Comércio com otimismo moderado na Black Friday. Distribuidoras reforçam equipas

Numa altura em que o comércio ainda recupera do impacto da pandemia, as cadeias de retalho olham para a Black Friday com um otimismo moderado e esperam um aumento da afluência de clientes nas lojas.

É com um moderado otimismo que o retalho está a olhar para o aumento de vendas com a Black Friday. Desde o início de novembro que não faltam promoções a pensar num dos maiores momentos de consumo, que cola com o Natal, levando cadeias a contratar e as distribuidoras a reforçar o pessoal para garantir que as encomendas online chegam a tempo e horas. Só a Worten conta com 500 novos colaboradores. A DPD reforçou com 600 colaboradores. Poucas cadeias antecipam quebras de stock.

Estamos moderadamente otimistas. São momentos importantes, que, em resultado de um esforço grande dos lojistas em mitigar as suas margens, constituem uma oportunidade extraordinária dos portugueses adquirirem produtos e serviços a preços extremamente convidativos”, assinala Miguel Pina Martins. Ainda assim haverá “menos vendas” e menor rentabilidade face a 2019, “ainda que um pouco melhores do que em 2020, aponta o presidente da Associação de Marcas de Retalho e Restauração (AMRR) ao ECO.

Um otimismo cauteloso vivido também na Fnac. Nos últimos anos a Black Friday tem “vindo a aumentar o seu peso em termos de vendas” na cadeia francesa, e para este ano a expectativa é que “este peso continue a registar um crescimento, principalmente devido à extensão da campanha”, diz Pedro Falé, diretor comercial da Fnac.

No mercado de bens eletrónicos, onde atua a MediaMarkt, a Black Friday e a campanha de Natal são “efetivamente o momento mais importante”, sendo que “o seu peso no volume global de vendas é cada vez mais importante“, admite Francisco Teixeira, responsável de gestão da MediaMarkt. E o mesmo diz a Rádio Popular. Por isso, “há uma expectativa natural no aumento da procura e, consequentemente, um crescimento das vendas“, admite fonte oficial da cadeia sem adiantar valores.

Os resultados dos estudos parecem sustentar esse otimismo q.b. Quase um em cada dois portugueses (44%) admite fazer compras na temporada de consumo que arranca na Black Friday e se prolonga até depois do ano novo, indica o estudo “Google Consumer Survey Portugal”, realizado em julho de 2021.

Mais, diz o estudo da Google, 22% dos inquiridos admite que irá comprar exclusivamente online, canal que ganhou robustez no ano passado com as restrições no comércio impostas pela pandemia a empurrar os portugueses para as compras digitais. Globalmente, no ano passado os portugueses gastaram 7,4 mil milhões de euros a adquirir produtos e serviços pela internet, um crescimento de 25,5% face a 2019, de acordo com relatório anual sobre o e-commerce elaborado para os CTT.

Cadeias apostam nas vendas em loja e online

Na Fnac, cujo e-commerce acabou por registar um crescimento bastante notório” durante a pandemia, o peso das vendas neste segmento registaram um aumento que ronda os “sete pontos” percentuais, adianta o diretor comercial da cadeia francesa, Pedro Falé.

Uma tendência sentida nas restantes retalhistas ouvidas pelo ECO. Na Worten, por exemplo, as vendas online representaram, pela primeira vez em 2020, “um peso de dois dígitos no total do volume de negócios da marca”, revela António Fuzeta da Ponte, diretor de marca e comunicação da cadeia de comércio eletrónico da Sonae.

Já na Rádio Popular este canal registou “um aumento de vendas mensalmente na ordem dos dois dígitos consecutivamente”, ao passo que na MediaMarkt o digital já representa “mais de 20% das vendas“.

Também no grupo Tendam — dono da Cortefiel, Women’Secret, Springfield e Pedro del Hierro -–, o negócio digital cresceu 34,5% entre fevereiro a julho deste ano, face a igual período de 2019 e 84,5% face a 2019.

Mas nesta Black Friday ano, com o fim das restrições nas lojas físicas — as regras anunciadas na quinta-feira pelo Governo referem apenas a obrigação do uso de máscara em locais fechados — a estratégia das cadeias passa tanto pelas lojas físicas como pelo online. O que poderá ser uma boa aposta, já que mais de metade (53%) dos inquiridos no “Google Consumer Survey Portugal” admitem fazer compras tanto online como em lojas físicas.

Apesar de mais de 80% da população portuguesa ter já a vacinação completa contra a Covid-19 — pese embora estar em curso uma campanha de reforço da dose — e de já não existir limites de lotação nas lojas, as marcas estão a apostar numa campanha “esticada”durante vários dias, por forma a evitar grandes aglomerações. Na Fnac a campanha de desconto prolonga-se durante 16 dias, nas lojas do grupo Tendam os descontos prolongam-se 18 dias, ao passo que na Worten e na Rádio Popular duram praticamente o mês inteiro. Além disso, as retalhistas vão também continuar a apostar nos portes gratuitos, que vão desde compras a superiores a 15 euros (no caso da Fnac e apenas para clientes aderentes) a compras superiores a 49,99 euros, no caso da Worten.

A variedade de produtos e os períodos de devolução são também outras das grandes preocupações. “Este ano, apostamos num conceito que lançámos no início do ano e que reflete o que a Worten é: uma one-stop shop, que começa em tecnologia, mas que, agora, abrange muito mais oferta como, por exemplo, brinquedos, livros, produtos para bebés, pets, etc”, refere António Fuzeta da Ponte, sublinhando que esta “abrangência e variedade” vai estar disponível tanto nas lojas físicas como nos canais digitais. Por outro lado, esta marca e a MediaMarkt vão também alargar o período de devolução até 31 de janeiro de 2022.

Quebras de stock? Fnac e Worten admitem quebras pontuais

A subida dos custos das matérias-primas e a falta de componentes com o chips, aliadas ao aumento dos preços dos contentores marítimos têm vindo a ameaçar diversos setores e o comércio não é exceção. Estas condicionantes levaram inclusivamente a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) a admitir que “estão a provocar muitos constrangimentos para a importação de produtos de fora da Europa e que têm um peso significativo no retalho especializado”, como brinquedos e produtos de eletrónica, o que se poderá tornar num cocktail explosivo que pode vir a ter impacto” nas compras dos portugueses”, disse Gonçalo Lobo Xavier em declarações ao ECO.

As cadeias desvalorizam esse possível efeito negativo na disponibilidade da oferta. Se a Fnac e a Worten admitem que estes fatores podem “ter impacto na disponibilidade de stock em algumas áreas ou marcas” e que “o risco de rutura, face a escassez de matérias-primas é sempre algo que pode acontecer”, as restantes marcas não preveem faltas de abastecimento a curto prazo, dado que estas campanhas são preparadas com vários meses de antecedência.

Começamos a trabalhar a planificação de campanhas tão importantes como a Black Friday antes do verão e este ano não só começamos muito antes essa planificação, como fizemos as necessárias previsões revistas em alta de forma a assegurar o máximo fornecimento possível de mercadoria”, afirma Francisco Teixeira, responsável de gestão da MediaMarkt, acrescentando, no entanto, que “poderão existir pontualmente” falhas de alguns artigos, mas que a marca vai procurar oferecer “de forma imediata” uma “alternativa” aos clientes.

Cadeias e distribuidores reforçam equipas

Para responder a este “pico de consumo”, tanto as marcas como as distribuidoras estão a apostar na expansão da sua capacidade, nomeadamente de recursos humanos. Com 200 lojas espalhadas de Norte a Sul do país, a Worten conta com “500 novos colaboradores, durante esta época e até ao Natal” para sejam assegurados “níveis elevados de atendimento” nas lojas e para “dar mais atenção aos clientes”, afirma António Fuzeta da Ponte.

O cenário é também seguido nas distribuidoras, em resposta ao aumento da procura online. Os CTT, um dos maiores operadores nacionais, a aposta tem sido o reforço da rede. Tendo em conta que a Black Friday “representa um acréscimo na ordem dos 55%” nas encomendas dos CTT “face a uma sexta-feira ‘normal’ de novembro” e que se espera um aumento do número de encomendas, a empresa está “a apostar num processo contínuo de expansão da sua capacidade operacional e de tratamento com a entrada em produção de três novos centros de tratamento em Portugal e também com a ampliação da capacidade de dois outros já existentes desde 2020“, adianta fonte oficial da empresa ao ECO. Paralelamente estão também “a expandir a capacidade das suas rotas de distribuição”.

Também na DHL o aumento do fluxo dos envios durante a Black Friday no ano passado “rondou os 50%”, pelo que as expectativas para a tradicional época de compras “são muito elevadas”. Por isso, durante esta época, a empresa reforçou “especialmente a estrutura de recolha e entrega de encomendas, de forma a dar resposta ao aumento do fluxo de encomendas”, sublinha o diretor de operações da DHL Express, Gualter Courelas.

Ao mesmo tempo, a DPD espera ter “cerca de 2,8 milhões de encomendas”, entre 24 de novembro a 24 de dezembro, isto é, um número superior de encomendas face às registadas em igual período do ano passado, dado que “as compras online têm sido uma realidade cada vez mais presente nos lares dos consumidores nacionais”, refere Olivier Establet, CEO da DPD em Portugal, citado em comunicado. Nesse contexto, para fazer face ao aumento de atividade a empresa anunciou que ia contratar mais 600 colaboradores para as áreas de triagem e entregas de encomendas e no apoio ao cliente, bem como criar duas bases de distribuição temporárias.

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