BRANDS' ECO Desafio 2030: o projeto que une IES e PME pelo conhecimento

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  • 31 Agosto 2022

O "Desafio 2030" é o projeto da fundação AEP, que visa promover a transferência de conhecimento entre Instituições de Ensino Superior (IES) e PME.

A Fundação AEP está a promover o “Desafio 2030”, um projeto que pretende fomentar a colaboração e a transferência de conhecimento entre as entidades que compõem o Sistema Científico e Tecnológico Nacional, nomeadamente IES, e as PME através da ativação de ações estratégicas.

Aumentar a produtividade e a competitividade das PME e, ainda, solucionar os desafios que as empresas nacionais enfrentam no domínio da transferência de conhecimento e inovação são alguns dos principais objetivos desta iniciativa, que também conta com apoio do COMPETE 2020 e o alto patrocínio do Presidente da República.

Em entrevista ao ECO, Luís Miguel Ribeiro, presidente da Fundação AEP, explicou qual a importância desta transferência de conhecimento para as empresas e ainda revelou as mudanças que espera que o “Desafio 2030” traga no que diz respeito a oportunidades para as PME.

Como surgiu a ideia do “Desafio 2030”?

O Projeto Desafio 2030 – Transferência de Conhecimento e Tecnologia nasce da necessidade de dinamizar a circulação e a valorização do conhecimento para reforçar a exploração do potencial económico daí resultante. É preciso aumentar o impacto económico do conhecimento gerado pelo SCTN – Sistema Científico e Tecnológico Nacional, sempre assinalado como baixo nos sucessivos relatórios do European Innovation Scoreboard.

Com o apoio do COMPETE 2020, o alto patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República, e a parceria estratégica do BEM — Banco Empresas Montepio, o Desafio 2030 pretende incentivar a colaboração e a transferência de conhecimento entre o SCTN – Sistema Científico e Tecnológico Nacional e as empresas, através da implementação de ações estratégicas para fazer face aos desafios da inovação colaborativa.

O grau de partilha do conhecimento produzido nas nossas universidades, e nas diversas entidades que integram o sistema científico e tecnológico com as empresas, foi o ponto de partida para uma reflexão que nos permita pensar que caminhos devemos seguir para que este conhecimento chegue de forma efetiva às empresas, mas acima de tudo traga inovação ao tecido empresarial nacional.

Em que consiste, em concreto, este projeto?

No âmbito do projeto, que teve a duração de 24 meses e intervenção nas regiões do Norte, Centro e Alentejo, destacamos a realização de um estudo sobre as boas práticas internacionais de transferência de conhecimento e tecnologia e a performance do Sistema Científico e Tecnológico Nacional, um estudo da performance competitiva e de inovação das empresas portuguesas face ao contexto internacional, que pretendiam aferir o estado atual dos intervenientes no ecossistema da inovação.

Paralelamente, foi construído um catálogo digital pesquisável com as principais entidades que integram o SCTN. Este catálogo contém as suas especialidades, bem como os dados principais de contacto. E foram, também, identificados dez casos de boas-práticas de colaboração entre o SCTN e PME em torno de atividades de inovação que estão disponíveis no site do Projeto.

Gostava, ainda, de destacar o Manual de Inovação Aberta. Se estivéssemos a fazer uma análise de matriz BCG, seria o nosso produto estrela. Foi o que exigiu mais investimento da nossa parte e de todas as partes envolvidas. Constituímos focus groups, testamos o manual junto de dez empresas e publicamos um documento que pretende ser uma resposta ao desafio da cocriação.

Quais são os seus principais objetivos?

Um dos principais desafios é alcançar uma trajetória de crescimento mais forte e sustentável, que terá de ser assente em múltiplos fatores, como a AEP sublinha no seu mais recente estudo “Do pré ao pós pandemia: Os novos desafios”. Nessa trajetória, um dos principais caminhos é precisamente o caminho da inovação, pela capacidade significativa que esta tem de gerar maior valor acrescentado, maior produtividade e competitividade para o tecido empresarial.

