Seguradores marítimos lançam “Princípios Poseidon” para zero emissões no shipping

  • António Ferreira
  • 21 Dezembro 2021

A "carta" de Poseidon tem como signatários fundadores Gard, Swiss Re, SCOR, Hellenic Hull Management, Norwegian Hull Club e Victor International. Willis Towers Watson, Cefor e EF Marine já aderiram.

Os Poseidon Principles for Marine Insurance contam já com nove organizações aderentes.

Seis das maiores companhias globais do seguro marítimo lançaram uma iniciativa com o propósito de assegurar transparência nas emissões de carbono da marinha mercante e apoiar a transição para a neutralidade climática na indústria de shipping.

Os “Poseidon Principles for Marine Insurance” (Princípios Poseidon para Seguro Marítimo) estabelecem um quadro para avaliação e reporte quantitativo transparente no sentido de alinhar as carteiras de subscrição de seguros marítimos – particularmente casco e maquinaria – em torno de objetivos climáticos, explica a comissão constituinte da iniciativa que, numa perspetiva abrangente, supõe empenho efetivo da marinha mercante e da indústria naval.

A “carta” de princípios é assinada pela Gard P&I, Swiss Re, SCOR, Hellenic Hull Management, Norwegian Hull Club e a Victor International, enquanto signatários fundadores, e já foi subscrita pela Willis Towers Watson, Cefor (Associação Nórdica de Seguradores Marítimos) e a EF Marine como membros filiados.

Esperando que mais seguradoras adiram ao projeto, esta iniciativa para descarbonizar o shipping assenta em quatro pilares fundamentais que sustentam metodologia, responsabilização, critérios técnicos e requisitos a cumprir na recolha e análise dos dados que vão suportar os objetivos de transparência, conforme detalha um comunicado dos subscritores da iniciativa com promessa de relatórios anuais elaborados pelo secretariado da organização, os quais incluirão extratos do que for reportado pelos signatários e aderentes da “carta,” institucionalmente apoiada pela IUMI (União Internacional do Seguro Maritimo).

O caminho para a neutralidade carbónica constitui esforço enorme e “enquanto gestores de risco, seguradores e investidores, a indústria de seguros tem um papel fundamental no apoio à transição para uma economia net-zero. (…) os Princípios Poseidon vão permitir-nos relatar de forma credível o progresso em direção a seguros de emissões zero utilizando a granularidade dos dados marítimos,” afirma Patrizia Kern, Diretora de Marine na Swiss Re Corporate Solutions e presidente do comité de redação dos Princípios Poseidon para o seguro marítimo.

O comité constituinte dos “Princípios Poseidon” assume que a iniciativa é pioneira e faz do ramo marítimo a primeira linha de negócio da indústria de seguros a estabelecer uma metodologia setorial que suporta de modo específico a ambição da Net-Zero Insurance Alliance (NZIA), uma aliança que é referência setorial no compromisso do seguro global de transitar as carteiras de subscrição de risco para um objetivo de Zero emissões líquidas de GEE (gases com efeito de estufa) até 2050, consistente com um aumento máximo da temperatura de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais até 2100, em linha com o Acordo de Paris (COP21).

Os Princípios “fornecem-nos uma ferramenta comum para monitorizar o progresso ao longo do tempo. (…) O nosso objetivo comum é um acelerar da passada no percurso para uma indústria descarbonizada”, reforçou Rolf Thore Roppestad, CEO da Gard e vice-presidente do comité que redigiu estes fundamentos Poseidon para o seguro marítimo.

Numa primeira fase, o esforço deverá responder a uma redução de 50% das emissões anuais de CO2 até 2050 (face a 2008 e em linha com a estratégia inicial de redução dos GEE fixada pela IMO). Paralelamente, os signatários da iniciativa têm a ambição de diminuir em 100% as emissões e GEE por forma a corresponder ao compromisso da NZIA.

“Ao aderirmos a esta importante iniciativa, queremos demonstrar todo o empenho na colaboração com os nossos clientes e parceiros comerciais para navegar com sucesso a transição para um futuro net-zero“, complementou Ben Abraham CEO de Global Marine na corretora global Willis Towers Watson.

Transporte marítimo e regulamentação UE para limitar emissões

Números oficiais da IMO (sigla internacional da Organização Marítima Internacional) – considerando apenas a categoria Very Large Gas Carrier (grandes navios petroleiros que usam LPG como combustível) – estimam uma frota global composta 339 embarcações no final de 2021, podendo alcançar um efetivo de 400 embarcações no fecho de 2023. Para esta categoria de navios, que será fortemente impactada pelas regulações de âmbito climático, preveem-se dificuldades de compliance face aos limites da intensidade de emissão de gases com efeito de estufa da energia utilizada a bordo, uma vez que a aplicação dos critérios de monitorização varia de um navio para outro.

Na União Europeia, o setor de shipping (expressão que designa a “marinha mercante” e que inclui as atividades de transporte marítimo de passageiros e mercadorias, e respetiva operação portuária auxiliar) contribui para 75% do volume de comércio externo e em cerca de 31% para o volume de trocas internas, enquanto 400 milhões de passageiros embarcam ou desembarcam anualmente em portos da UE.

O tráfego de ou para os portos do Espaço Económico Europeu representa cerca de 11% do total das emissões de CO2 na UE provenientes dos transportes e 3-4% do total das emissões de CO2 na UE.

Em setembro 2020, a Comissão Europeia adotou uma proposta apontando redução de GEE (gases com efeito de estufa) no mínimo em 55% até 2030 para colocar a UE numa trajetória responsável para alcançar a neutralidade climática até 2050. Para atingir essa meta, Bruxelas previu necessidade de reduzir em 90% as emissões dos transportes até 2050, com todos modos de transporte, incluindo o transporte marítimo, chamados a participar no esforço de redução, através de mais eficiência energética, com energia e combustíveis mais limpos (renováveis e hipocarbónicos).

No seguimento de consultas públicas entretanto encerradas no início de novembro, o processo legislativo da iniciativa “FuelEU Maritime” conduziu à recente proposta final de regulamento – COM(2021)562 que define limites mínimos de redução da intensidade média anual de GEE da energia utilizada a bordo dos navios nos seguintes valores de referência: -6% a partir de 1 de janeiro de 2030; -13% a partir de 1 de janeiro de 2035; -26% em janeiro de 2040; -59% a partir de 1 de janeiro de 2045 e menos 75% em janeiro 2050.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Seguradores marítimos lançam “Princípios Poseidon” para zero emissões no shipping

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião