Preço da eletricidade no Mibel atinge 383,67 euros/MWh, o sétimo recorde em oito dias

"A Europa está a passar por uma crise energética inédita. O preço do gás natural quadruplicou, espoletando aumentos exponenciais também na eletricidade, dizem os analistas do Banco Big.

Os preços da luz não dão sinas de abrandamento mercado grossista de eletricidade. Em oito dias, são já sete recordes: na quinta-feira, o custo do MWh no Mibel vai atingir 383,67 euros. O último máximo, já de si estratosférico, de 360 euros por MWh, foi registado esta quarta-feira.

Para perceber a diferença, no início de 2021, os preços da eletricidade no Mibel rondavam os 60 euros por MWh, avançando para 160 euros por MWh em julho. Agora, os valores já ultrapassaram os 300 euros por MWh, aproximando-se a passos largos dos 400 euros por MWh.

De acordo com o operador da plataforma de contratação diária do mercado ibérico de eletricidade (OMIE), os preços na quinta-feira vão oscilar entre um máximo histórico de 409 euros por MWh (a primeira vez que é passada esta barreira) e um mínimo de 303 euros por MWh, um desempenho que continua a ser explicado pelo contínuo aumento dos preços do gás, mas também dos custos das licenças para a emissão de dióxido de carbono.

Na terça-feira, os preços de referência do gás para entrega no próximo mês na Europa, que já estão a ser negociados a níveis recorde, diz o Financial Times, dispararam entretanto mais de 20% para 181 euros por megawatt hora.

Os analistas do BIG – Banco de Investimento Global, numa nota de análise sobre a crise energética europeia, argumentam que se trata de uma “situação inédita”.

“A Europa está a passar por uma crise energética inédita. O preço do gás natural quadruplicou, espoletando aumentos exponenciais também na eletricidade. Estes aumentos, para além da inflação causada, estão já a provocar a suspensão de produção de algumas empresas europeias, que não conseguem atingir margens positivas com este nível de preços. As causas incluem o menor volume de inventários de gás no início do ano, uma menor produção de energias renováveis, uma maior procura noutras regiões por gás (por exemplo China) e uma restrição na oferta de gás da Rússia”, referem.

No entanto, o site Energy Live mostra que para esta quinta-feira, Portugal e Espanha são os dois únicos países onde os preços da eletricidade sobem, com uma tendência de queda em todos os restantes países europeus.

Principais causas da crise energética na Europa

De acordo com a nota de análise do BIG – Banco de Investimento Glogal, a atual crise energética, nomeadamente aumentos do preço do gás natural e eletricidade, advém de uma combinação de vários fatores:

  • Inventários a níveis reduzidos

O inverno mais frio de 2020/21, levou a um maior consumo de gás natural diminuindo assim os níveis de inventários para níveis abaixo da média.

  • Transição Energética

Os planos ambiciosos da UE para a transição para energias mais limpas, motivou o fecho de várias centrais a carvão, responsáveis pela produção de eletricidade. A maior dependência em energias renováveis (solar e eólica) inclui o risco de maior volatilidade na produção de eletricidade, tendo-se verificado em 2021, uma menor produção por esta via devido às condições climatéricas. Assim, foi necessário recorrer a maior produção de eletricidade por via de centrais de gás natural, aumentando a procura por esta matéria prima.

  • Desvio de gás para a China

O governo chinês estabeleceu também metas de redução de poluição, que incluem entre outras medidas, o menor uso de centrais de geração de eletricidade através de carvão. Como alternativa, foi necessário
gerar eletricidade recorrendo a mais centrais de gás natural, aumentando assim a necessidade de importação desta matéria prima. Devido ao preço mais alto praticado pelos importadores chineses, foram desviados navios de gás natural liquefeito para a China, que tinham anteriormente como destino a Europa.

  • Menor fornecimento da Rússia

A redução de importações europeias de gás natural liquefeito dos EUA e outras regiões, teve como consequência um aumento da dependência das importações de gás natural da Rússia. Existem já gasodutos da Rússia para a Europa, que passam por exemplo pela Ucrânia, no entanto, a Rússia quer aprovar o projeto Nordstream 2, que irá ligar a Rússia diretamente à Alemanha através do mar do Norte. Para forçar esta aprovação e aproveitando a debilidade da Europa, a Rússia limitou o fornecimento de gás natural pelos gasodutos mais antigos, provocando assim uma falta de gás na Europa.

  • Aumento dos preços dos certificados CO2

Os certificados de CO2 são necessários para a produção de eletricidade através de fontes poluentes como o carvão. No entanto, estes aumentaram de forma significativa o preço, devido à redução do número de certificados emitidos, por causa das maiores ambições climáticas da UE. Assim, tornou-se mais dispendioso a produção de eletricidade por via de fontes de energia poluentes como o carvão, obrigando as produtoras a optar por energias mais limpas como o gás natural.

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