profissões nas diferentes companhias aéreas (que têm uma forte componente associada a remuneração variável), a resposta tem de ser: depende.

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Do Reino Unido aos EUA, passando pelo Bahrein, quem já tem vacina contra a Covid-19?

Portugal aguarda a aprovação do regulador europeu relativamente a uma vacina contra a Covid-19. Contudo, do Reino Unido aos EUA, há já países que deram "luz verde" ao uso de emergência de vacinas.

Milhares de cientistas em todo o mundo continuam incessantemente a procurar uma solução para a pandemia, mas há já vacinas a trazerem alguma esperança relativamente ao fim desta crise sanitária. Numa altura em que a Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês) está a analisar o pedido de aprovação da vacina contra a Covid-19 da Pfizer e da Moderna, vários países já deram “luz verde” ao uso de emergência de vacinas. Do Reino Unido ao Bahrein, passando pelos Estados Unidos, saiba em que ponto está a vacinação.

Em agosto, o presidente russo, Vladimir Putin, descrevia a Sputnik V como a primeira vacina contra o coronavírus a ser registada no mundo com o propósito de colocar um ponto final na pandemia que alastrava no país. Com uma eficácia de 91,4% na última e terceira fase dos ensaios clínicos, segundo revelou na segunda-feira o instituto de investigação Gamaleya e o Fundo de Investimentos Diretos Russo, esta vacina gerou algum ceticismo internacional pelo facto dos resultados clínicos não terem sido analisados por outros especialistas, bem como, pela rapidez nos testes realizados. Ainda assim, cerca de quatro meses depois, a Rússia tornava-se num dos primeiros países do mundo a iniciar a vacinação em massa, tendo já inoculado mais de 150.000 pessoas, de acordo com os dados relevados por Alexandr Guintsburg, diretor do Centro Gamaleya, que desenvolveu a vacina Sputnik-V, à televisão pública, citados pela Lusa.

A campanha de vacina na Rússia arrancou a 5 de dezembro, com os profissionais de saúde e do setor educativo a serem considerados os profissionais de maior risco e, portanto, os primeiros a serem vacinados pelas autoridades de saúde de Moscovo. Não obstante, Putin ordenou o início da vacinação “em grande escala” em todo o país a partir de finais desta semana.

Poucos dias depois, a 8 de dezembro, o Reino Unido arrancou também com o seu plano de vacinação contra o novo coronavírus, depois de este ter sido o primeiro país do mundo a dar luz verde à vacina desenvolvida pelo concórcio Pfizer/BioNTech. Com uma eficácia a rondar os 95% nos testes finais, esta vacina começou a ser administrada em 50 hospitais britânicos, sendo que os idosos com mais de 80 anos e os utentes e profissionais de lares, bem como trabalhadores dos serviços de saúde fazem parte do primeiro grupo de vacinação.

Certo é que a campanha de vacinação já teve alguns percalços. Na quarta-feira passada, a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde emitiu um alerta para que as pessoas com histórico de reações alérgicas “significativas” não recebam esta vacina, depois de terem sido detetados dois casos com reações adversas em profissionais de saúde. Também nos Estados Unidos, foram detetados quatro casos de paralisia de Bell, ou paralisia facial periférica, entre os voluntários que receberam a vacina (isto ainda antes de ser aprovada). Entretanto, a Food and Drug Administration (FDA), o regulador de saúde norte-americano, veio afastar a ligação entre a administração da vacina e os sintomas.

Apesar dos efeitos secundários anteriormente mencionados, a verdade é que a vacina da Pfizer/BioNTech está a merecer confiança por parte de vários países. Dois dias depois do “ok” do Reino Unido, a 4 de dezembro, o Bahrein tornou-se no segundo país do mundo a aprovar o uso desta vacina contra a Covid-19. Em novembro, este país do Médio Oriente já havia aprovado a vacina produzida pela Sinopharm — que provou uma eficácia de 85% — para uso restrito em funcionários da linha de frente no combate a pandemia no país, não obstante, este domingo foi aprovado o uso generalizado desta vacina chinesa, revela a Bloomberg (acesso condicionado, conteúdo em inglês).

Ao lado, também o vizinho o Kuwait já autorizou o uso de emergência da vacina da Pfizer. A notícia foi comunicada pelo Ministério da Saúde do país árabe, que, de acordo com a ABC News (acesso livre, conteúdo em inglês), já tinha dado a possibilidade aos cidadãos de se registarem antecipadamente para receberem a vacina.

Do outro lado do Atlântico, também o Canadá, Estados Unidos da América (EUA) e México deram o seu “carimbo” à vacina que está a ser desenvolvida pela Pfizer, em conjunto, com a farmacêutica alemã. Este domingo, o Canadá já recebeu 30 mil doses desta vacina, numa altura em que as autoridades de saúde estimam atingir os 12 mil casos diários em janeiro, assinala o CBC (acesso livre, conteúdo em inglês). Esta aprovação permitiu ao país da América do Norte começar a vacinar esta segunda-feira, tornando-se no terceiro país do mundo a utilizar a vacina da Pfizer, segundo a Reuters (acesso livre, conteúdo em inglês).

O Canadá espera receber até ao fim dos mês 249.000 doses desta vacina, ou seja, o suficiente para vacinar 124.500 pessoas, visto serem necessárias duas doses. Até ao final de 2021 são esperados quatro milhões de doses. À semelhança do plano de vacinação português, os primeiros a receber as doses de vacina serão profissionais e utentes que se encontram em lares ou residências de cuidados continuados e profissionais de saúde. No entanto, cada província poderá alterar as recomendações nacionais.

Os Estados Unidos são de longe o país mais afetado pela pandemia, tendo já registado mais de 16 milhões de infetados (cerca de 22% do total mundial) e mais de 306 mil mortes por Covid-19. Depois da aprovação do regulador norte-americano, e apesar das alegadas pressões políticas para acelerar o processo, também este fim de semana, a vacina da Pfizer/BioNTech começou já a ser expedida, em caixas refrigeradas a menos de 70 graus centígrados, a partir da fábrica da Pfizer no estado do Michigan para hospitais e outros centros de vacinação dos EUA. É expectável que três milhões de doses sejam disponibilizadas até quarta-feira, para vacinar perto de 20 milhões de norte-americanos antes do final do ano e 100 milhões antes do final de março do próximo ano no país. Sob o mote “Warp Speed”, e a par com o Canadá, a campanha de vacinação nos EUA arrancou esta segunda-feira, sendo que os profissionais de saúde são a prioridade.

