Exclusivo “No Pego ainda há 400 MW de ligação à rede, que podem ir a leilão”

A Endesa venceu o concurso e avança para projeto de renováveis que estará pronto em 2025. A Tejo Energia discorda da decisão. Mesmo em desacordo, ambas têm "responsabilidade" de tirar o carvão do Pego

“Onde há um divórcio, há filhos”. A expressão é de Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa, em declarações ao ECO, para se referir à atual relação entre a elétrica que dirige e a Tejo Energia, uma joint venture entre a Trustenergy, com uma participação maioritária de 56,25%, e a própria Endesa.

Na prática, a Tejo Energia é ainda a atual proprietária da Central Termoelétrica (a carvão) do Pego, apesar de o Governo ter já leiloado a ligação à rede por onde a central escoava toda a energia que produzia, até fechar portas a 30 de novembro de 2021.

A Endesa venceu o concurso lançado pelo Governo e vai agora avançar sozinha para um novo projeto de renováveis no local, que ocupará apenas um terço da ligação disponível à rede (cerca de 600 MW). Ou seja, diz o presidente da Endesa: “No Pego restam ainda 400 MW de ligação à rede, que podem ir de novo a leilão”.

A Tejo Energia ficou em segundo lugar no concurso, mas já anunciou em comunicado que “não está de acordo com a decisão anunciada”. “Apesar do desfecho deste concurso, a Tejo Energia mantém o seu entendimento de que o lançamento deste procedimento não respeitou os direitos que a empresa detém sobre o ponto de injeção na rede”, refere o mesmo comunicado.

Não é de agora que a relação está “azeda” entre os dois parceiros. Mas Nuno Ribeiro da Silva lembra: “Vamos ter de continuar juntos, estamos associados quer na central de ciclo combinado a gás natural do Pego, quer no que ainda há a fazer com a central a carvão”, disse ao ECO.

Endesa e Trustenergy são sócias na Tejo Energia e “têm responsabilidades e compromissos na limpeza do local. A sociedade tem de se manter operacional e responsável na limpeza do que eram os parques de carvão, e quanto ao futuro da central”, sublinhou o presidente da Endesa.

Endesa quer ter 6.000 horas de produção com renováveis no Pego

Quanto aos projetos de energias renováveis, cada um puxa à brasa à sua sardinha, mas só um podia sair vencedor.

“O primeiro lugar foi a confirmação de que o nosso projeto era de facto o melhor. É um projeto entusiasmante pela combinação de tecnologias que apresenta, todas elas renováveis, com recurso a energia eólica, solar, hibridização, armazenamento (a maior bateria da Europa) e ainda um eletrolisador de 500 kW que poderá ir crescendo na sua capacidade ao longo dos anos. Quando as baterias estiverem saturadas, começa a ser adicionada capacidade de eletrolisação para a produção de hidrogénio verde. Não se perde nada, nenhuma energia produzida”, explica Ribeiro da Silva.

Já a Tejo Energia apresentou um projeto que assentava numa solução integrada, que passava pela conversão da Central do Pego, flexível, com várias componentes, a introduzir faseadamente utilização sustentável de biomassa de origem residual para produção de eletricidade renovável (245 MW), energia eólica (159 MW) e energia solar (350 MWp).

“Possibilitaria começar a injetar já eletricidade de origem renovável no Sistema Elétrico Nacional, reduzindo as necessidades de importação de energia e de combustíveis fósseis para produção elétrica, numa altura em que Portugal enfrenta uma seca extrema e preços crescentes de energia por causa do conflito russo-ucraniano”, frisou a empresa em comunicado.

Já Nuno Ribeiro da Silva salienta que, apesar de o futuro projeto da Endesa ter uma potência total de mais de 600 MW, “como sabemos que nem sempre será toda necessária, por isso não solicitámos toda essa ligação à rede, mas apenas uma parte”.

“Isso tem a ver com a flexibilidade do projeto, que requer apenas um terço de ligação à rede face ao que está instalado. Assim, não ocupamos capacidade a mais, que é um bem escasso. Isto permite agora que a capacidade remanescente vá de novo a leilão. É muito importante tendo em conta a escassez de ligações à rede e a proliferação de projetos renováveis”, diz o presidente da Endesa.

Quanto aos planos da elétrica espanhola, cujos detalhes já são conhecidos, terá um investimento de 600 milhões de euros e ficará pronto em março de 2025, em terrenos contíguos à central do Pego, que já haviam sido adquiridos para o efeito.

A Endesa obteve um direito de ligação à Rede Elétrica de Serviço Público de 224 MVA para a instalação de 365 MWp de energia solar, 264 MW de energia eólica, com armazenamento integrado de 168,6 MW e um eletrolisador de 500 kW para a produção de hidrogénio verde.

Garante a empresa que o projeto vai permitir a obtenção de quase 6.000 horas de produção, superior ao funcionamento de qualquer central térmica convencional.

A empresa compromete-se ainda com a criação de 75 postos de trabalho, 12.000 horas de formação e apoio às PME para que integrem os seus projetos na região.

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