Leão encosta PIB a previsão da Comissão Europeia

João Leão remete um número concreto para o Programa de Estabilidade, mas já admite que não fugirá muito aos 4,1% previstos pela Comissão Europeia.

O valor oficial só chegará com o Programa de Estabilidade, em abril, mas o ministro das Finanças já prepara o terreno para uma revisão em baixa do PIB em 2021 superior a um ponto percentual, aproximando-se das previsões da Comissão Europeia (4,1%) e do Banco de Portugal (3,9%). “A nossa estimativa não se afasta muito daquilo que a Comissão está a prever“, disse João Leão em entrevista ao Jornal de Negócios e à Antena 1.

O ministro das Finanças tem vindo a ajustar as expectativas quanto ao ritmo de recuperação da economia em 2021. Num momento inicial, João Leão admitiu no Parlamento Europeu que a 3.ª vaga é “mais forte” que o esperado — o que não era previsto no Orçamento — e previa impacto nas previsões de 2021. Essa expectativa viria a ser confirmada dias mais tarde num comunicado sobre o défice de 2020: “As medidas restritivas de confinamento associadas, com maiores apoios ao rendimento das famílias e às empresas, deverão conduzir a uma revisão em baixa do cenário macroeconómico e do saldo orçamental para 2021”.

Esta semana no Parlamento nacional Leão foi mais concreto ao anunciar uma revisão em baixa do PIB em abril: “No Programa de Estabilidade teremos de rever significativamente o cenário macroeconómico de 2021 e rever em alta o défice para 2021“.

No Orçamento do Estado para 2021 (OE 2021), o Governo previa um crescimento do PIB de 5,4% este ano, após uma contração de 8,5% em 2020. Contudo, o Instituto Nacional de Estatística (INE) já confirmou que a recessão foi menos grave, mas ainda assim histórica: a economia contraiu 7,6% por causa da pandemia.

Portugal vai ter um crescimento bastante robusto, mas esse crescimento será essencialmente a partir do segundo semestre“, explicou João Leão na mesma entrevista, admitindo que no primeiro trimestre do ano haverá uma contração do PIB face ao quarto trimestre de 2020.

No Ministério das Finanças trabalha-se com o pressuposto de que o segundo trimestre será de “transição” entre a contração do início do ano e o “crescimento bastante robusto” da economia a partir do verão, esperando um “papel importante” do turismo. Quanto a previsões concretas, “ainda é muito cedo para isso”, diz João Leão, preferindo esperar por mais dados sobre o impacto do confinamento no primeiro trimestre. “Seria precipitado estar a adiantar já”, concluiu.

Neste momento, em termos de previsões internacionais, apenas a Comissão Europeia atualizou os números desde que o confinamento foi decretado a meio de janeiro. Os peritos de Bruxelas atualizaram esta quinta-feira a previsão do crescimento português para 4,1% em 2021, abaixo dos 5,4% (a mesma previsão do Governo) de novembro do ano passado. Na trajetória prevista pela Comissão, a economia portuguesa chega ao nível pré-Covid no final de 2022, ano em que a economia crescerá 4,3%.

Para António Ascensão da Costa, do ISEG, “estas previsões são, sobretudo, ‘não pessimistas‘”. Em declarações ao ECO reagindo às previsões da Comissão (antes das declarações de João Leão), o professor afirma que “estas previsões estão dentro do provável, não são impossíveis com os dados atuais, mas estão, por agora, um pouco do lado mais favorável, em termos de evolução subjacente da epidemia, face à nossa leitura”. “Se se vierem a verificar corretas, será, obviamente, positivo“, conclui.

Jorge Borges Assunção, da Católica, alerta ao ECO que a “incerteza é ainda muito grande e os poucos dados disponíveis são muito voláteis e difíceis de transformar numa estimativa”.

As restantes instituições ainda não atualizaram as previsões, mas já havia indicações até mais pessimista, como era o caso da OCDE: a Organização previu a 1 de dezembro que a economia portuguesa ia crescer apenas 1,7%, mas esta previsão foi revelada também antes de saber que os reguladores estavam prestes a aprovar vacinas contra a Covid-19.

A nível nacional, o Banco de Portugal estimou a 15 de dezembro que a economia portuguesa ia crescer 3,9%, já mais próximo da previsão agora revelada pela Comissão Europeia. Contudo, esta previsão assumia que “as restrições são gradualmente retiradas a partir do primeiro trimestre de 2021, embora a atividade permaneça condicionada até ao início de 2022, altura em que uma solução médica eficaz estará plenamente implementada”. Entretanto já se sabe que as restrições só deverão começar a ser gradualmente retiradas no segundo trimestre. Por outro lado, existe o objetivo de vacinar 70% da população até ao final do verão, antecipando o alcance da imunidade do grupo. O pior cenário do BdP passa por um crescimento de apenas 1,3% em 2021.

Mais recentemente, o Fórum para a Competitividade e a Católica já adiantaram previsões que admitem uma contração da economia em 2021, mas continuam a frisar que existe muita incerteza quanto à evolução da pandemia. Os restantes economistas, nomeadamente os dos bancos e também os do ISEG, por exemplo, continuam a trabalhar num cenário central em que a economia cresce este ano, embora menos do que o antecipado anteriormente.

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