Já na América Latina, mais precisamente no México, a Comissão Federal para a Proteção contra Riscos Sanitários (Cofepris) foi o primeiro país da América Latina a aprovar o uso de emergência da vacina da Pfizer/BioNTech. Apesar de esta vacina ter inicialmente suscitado dúvidas devido às suas características de conservação, o governo mexicano estabeleceu um mecanismo para a sua distribuição, esperando começar o plano de vacinação ainda este mês.

Certo é que, para já, Portugal tem de esperar pela avaliação da EMA, que deverá pronunciar-se sobre a vacina da Pfizer a 29 de dezembro e a 12 de janeiro do próximo ano sobre a vacina desenvolvida pela Moderna. Nesse sentido, ainda não é certo quando deverá arrancar a vacinação na União Europeia, mas o primeiro-ministro português veio defender no último Conselho Europeu que a vacinação contra a Covid-19 deve começar no mesmo dia em todos os Estados-membros, eventualmente a 4 ou a 5 de janeiro de 2021.

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Contribuintes têm até hoje para fazerem 3.º pagamento por conta do IRC

  • ECO
  • 15 Dezembro 2020

Regime excecional que permitiu às empresas suspender o primeiro e o segundo dos pagamentos por conta do IRC e acertar as contas no terceiro destes pagamentos.

A data para os contribuintes efetuarem o terceiro (e para muitos o único) pagamento por conta do IRC termina hoje, data igualmente limite para a emissão da certificação da limitação do primeiro e segundo destes pagamentos.

Perante a quebra de faturação devido à pandemia de Covid-19, foi criado um regime excecional que permitiu às empresas suspender o primeiro e o segundo dos pagamentos por conta do IRC e acertar as contas no terceiro destes pagamentos sem, com isso, ficarem sujeitas a quaisquer penalidades.

Habitualmente as empresas fazem três pagamentos por conta do IRC (até 31 de julho, até 30 de setembro e até 15 de dezembro), ou seja, procedem a um adiamento do imposto, sendo este calculado com base no IRC do período de tributação anterior.

O Código do IRC obriga a que o primeiro e o segundo pagamento sejam sempre realizados, permitindo que, em determinadas condições, o terceiro possa ser suspenso. Este ano, porém, as regras foram excecionalmente alteradas de forma a que as cooperativas, micro, pequenas e médias empresas suspender totalmente os dois primeiros pagamentos.

Abrangidas por esta suspensão total ficaram ainda as empresas dos setores mais afetados pela pandemia (restauração, alojamento e similares) e todas as que registaram quebras de faturação superiores a 40% nos primeiros seis meses deste ano face ao período homólogo de 2019.

Já às empresas com quebras de faturação homólogas superiores a 20%, mas inferiores a 40% foi-lhes permitido pagar 50% dos primeiro e segundo pagamentos por conta do IRC.

De acordo com a informação disponível no Portal das Finanças, “caso o sujeito passivo verifique, com base na informação de que dispõe, que, em consequência da redução total ou parcial do primeiro e segundo pagamentos por conta, pode vir a deixar de ser paga uma importância superior” a 20% da que, em condições normais, teria sido entregue, este regime excecional permite “a possibilidade de regularização do montante em falta até ao último dia do prazo para o terceiro pagamento, sem quaisquer ónus ou encargos”.

“Este pagamento pode ser reduzido ou dispensado nas condições previstas no artigo 12.º da Lei 27- A/20, de 24 de julho, Lei 29/20, de 31 de julho e Despacho 8320/2020, 28 de agosto”, acrescenta a informação publicada na conta oficial da AT no Twitter.

Apesar da possibilidade de dispensa, a bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC), Paula Franco, recomenda cuidados e que a possibilidade de dispensa apenas seja utilizada se houver certeza que não há IRC a pagar, incluindo tributação autónoma, relativamente a 2020.

Paula Franco alerta, todavia, que nesta altura do ano não é ainda possível saber com rigor se não há lugar a qualquer pagamento de IRC relativo ao corrente ano, sugerindo que, em caso de dúvida, devem efetuar o terceiro pagamento por conta.

Neste contexto, Paula Franco lembra que alguns dos instrumentos de apoio criados para mitigar os efeitos da pandemia na tesouraria das empresas, como o programa Apoiar, por exemplo, são considerados rendimento.

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5 coisas que vão marcar o dia

Pedro Nuno Santos é ouvido sobre o plano de reestruturação da TAP. Três horas tomam posse os novos secretários de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Agricultura.

Esta terça-feira está em destaque a audição do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, sobre o plano de reestruturação da TAP. Três horas depois, em Belém, Francisco Gonçalo Nunes André e Rui Manuel Costa Martinho assumem a pasta de secretários de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Agricultura, respetivamente. A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) vai divulgar as tarifas da luz para o próximo ano. A comissão de inquérito ao Novo Banco toma posse esta terça-feira, enquanto Conselho de Estados discute presidência portuguesa da UE.

Tomada de posse dos secretários de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Agricultura

Francisco Gonçalo Nunes André e Rui Manuel Costa Martinho são os novos secretários de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Agricultura. A tomada de posse acontece esta terça-feira, em Belém às 18H00, numa cerimónia restrita. A entrada no Executivo destes dois novos rostos surge na sequência da demissão da secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Gonçalves Ribeiro, e do secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, Nuno Tiago dos Santos Russo.

Deputados ouvem ministro sobre o plano de reestruturação da TAP

A audição do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, sobre o “plano de reestruturação da TAP” decorre esta terça-feira, na Assembleia da República, a requerimento potestativo do Bloco de Esquerda (BE) que pediu que seja apresentado no Parlamento “em tempo útil” o plano de reestruturação da companhia área. O ministro das Infraestruturas já veio admitir que parte do empréstimo de 1,2 mil milhões de euros que o Estado cedeu à TAP este ano não será devolvido, e que será transformado em capital.

ERSE divulga tarifas da luz para 2021

A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) vai divulgar esta terça-feira as tarifas da luz para o próximo ano. No entanto, foi aprovada a aplicação de taxas de IVA diferenciadas em função de escalões de consumo no Conselho de Ministros e o IVA da luz baixa para 13% nos consumos mais baixos. De acordo com os números mais recentes do Eurostat, no primeiro semestre de 2020, em Portugal, os preços da eletricidade, com impostos e taxas situaram-se na primeira metade do ano nos 21,2 euros por 100kWh, ligeiramente abaixo de 2019.

