Sonangol deve comprar empresa de energias renováveis antes da privatização, consideram analistas
Analistas da Cedesa consideram que a Sonangol deve entrar no negócio das energias renováveis para se tornar mais atrativa para a privatização.
A Cedesa, entidade que analisa assuntos políticos e económicos de Angola, defendeu este domingo que a petrolífera angolana Sonangol deve adquirir uma empresa de energias renováveis para desenvolver este negócio e tornar-se mais atrativa para a privatização.
“No momento presente, em que se pretende privatizar a Sonangol numa perspetiva global”, é importante que a petrolífera tenha “tarefas na área das energias renováveis”, defende a Cedesa num documento de análise a que a Lusa teve acesso. Porque, “para ser uma empresa atrativa para o mercado internacional de ações, a Sonangol deve apresentar-se como adotando as últimas tendências das petrolíferas, e também seguindo as necessidades da transição energética“, considera o grupo de académicos.
Não abandonando nem menosprezando o seu potencial de crescimento na área da exploração e produção de petróleo, a Sonangol “deve explorar com arrojo as possibilidades combinadas trazidas pelas energias renováveis”, defende a Cedesa.
Mas essa exploração “não deverá começar do zero”, deve sim ter “alguma sustentabilidade e economias de escala”, reforça o grupo de académicos, recordando que já tinha aflorado este caminho em anteriores relatórios, colocando, porém, a hipótese de a Sonangol poder vir a ter uma parceria estratégica com a portuguesa Galp para esta nova área de negócio. Agora, a Cedesa considera que, se não for “esta a hipótese adotada”, a petrolífera angolana deve rever “a racionalidade da sua permanência na Galp”.
Na opinião dos académicos da Cedesa, neste momento, a posição angolana na petrolífera portuguesa está “ensanduichada” entre a empresária Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, e a família Amorim (herdeiros do empresário Américo Amorim], e desta forma, corresponde “a um mero investimento financeiro”, que “já não tem muito sentido”.
Deste modo, “ou a Galp se torna um parceiro estratégico para a transição energética da Sonangol, ou uma revisão da posição torna-se exigível”, realçam. Neste último contexto, “a alternativa seria a Sonangol adquirir uma empresa já minimamente estabelecida no ramo [das energias renováveis] e desenvolver as suas atividades a partir dessa nova plataforma”.
Neste momento, já foram anunciadas parceiras com as petrolíferas ENI (italiana) e Total (francesa) para desenvolver projetos em energias renováveis, que estarão a funcionar em 2022. Em relação ao potencial da empresa na área da exploração e produção de petróleo, a Cedesa considera que “há espaço e há mercado para a Sonangol, enquanto empresa petrolífera, crescer”.
Pelo que, “a estruturação estratégica em curso da Sonangol deve-se centrar em produzir mais petróleo de forma mais eficiente, quer em termos de custos, quer em termos ambientais“. A entidade estima que “nas economias em crescimento acelerado, mais petróleo vai ser necessário, ainda que muitas vezes de forma não tão exponencial como anteriormente”.
Assim, “existe uma larga margem para a Sonangol continuar a centrar-se no petróleo, quer porque nem sequer as quotas definidas pela OPEP para Angola são preenchidas”, quer pelo facto de o país estar neste momento “a produzir menos do que devia numa situação de restrição de mercado”. “Nessa medida, a Sonangol não deverá cometer o erro – como algumas petrolíferas estão a fazer – de menosprezar o potencial do crescimento do mercado petrolífero”, sublinham.
Mas reforçam que este modelo, “focado na eficiência petrolífera, tem de ser compaginado com o potencial enorme que se está a abrir nas energias renováveis e a empresa tem de aproveitar as sinergias energéticas, tal como estão a fazer muitas das suas congéneres e também fazem a China e Índia”. “A Sonangol deve tornar-se numa empresa bi-focada: no petróleo e nas energias renováveis”, concluem.
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