Tomada de posse da nova comissão de inquérito ao Novo Banco

Vem aí a comissão de inquérito ao Novo Banco, que visa apurar as perdas registadas pelo banco e imputadas ao Fundo de Resolução. O grupo de deputados que vai fazer parte da comissão toma posse esta terça-feira, sendo que terá quatro meses para concluir o inquérito (até abril). Já Mário Centeno, ex-ministro das Finanças, é ouvido a 22 de dezembro, no âmbito da auditoria feita pela Deloitte às contas do Novo Banco. Esta audição resulta, em parte, de requerimentos apresentados pelo PAN e pelo CDS.

Conselho de Estados discute presidência portuguesa da UE

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou uma reunião por videoconferência do Conselho de Estado com a participação do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, sobre a presidência portuguesa da União Europeia. A pandemia da Covid-19 será um dos temas de discussão. A anterior reunião deste órgão político de consulta presidencial, que foi a única presencial neste período de pandemia de Covid-19, realizou-se no dia 29 de setembro, no Palácio da Cidadela, em Cascais, tendo como tema a União Europeia, e contou com a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

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7 grandes questões do inquérito ao Novo Banco

Comissão de inquérito ao Novo Banco toma posse às 12h00. Trabalhos vão estender-se pelos próximos quatro meses. Eis as 7 grandes questões que estão em causa.

Nos próximos quatro meses, os deputados da comissão de inquérito ao Novo Banco vão ouvir intervenientes do banco, Governo e Banco de Portugal que tiveram papel relevante na vida da instituição nos últimos anos. O objetivo: apurar as perdas registadas pela instituição liderada por António Ramalho e que foram imputadas ao Fundo de Resolução. Estas são as grandes questões que estão por responder.

1. Queda do BES

Ainda que a queda do BES já tenha sido alvo de uma comissão de inquérito no Parlamento, o tema deverá merecer novamente a atenção dos deputados na investigação parlamentar ao Novo Banco. Há dados novos que podem fazer valer a pena a reabertura do “dossiê”.

Por um lado, a auditoria especial da Deloitte, concluída em agosto, identificou perdas de 4.000 milhões de euros no Novo Banco entre 2014 e 2018 e que tiveram sobretudo origem no período pré-resolução, atribuindo as responsabilidades à gestão de Ricardo Salgado.

Esta auditoria faz uma análise profunda aos atos de gestão desde 2000, nomeadamente os empréstimos de milhões de euros e que estão na origem de grande parte das perdas do Novo Banco. Não se conhece a lista dos maiores devedores, mas muitos dos nomes são conhecidos, com o ECO revelou.

Por outro, os deputados deverão voltar ao tema da supervisão, de olhos postos num documento: o chamado relatório Costa Pinto, que se debruçou sobre a atuação do Banco de Portugal no caso BES e cujo teor se encontra em segredo. Mas o relatório poderá conhecer a luz do dia se o tribunal permitir a sua divulgação.

2. Resolução e separação de ativos

O BES foi resolvido (ligação para documento .pdf) em agosto de 2014, com o Banco de Portugal a dividir ativos e passivos da instituição entre o banco mau (BES) e o banco bom (Novo Banco). Esta decisão voltará a ser questionada na comissão de inquérito, colocando-se em causa, sobretudo, se aquela separação foi bem feita, tendo em conta que o elevado nível de ativos tóxicos (empréstimos problemáticos, imobiliário) que ficaram no banco bom e que, de resto, estão na origem dos prejuízos do Novo Banco nos últimos anos.

Além disso, os deputados querem saber se o balanço de abertura do Novo Banco teve os ativos devidamente valorizados, num trabalho que foi feito na altura pela PwC. Isso não terá acontecido. Como alguns dos ativos que passaram para o Novo Banco se encontravam sobreavaliados, eles deram origem, numa fase posterior, ao registo de imparidades (perdas) quando o banco procedeu à correção do seu valor.

3. Retransmissão de obrigações em 2015

Completa agora cinco anos. Em dezembro de 2015, o Banco de Portugal decidiu (ligação documento para .pdf) passar cerca de 2.000 milhões de euros em obrigações seniores do Novo Banco para o banco mau. O supervisor justificou esta medida de retransmissão com a necessidade de cobrir os prejuízos do BES (ano e meio antes), tal como estipula o regime de resolução, protegendo-se o sistema bancário e os contribuintes.

Se isto permitiu ao Novo Banco cumprir com os rácios de capital regulamentares, os investidores afetados não gostaram da decisão. A retransmissão das obrigações significou, na prática, a perda do dinheiro que haviam investido.

Na sequência desta medida, um grupo de grandes investidores internacionais, entre eles a Pimco e a BlackRock, foi para tribunal para contestar a decisão. Mas fizeram mais do que isso: tentaram descredibilizar a República portuguesa e a reputação nos mercados, boicotando diversas operações de financiamento do país e empresas nacionais. Se isto teve impacto nos juros da dívida, é o que os deputados vão agora averiguar.

4. Venda ao Lone Star e acordo capital contingente

Quando nasceu, o Novo Banco era um banco de transição e tinha duas alternativas: ou era vendido pelo Fundo de Resolução (ou nacionalizado) ou tinha de ser liquidado. Só em outubro de 2017 é que acabou por ser vendido ao Lone Star: 75% do capital a troco de uma injeção de mil milhões. Mas o negócio veio com outra condição. Como o banco tinha muitos problemas, os americanos queriam uma garantia de que não iam ser eles a pagar por eventuais perdas que deles decorrem.

Fez-se, então, o acordo de capital contingente em que o Fundo de Resolução se comprometeu a injetar até 3,9 mil milhões de euros para compensar o Novo Banco por perdas com um conjunto de ativos problemáticos até os rácios estarem repostos. Até hoje, o banco já pediu 3.000 milhões de euros ao Fundo de Resolução e cada pedido tem sido mais polémico do que o outro.

Agora, os deputados querem “averiguar se o contrato de venda do Novo Banco e outros contratos celebrados relativos a esta venda nos quais o Estado seja, direta ou indiretamente, onerado, foram diligentemente negociados, e apurar as respetivas responsabilidades técnicas e políticas”.

5. Vendas de malparado e imobiliário

Na base dos pedidos do Novo Banco ao Fundo de Resolução estão as perdas que decorreram com processos de vendas de crédito malparado e ativos imobiliários. Foram várias as carteiras vendidas nos últimos anos (Nata 1, Nata 2, Sertorius, Viriato, Albatros) e cujos prejuízos, na sua grande maioria, tiveram de ser cobertos pelo fundo liderado por Máximo dos Santos. Ao todo, as perdas nestes processos de venda totalizam os 611 milhões de euros.

Nos últimos meses foram levantadas várias questões em relação a estas operações, nomeadamente se foram feitas ao desbarato e se os compradores são partes relacionadas com o acionista Lone Star.

Também há o caso da seguradora GNB Vida que foi vendida pelo Novo Banco no final do ano passado a fundos da Apax, numa transação que veio a revelar-se polémica devido às perdas que gerou e às eventuais ligações do comprador a um empresário (Greg Lindberg) que foi condenado por corrupção nos EUA. Essas dúvidas já foram esclarecidas tanto pela Apax como pelo banco.

Os deputados vão questionar todos os órgãos sociais do banco, incluindo administração, fiscalização, auditoria e comissão de acompanhamento, e avaliar a sua atuação “no que respeita à proteção dos interesses do acionista Estado, em particular no processo de avaliação e venda de ativos que conduziram a injeções do Fundo de Resolução”.

Apresentação de resultados do Novo Banco - 01MAR19

6. Atos de gestão de Ramalho

A auditoria especial detetou falhas na gestão de António Ramalho. Naquilo que foi a concessão de crédito, a Deloitte encontrou 140 decisões que não se seguiram o normativo interno do banco ou regulamentação. O próprio gestor reconheceu as insuficiências no Parlamento e referiu que o banco está a trabalhar no sentido de resolver todas as situações de inconformidade que foram identificadas.

António Ramalho já foi por várias vezes a “exame” no Parlamento. Por mais explicações que tivesse dado, os deputados mantêm dúvidas sobre se a sua gestão está a proteger os interesses dos dois acionistas do banco (Lone Star e Fundo de Resolução) e não apenas de um (Lone Star).

Aliás, este é um dos pedidos ao Tribunal de Contas, que iniciará dentro de poucas semanas uma auditoria ao banco: identificar eventuais práticas de gestão no Novo Banco conducentes e orientadas a obter um determinado resultado líquido do banco com o objetivo de permitir o acionamento do mecanismo de capital contingente.

7. Haverá mais dinheiro para o Novo Banco?

O Parlamento aprovou no final do mês passado uma medida que trava novas injeções do Fundo de Resolução no Novo Banco. Os deputados querem ter primeiro os resultados da auditoria do Tribunal de Contas antes de nova transferência para o banco, apesar de o Governo ter já dito que vai cumprir o contrato.

No pedido endereçado ao Tribunal de Contas, face à complexidade do objeto da auditoria, o Parlamento indicou que os resultados poderão ser apresentados de forma faseada. Pretende obter conclusões “em tempo útil”, isto é, antes da injeção prevista para ocorrer em maio. Uma parte da auditoria poderá ser conhecida ao longo da comissão de inquérito e, dependendo das conclusões, poderá ou não haver nova injeção no Novo Banco.

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Standard & Poor’s: “Oposição usou Novo Banco como oportunidade política para envergonhar o Governo”

Frank Gill, diretor sénior da agência de rating, diz ao ECO que banca portuguesa está protegida por acionistas estrangeiros. A nível político, desvaloriza impacto de coligações negativas no OE 2021.

O travão às injeções no Novo Banco — aprovado no Parlamento através de uma maioria negativa — foi uma jogada política na qual o PSD tentou colocar o Governo em xeque, segundo o responsável pela avaliação da agência de notação financeira Standard & Poor’s a Portugal, Frank Gill. A decisão não deverá ser um risco para o rating de Portugal, cujo sistema financeiro beneficia dos acionistas estrangeiros.

O Novo Banco é um peso no pescoço de qualquer que seja o Governo no poder porque é uma obrigação contingente muito cara“, começa por dizer Frank Gill, diretor sénior do grupo de ratings soberanos europeus da Standard & Poor’s, em entrevista ao ECO. Em causa está a proposta do Bloco de Esquerda que retira o valor definido pelo Governo para os ativos financeiros do Fundo de Resolução, que é a entidade que injeta o dinheiro no Novo Banco e que foi aprovada pelo PCP, PEV, BE, PSD, Chega e Joacine Katar Moreira e a abstenção do PAN e CDS.

O Executivo argumenta que esta norma quebra o contrato firmado entre o Estado e o Lone Star na venda de 2017, pelo que viola o artigo 105.º da Constituição e a Lei de Enquadramento Orçamental. Ainda assim, o ministro das Finanças João Leão garante estar a estudar diferentes alternativas dentro do quadro do atual Orçamento do Estado. Mas Frank Gill desvaloriza o peso da decisão.

Se a oposição estivesse no poder, suspeito que o mesmo teria acontecido, com partidos diferentes. Penso que a oposição fê-lo como oportunidade política para envergonhar o Governo. E o Governo tem tentado resolver a falência gerada por muitos anos de má gestão do BES. Vai continuar a ter custos para o Governo, que está essencialmente a fazer o que pode”, aponta o analista.

"Se houver outra crise, são os donos estrangeiros que, em última análise, têm de lidar com os custos. Não vejo algo como o Novo Banco a acontecer novamente em Portugal.”

Frank Gill

Diretor sénior do grupo de ratings soberanos europeus da Standard & Poor's

A nível político as vulnerabilidades do país não são uma preocupação. Já para as contas públicas, a Standard & Poor’s vê em Portugal o mesmo risco que na generalidade nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE): que a pandemia deixe “cicatrizes” permanentes na economia, exacerbando desigualdades dos trabalhadores.

“Penso que é um risco político para todos os partidos, particularmente os de esquerda, mas para todos os partidos de todos os países. Porque faz com que seja mais difícil avançar com políticas de liberalização económica, que serão necessárias”, alerta o diretor sénior, sublinhando que “os governos terão de ser mais criativos quanto aos impostos“.

Em sentido contrário, a banca — que foi, na última crise, o calcanhar de Aquiles para o rating nacional devido ao elevado peso da malparado — não parece ser preocupação, apesar de se multiplicarem os alertas de que o nível de crédito em incumprimento poderá voltar a aumentar.

A notícia positiva para o futuro do setor financeiro é que mais de 50% do sistema (face ao total dos ativos) é controlado por bancos estrangeiros. De uma perspetiva da gestão financeira e do Governo, é provavelmente positivo porque, se houver outra crise, são os donos estrangeiros que, em última análise, têm de lidar com os custos. Não vejo algo como o Novo Banco a acontecer novamente em Portugal”, acrescenta Frank Gill.

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Juros zero na dívida poupam 840 milhões a Portugal até 2022

Standard & Poor's está mais pessimista que o Governo quanto às projeções para o PIB e dívida. Mas espera igualmente que custos com juros continuem limitados com a ajuda do BCE.

Portugal vai continuar a beneficiar de baixos custos com a dívida pública, na perspetiva da agência Standard & Poor’s. Os cálculos do diretor sénior do grupo de ratings soberanos europeus, Frank Gill, indicam que os gastos do país com serviço da dívida deverão reduzir-se em 840 milhões de euros até 2022, graças à rede de segurança do Banco Central Europeu (BCE), mas também à confiança dos investidores internacionais no país.

“O Governo português tem um forte histórico de consolidação orçamental. Em 2019, excluindo gastos com juros, o Governo português teve um excedente de 3,2% do PIB e um excedente orçamental de 0,2%”, diz Gill, em entrevista ao ECO. “É um dos desempenhos orçamentais mais fortes da União Europeia em 2019. Portugal chegou ao choque global sem precedentes com uma posição orçamental relativamente forte, apesar do elevado stock de dívida“.

Foi neste cenário benigno que Portugal chegou a uma crise, que obrigou o país a recorrer ainda mais aos investidores internacionais para pagar as medidas contra a Covid-19. O mesmo aconteceu com os restantes países da Zona Euro, levando o banco central a agir de forma imediata.

O BCE reforçou a compra de dívida, incluindo através de um pacote extraordinário especificamente dedicado a combater o impacto do coronavírus na economia, o programa de compras de emergência por pandemia (PEPP). Esse envelope, com 1,35 biliões de euros, permitiu apaziguar o choque temporário.

"Esperamos que os juros efetivos que Portugal paga sobre o stock da dívida continuem a diminuir até 2023. O facto de o país se estar a refinanciar a uma média de 190 pontos base abaixo do custo médio de todo o stock da dívida realmente sugere que o ímpeto de decréscimo dos custos nominais com serviço da dívida irá continuar.”

Frank Gill

Diretor sénior do grupo de ratings soberanos europeus da Standard and Poor's

Não podemos subestimar o poder da decisão do BCE de introduzir o PEPP, que de facto significa que essencialmente toda a dívida de médio e longo prazo que os governos português ou italiano vão emitir este ano irá acabar nas mãos do banco central. Isso claramente significa que a oferta líquida de dívida comercial no mercado é inferior a zero, o que também pressiona os custos de financiamento”, sublinha o responsável da Standard & Poor’s, responsável pela análise ao rating nacional.

Em mercado primário, o juro médio da emissão de nova dívida caiu para 0,6% desde o início do ano, levando o custo do stock para 2,5%. Já em mercado secundário, toda a dívida nacional com maturidade até nove anos tem yield negativa e, a 26 de novembro, Portugal chegou mesmo a registar uma taxa de juro negativa no prazo a dez anos.

As estimativas de Gill indicam que cada diminuição de 100 pontos base nos custos de financiamento de Portugal representa 0,17 pontos percentuais do PIB após 12 meses e num cenário inalterado. É esta a base dos cálculos que colocam a poupança entre 2019 e 2022 em 840 milhões de euros. Uma subida nos juros — que a agência não espera — dos mesmos 100 pontos base iria demorar 12 meses a fazer-se sentir nos custos para as contas públicas.

“Esperamos que os juros efetivos que Portugal paga sobre o stock da dívida continuem a diminuir até 2023. O facto de o país se estar a refinanciar a uma média de 190 pontos base abaixo do custo médio de todo o stock da dívida realmente sugere que o ímpeto de decréscimo dos custos nominais com serviço da dívida irá continuar“, estima.

"A nossa visão é que este choque será temporário porque esperamos que uma vacina eficaz seja distribuída e comece a reduzir as taxas de infeção em meados de 2021, o que deverá permitir à atividade económica recuperar.”

Frank Gill

Diretor sénior do grupo de ratings soberanos europeus da Standard and Poor's

S&P vê dívida em 144,3% do PIB e recessão de 12,2%

A quebra com juros permite ao país continuar a acomodar um aumento da dívida para níveis recorde. O responsável da Standard & Poor’s anunciou, em primeira mão ao ECO, a revisão das estimativas da agência para Portugal. Para este ano, antecipa uma dívida pública de 143,18% do PIB, acima dos 134,8% esperados pelo Governo. A diminuição gradual levará, segundo as estimativas da agência, o peso da dívida para 137,88% em 2021, para 129,35% em 2022 e 125,11% no ano seguinte.

O endividamento servirá para responder ao buraco nas contas públicas criado pela pandemia. Após um excedente inédito no ano passado, o saldo orçamental será negativo por vários anos. A Standard & Poor’s vê o défice em 7,3% este ano (igual ao esperado pelo Executivo). Nos anos seguintes, a diferença é residual, com a agência a esperar um défice de 4,7% em 2021, 2,8% em 2022 e 1,8% em 2023.

Em qualquer dos casos, tanto os rácios de dívida como de défice serão penalizados este ano e beneficiados nos próximos pelo comportamento da economia. Em 2020, a S&P está ainda mais pessimista que o Executivo, estimando uma recessão de 12,2%, muito superior aos 8,5% do Governo. Nos anos seguintes a tendência inverte-se: a agência antecipa uma retoma do PIB de 5,7% em 2021 e 6% em 2022, enquanto o Governo vê um crescimento de 4,3% e 3,4%, respetivamente.

“A nossa visão é que este choque será temporário porque esperamos que uma vacina eficaz seja distribuída e comece a reduzir as taxas de infeção em meados de 2021, o que deverá permitir à atividade económica recuperar. A recuperação irá provavelmente começar com a normalização do consumo privado na segunda metade do próximo ano, o que irá beneficiar as receitas com impostos e o saldo orçamental. Portugal tem um setor turístico superior a outras economias mais diversificadas, mas são estas as nossas projeções”, acrescenta.

Projeções para a economia portuguesa

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Colégio Eleitoral confirma eleição de Joe Biden

  • Lusa e ECO
  • 14 Dezembro 2020

Vitória de Biden foi ratificada depois de os delegados do Colégio Eleitoral pela Califórnia atribuírem os 55 votos daquele estado ao democrata. Democrata ultrapassou o mínimo de 270 necessários.

O Colégio Eleitoral dos Estados Unidos validou esta segunda-feira a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais, que com 302 votos ultrapassou o mínimo de 270 necessários para poder ser o 46.º Presidente norte-americano.

A vitória de Joe Biden foi ratificada depois de os delegados do Colégio Eleitoral pela Califórnia atribuírem os 55 votos daquele estado ao democrata, que já tinha 347 votos e agora tem 302, de um total de 538. A decisão foi anunciada em Sacramento, na Califórnia, às 17h29 de Washington, capital dos EUA (22h29 em Lisboa).

Contudo, o Presidente eleito apenas vai ser declarado oficialmente o sucessor de Donald Trump quando o Havai depositar os seus votos, finalizando o processo de atribuição de votos nos 50 estados. Os quatro votos do Havai também deverão ser atribuídos a Joe Biden, que, de acordo com as projeções de vários órgãos de comunicação social norte-americanos, vai terminar este processo com 306 votos do Colégio Eleitoral. Trump arrecadou apenas 232.

Joe Biden já reagiu nas redes sociais, recorrendo ao Twitter para escrever: “Hoje, os membros do Colégio Eleitoral votaram para presidente e vice-presidente. E mais uma vez, o Estado de Direito, a nossa Constituição e a vontade do povo prevaleceram. A nossa democracia — pressionada, testada e ameaçada — provou ser resiliente, verdadeira e forte”.

E, noutro tweet, acrescentou que “na América, os políticos não assumem o poder — as pessoas concedem-lhes o poder”. “A chama da democracia foi acesa nesta nação há muito tempo. E agora sabemos que nada — nem mesmo uma pandemia ou abuso de poder — pode apagar essa chama”.

Mais tarde, durante um discurso em Wilmington, no Delaware, Joe Biden afirmou que, se em 2016 306 grandes eleitores correspondiam a uma vitória clara [de Donald Trump], em 2020 insinua “respeitosamente” que tem de significar o mesmo, razão pela qual Trump tem de acabar com as acusações infundadas de fraude eleitoral e aceitar a derrota.

O democrata disse ainda que “aconteceu algo que muito poucos previam” e os norte-americanos “votaram em número recorde”. E isto “devei ser celebrado, não atacado”, completou Biden. O ‘dedo foi apontado’ à candidatura de Trump, que tentou a todo o custo reverter os resultados, fomentando teorias da conspiração e propagando desinformação.

A vice-presidente escolhida por Joe Biden, Kamala Harris, também recorreu ao Twitter para comentar, ao mesmo tempo que o democrata discursava, afirmando que Joe Biden “está a dizer a verdade”. “Nós, o povo, votámos. Mantida a fé nas nossas instituições. A integridade das nossas eleições permanece intacta. Agora é hora de virar a página, como fizemos ao longo de nossa história. Para unir. Curar“, escreveu.

Nos Estados Unidos, o Presidente não é escolhido por voto popular, mas por sistema indireto, através do voto dos grandes eleitores, escolhidos em função dos resultados eleitorais e em função da população de cada estado (com os mais populosos a ter direito a mais votos). Biden venceu em vários estados que lhe atribuíram 306 delegados, superando o mínimo de 270 necessários para ser Presidente.

A cerimónia de tomada de posse de Biden enquanto o 46.º Presidente dos Estados Unidos vai ser realizada em 20 de janeiro. O democrata de 78 anos também vai ser o chefe de Estado mais velho a ocupar o cargo e na vice-presidência tem Kamala Harris, de 56 anos, que é também a primeira mulher, afro-americana e cidadã de origem indiana a ocupar o cargo.

(Notícia atualizada às 8h33 com reações e discurso de Joe Biden)

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Petrolíferas evitam milhares de milhões em impostos usando seguradoras cativas

  • ECO Seguros
  • 14 Dezembro 2020

O setor Oil & Gas obtém enorme proveito manipulando preços de transferência e custos. Cativas detidas por petrolíferas são muito mais lucrativas do que as cativas das seguradoras tradicionais.

As grandes companhias do petróleo e gás evitam pagar centenas de milhões de dólares em impostos nos países onde perfuram e exploram petróleo, desviando lucros para seguradoras (e outras filiais financeiras) por si criadas e sediadas em paraísos fiscais.

Em 2018 e 2019, a Shell somou cerca de 2,7 mil milhões de dólares de ganhos isentos de impostos – cerca de 7% do seu rendimento total nesses dois anos – reportando lucros de empresas localizadas na Bermuda e nas Bahamas, as quais empregavam menos de 40 pessoas e cujos resultados são sobretudo gerados a partir de simples movimentos contabilísticos com outras entidades da Shell.

Se a companhia tivesse declarado lucros através da sua sede, na Holanda, teria enfrentado um encargo fiscal a rondar 700 milhões de dólares com base nos 25% da taxa aplicada às sociedades holandesas. A “fatura” teria sido ainda mais pesada se os rendimentos tivessem sido declarados nos países produtores de petróleo, alguns dos quais cobram taxas superiores a 80%.

Só através de duas filiais na Bermuda, onde tem as subsidiárias de seguro e banca – em conjunto empregando três pessoas -, a Shell captou 1,3 mil milhões de dólares naqueles dois anos, indica a agência de informação citando documentos publicados pela petrolífera em 2019 e em novembro de 2020, altura em que a Shell anunciou que deixou de realizar transferências de crédito com origem nas Bermudas, mas “sem explicar porque decidiu cessá-las”, revela uma investigação da agência Reuters.

Richard Murphy, professor de Economia Política na University of London, admite que este tipo de operações existe, desde a sua origem, com intenção fiscal. Os números que mostrados “não fazem sentido”. A elevada rentabilidade das subsidiárias sediadas na Bermuda (reconhecida praça mundial de seguros), juntamente com a forte dependência das receitas provenientes de outras filiais do grupo petrolífero, sugere intuito de “desviar lucros para jurisdições onde paguem menos impostos,” afirmou Murphy.

No caso da gigante holandesa, é referido ainda uma empresa de trading nas Bahamas (Shell Western Supply and Trading Ltd) cujas receitas provêm essencialmente de operações de compra e venda de produtos petrolíferos entre filiais da própria Shell. No entanto, a companhia de origem holandesa nega artifícios que tenham em vista evitar o pagamento de impostos e explicou que a localização das subsidiárias é mais ditada por conveniência operacional e comercial da sua atividade do que por razões fiscais.

A investigação da Reuters baseou-se em relatórios de agências de rating e em informações oficiais que as petrolíferas enviam às entidades reguladoras. A investigação indica que Shell, BP Plc, Chevron e Total detêm entidades subsidiárias – com sede em jurisdições como as Bahamas, Bermuda, Guernsey, Suíça e Irlanda – funcionando como fornecedoras e prestadoras de serviços de banca, seguros e operações de trading (comércio internacional) e que, em troca dos serviços e seguros contratados, essas sociedades subsidiárias (com apenas algumas pessoas ao serviço e praticamente sem atividade que justifique a sua existência), arrecadam lucros gigantescos.

Os esquemas não são ilegais e, segundo sustentam consultores jurídicos, as pessoas que estão nos conselhos de administração destas companhias têm o dever fiduciário de maximizar lucros. Mas, tais operações realçam a capacidade que as petrolíferas internacionais têm para driblar os sistemas fiscais globais e evitar pagar impostos nos países onde realizam atividade principal, explicam académicos especialistas em questões fiscais.

Países como, por exemplo, Angola, Brasil e Trinidad, que dependem muito das receitas do petróleo, tiveram de realizar corte drástico na despesa e aumentar endividamento externo para dar resposta à crise da pandemia, refere a Reuters (conteúdo de acesso livre, em língua inglesa).

A investigação sugere que essas seguradoras cativas – geralmente sediadas onde se favorece o sigilo fiscal e onde a tributação é bastante mais baixa ou mesmo inexistente – absorvem parte importante das receitas obtidas por outras filiais dessas multinacionais. Os contratos de seguro utilizados no esquema incidem frequentemente sobre operações e países onde as receitas são fortemente tributadas para, depois, devolver o lucro sob formas diversas às entidades matrizes dessas companhias.

Os ganhos gerados pelas subsidiárias em jurisdições extraterritoriais são enormes face à reduzida dimensão e escassa atividade operacional que apresentam. Fontes especializadas explicam que a arquitetura e o funcionamento dessas estruturas têm objetivo deliberado de “explorar falhas nos sistemas fiscais”, desfere Raymond Baker, presidente da Global Financial Integrity, uma organização não lucrativa sediada em Washington conhecida pelo combate à evasão fiscal por grandes empresas.

Informação da AM Best (agência de rating de referência nos seguros), mostra que a Jupiter Insurance (seguradora cativa da BP), ao serviço do universo da antigamente designada British Petroleum (atual BP), registou cinco anos consecutivos de forte desempenho em subscrição e resultados operacionais, dispondo de 6500 milhões de dólares em numerário disponível no final de 2018, um balanço robusto.

A BP subcontrata a gestão de seguros a uma corretora sediada em Guernsey (jurisdição offshore no Canal da Mancha). A Jupiter Insurance Ltd, que dispõe de seis diretores e nenhum empregado, representou 14% dos ganhos anuais globais consolidados pela BP nos últimos exercícios. No período compreendido entre 2009 e 2013, intervalo em que se deu o desastre económico ambiental causado pelo acidente da plataforma Deepwater Horizon (Golfo do México), causando danos estimados em 70 mil milhões de dólares, os pagamentos desembolsados pela Jupiter não ultrapassaram 1,5 mil milhões. No mesmo período, o rácio de perdas manteve-se sempre inferior a um limiar de 15% relativamente ao valor dos prémios de seguro, indicava informação produzida pela AM Best, em 2014.

As seguradoras cativas detidas por petrolíferas mostram-se muito mais lucrativas do que as cativas das companhias de seguro tradicionais. Isso explica-se, em boa parte, por gastarem muito menos a indemnizar sinistros do que o que arrecadam com a cobrança de prémios às empresas irmãs (o universo BP conta centenas de empresas filiais distribuídas pelo mundo).

David Nicholas porta-voz da BP, disse que a Jupiter “tem residência fiscal no Reino Unido e, portanto, está sujeita ao regime fiscal britânico”. Mas, segundo a agência de notícias – que cita dados de entidades governamentais britânicas -, a seguradora da BP não pagou qualquer imposto britânico em 2019. A BP, que assume não se envolver em arranjos artificiais de planeamento fiscal, defende que compensou o rendimento tributável da Jupiter com perdas de outras filiais com sede no Reino Unido, um procedimento considerado típico. De resto, 98% das reservas da cativa eram transferidas para a BP International Ltd, (sediada em Londres e empresa-mãe da seguradora) a título de empréstimos. Em troca, a BP pagava juros pelo crédito, contribuindo ainda mais para os rendimentos (quase não tributados) da Jupiter.

Além da Shell e da BP, a agência de notícias refere outras petrolíferas cujas situações de transparência estão mais ou menos documentadas, mas que também detêm as suas próprias seguradoras. São os casos da norte-americana Chevron (Heddington Insurance Ltd, sediada na Bermuda), a francesa Total (Omnium Reinsurance Company, sediada na Suíça) e a italiana Eni SpA (Eni Insurance DAC, com sede na Irlanda).

A problemática dos paraísos fiscais (e a pressão internacional para os forçar a cooperar no combate à evasão), é preocupação antiga nas cimeiras G7 ao G20 (países mais industrializados e maiores economias), merecendo a atenção e ação específica (para coordenação internacional ao nível de políticas fiscais) por parte da Organização para a Cooperação Económica e o Desenvolvimento (OCDE).

A denúncia pública da estratégia fiscal de multinacionais – visando nomeadamente as práticas de elisão fiscal, erosão da base tributável e a transferência de lucros -, também não é tema novo e, há muito que a Platform, uma organização londrina que mistura ativismo ambiental, social, arte e investigação não poupa a indústria petrolífera como alvo do seu escrutínio. Uma publicação da coleção Platform Briefing já denunciava, há sete anos, a “competência” das petrolíferas no jogo do planeamento fiscal agressivo e da designada elisão fiscal. De acordo com o documento, as petrolíferas estruturam-se, elas próprias, no sistema internacional, com a arquitetura que melhor serve para fugirem aos impostos sem incorrerem em ilegalidade.

As majors do petróleo e gás apresentam vantagens intrínsecas na sua estratégia de maximização de ganhos e redução da contribuição devida aos orçamentos dos Estados com que se relacionam. Operando cadeias logísticas e de produção, transformação e distribuição em diferentes níveis e localizações, o setor oil & gas recruta peritos em contabilidade fiscal para se dedicarem às transações intragrupo e maximização do lucro. Perceber o funcionamento dos fluxos que servem a manipulação dos preços de transferência, e a necessidade de inflacionar custos, torna-se tarefa quase impossível sem a colaboração da própria companhia, sustentam outras fontes.

Exemplificando, a Platform refere no mesmo documento que, sozinha, a BP contava perto de 1600 entidades subsidiárias, muitas sediadas em jurisdições (paraísos fiscais) e territórios onde não se vislumbra atividade ligada à indústria petrolífera. Na maioria, são meras “caixas de correio” (shelf companies ou “sociedades fantasma”, na literatura especializada também designadas como Special Purpose Entities – SPE), são administradas por escritórios de advogados também offshore ao serviço dos esquemas fiscais utilizados.

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Medo de mais restrições ofusca vacinação. Wall Street desce

Com as infeções a aumentarem significativamente e o número de mortes a superar os 300 mil, os investidores temem mais restrições nos EUA. Wall Street fechou em baixa.

Após uma abertura em alta, os principais índices norte-americanos acabaram por fechar em baixa com os receios relativos a mais restrições por causa da pandemia a superarem o otimismo com o início do processo de vacinação nos Estados Unidos.

O Dow Jones desceu 0,62% para os 29.860,04 pontos e o S&P 500 desvalorizou 0,26% para os 3.654,03 pontos. Em contraciclo esteve o Nasdaq que valorizou 0,65% para os 12.458,80 pontos. Com o número diário de infeções a crescer nos Estados Unidos, os investidores receiam que haja mais restrições antes de a vacinação chegar ao nível necessário para que se possa voltar gradualmente à “normalidade”.

Esta segunda-feira o mayor de Nova Iorque, Bill De Blasio, avisou que a cidade — onde foi vacinada a primeira pessoa nos EUA — irá entrar num “confinamento total” em breve. “Estamos a ver o tipo de nível de infeções com o coronavírus que não víamos desde maio e temos de parar esse impulso ou o nosso sistema hospitalar será ameaçado“, avisou De Blasio, citado pela CNBC.

Ao otimismo da vacinação juntava-se o facto de o Congresso estar cada vez mais perto de aprovar um novo pacote de estímulos para a economia norte-americana e de a Reserva Federal preparar-se para prolongar o programa de emergência de compra de ativos, o que também tende a beneficiar as bolsas.

Se houver mais restrições generalizadas nos estados norte-americanos, a necessidade de mais estímulos orçamentais e monetários deverá ser ainda maior. Apesar de haver acordo geral sobre o pacote de estímulos de 908 mil milhões de dólares, continua a haver divergências sobre algumas partes do plano, nomeadamente sobre a ajuda a dar aos governos locais.

No sábado houve mais de 2.300 mortes nos EUA, depois de terem morrido 3.300 pessoas na sexta-feira. No total, já morreram mais de 300 mil norte-americanos. As novas infeções continuam a crescer significativamente com mais de 219 mil casos no sábado.

Entre as cotadas, destaque para a subida de 31% da norte-americana Alexion Pharmaceuticals — atingindo um máximo de quatro anos –, após ter sido noticiada uma oferta de 39 mil milhões de euros pela empresa por parte da britânica AstraZeneca. A ser aceite, esta aquisição será um dos maiores negócios do ano, segundo a Reuters.

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Telefónica, Claro e TIM compram a rede móvel da operadora brasileira Oi

  • Lusa
  • 14 Dezembro 2020

O consórcio vencedor, que poderia apresentar contraoferta a qualquer proposta, foi o único a fazer uma proposta no leilão, concluído em menos de 30 minutos.

As subsidiárias brasileiras das operadoras Telefónica, América Móvil e Telecom Itália adquiriram esta segunda-feira a rede móvel da operadora brasileira Oi, que colocou vários ativos à venda no âmbito do processo de recuperação judicial.

O consórcio formado pelas três empresas, as maiores operadoras de telecomunicações móveis do Brasil e que operam as marcas Vivo, Claro e TIM respetivamente, vai pagar 16,5 mil milhões de reais (cerca de 2,6 milhões de euros ao câmbio atual) por ativos móveis e licenças da Oi após vencer o leilão virtual realizado hoje.

O consórcio vencedor, que poderia apresentar contraoferta a qualquer proposta, foi o único a fazer uma proposta no leilão, concluído em menos de 30 minutos, e, sem concorrentes, pagará o valor que havia oferecido inicialmente pela rede de telefonia móvel da Oi.

A empresa Highline Brasil, controlada pelo fundo americano Digital Colony, chegou a manifestar interesse em manter-se nas operações móveis da Oi, mas acabou por desistir de participar do leilão. Sem mais interessados, o juiz do Rio de Janeiro, Fernando Viana, responsável pelo processo de recuperação judicial da Oi, aprovou a venda da rede móvel da empresa aos concorrentes.

A venda já recebeu aval dos credores da Oi e do Ministério Público, mas agora depende da aprovação de órgãos reguladores, entre os quais o Conselho Administrativo de Defesa Económica (CADE), que pode vetar a operação se considerar que o acordo viola a livre concorrência no Brasil.

As operadoras que adquiriram a quarta rede móvel do Brasil e que pretendem distribuir os 36,5 milhões de clientes da Oi (16% do mercado) já são as três maiores operadoras de telefonia do país, com participação conjunta da 82% do mercado (33% dos clientes brasileiros usam a operadora Vivo, 26% a Claro e 23% a TIM).

Com a distribuição dos ativos e licenças adquiridas, a participação de mercado da Vivo pode subir para 37%, da TIM para 32% e a da Claro para 29%. A operação também depende da aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), órgão regulador do setor de telecomunicações do Brasil. A Oi, cujos credores aprovaram a venda de grande parte de seus ativos, pretende permanecer exclusivamente com as operações de telefone fixo e fibra ótica para banda larga residencial, na qual já tem dois milhões de clientes.

Além do leilão dos ativos da rede móvel, a empresa vendeu no dia 26 de novembro por pouco mais de mil milhões de reais (172 milhões de euros) as suas 637 torres de telefonia móvel, adquiridas pela Highline Brasil, e cinco centros de dados, leiloados pela Piemonte Holdings por 325 milhões de reais (52,3 milhões de euros).

A Oi iniciou um pedido de falência em 2016 para negociar as suas dívidas, que na altura somavam mais de 64 mil milhões de reais (cerca de 10,3 mil milhões de euros na cotação atual). Com problemas financeiros, a Oi não participou dos últimos leilões de licenças para operar frequências de telefone móvel no Brasil, o que a deixou tecnologicamente desatualizada em relação aos seus concorrentes.

Esta desvantagem poderia aumentar significativamente sem sua participação no leilão do 5G, marcado para o primeiro semestre do próximo ano. O leilão vai conceder direitos sobre quatro diferentes faixas de radiofrequência (700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHZ e 26 GHz), o que, por se tratar de um país com dimensões continentais e um mercado de 212 milhões de habitantes, torna o concurso um dos maiores do mundo no setor.

A empresa portuguesa Pharol tem uma participação acionista na Oi. Até 31 de dezembro de 2019, a Pharol detinha ações equivalentes a 5,5% do capital social total da operadora brasileira.

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