Apesar da melhoria já registada, em Portugal o rácio de I&D global no PIB situa-se, ainda, cerca de 30% abaixo da média europeia e no caso do I&D empresarial este diferencial agrava-se para 40%. Por isso, é tão importante promover a colaboração e a transferência de conhecimento entre as entidades do SCTN e as empresas nacionais, através da ativação de ações estratégicas.

O Desafio 2030 é um excelente exemplo dessa promoção, porque tem exatamente esse grande objetivo: o de fomentar o apoio à transferência e à partilha de conhecimento e tecnologia entre PME e entidades do SCTN, por forma a aproximar a colaboração entre os “dois mundos”, com linguagens por vezes distintas, mas com ambições complementares.

O “Desafio 2030” visa promover o diálogo e a colaboração entre as Instituições do Ensino Superior (IES) e as PME. Mas de que forma o vai fazer? Que ferramentas vai utilizar para isso?

Este Projeto insere-se numa lógica de continuidade. É um contributo para o fortalecimento da ligação entre os diferentes interlocutores, Academia e Empresas. Pretende ir um bocadinho mais longe, apoiando a implementação de um modelo de inovação aberta que, apesar de já ter alguns anos, apresenta ainda dificuldades de adesão.

Também a Fundação quer ser um modelo de inovação colaborativa e, por isso, criou, no âmbito deste Projeto, um Conselho Estratégico para o qual convidou várias entidades e empresas intervenientes nesta área para que, em conjunto, fosse possível mais rapidamente e melhor chegar a bom porto.

Nos estudos realizados e apresentados, fazemos várias propostas e sugestões que convidamos todos a consultar. É este o papel da Fundação, dar contributos para a melhoria da sociedade. Saliento o Ciclo Virtuoso para a Colaboração que, assente no paradigma gestão-inovação-produtividade, nos parece decisivo para assegurar níveis de crescimento económico elevados e sustentáveis.

Através do Manual de Inovação Aberta, instrumento que pretende incentivar o desenvolvimento de uma cultura de inovação, as partes envolvidas podem seguir o percurso para a inovação aberta, que passa pela reflexão estratégica até a operacionalização do projeto. É uma ferramenta que esperamos possa ser acolhida e aplicada por todos. Está disponível no site do Projeto.

Qual a importância da transferência de conhecimento e da inovação dentro das PME?

A transferência de tecnologia e de conhecimento apresenta-se como uma estratégia de crescimento fundamental para a inovação e para o incremento sustentável do tecido económico. As empresas desempenham um papel determinante no processo de criação de valor do conhecimento gerado pelo SCTN, em linha com o modelo de inovação aberta que defendemos.

É de relevar o crescimento da despesa em atividades de I&D nas empresas entre 2018 e 2019: a despesa de investigação e desenvolvimento das empresas atingiu 1569 milhões de euros em 2019, representado 10% de crescimento. É um aumento muito expressivo e ilustrativo da importância que as empresas atribuem à inovação.

Num dos estudos que já referi, é apresentado um exercício que compara a percentagem de PME que introduziram inovações no mercado com a percentagem de PME inovadoras que colaboram com outras entidades e que demonstra uma correlação positiva entre estes indicadores, sugerindo que a colaboração entre entidades tem um efeito positivo na inovação empresarial, contribuindo assim para um aumento no volume de negócios médio por PME.

Apesar destas evidências, e sobretudo por causa delas, as empresas devem cada vez mais apostar na inserção de doutorados e de quadros altamente qualificados e na renovação tecnológica, por forma a melhor incorporar o conhecimento no valor acrescentado dos seus produtos e serviços e, assim, aumentar a sua capacidade de inovação, a sua produtividade e competitividade no mercado global e fortemente concorrencial.

Qual o papel da Fundação AEP neste projeto?

A Fundação AEP pretende dar uma resposta às múltiplas necessidades do setor empresarial, sendo que a inovação colaborativa é claramente uma delas. A estratégia da Fundação AEP passa por desenvolver programas de apoio ao desenvolvimento sustentável, contribuindo para a melhoria do ecossistema empresarial.

Relativamente a este Projeto, sabemos que já existe muito trabalho, bem feito, por muitos atores do ecossistema da inovação, no qual se incluem as empresas. A questão é que este tema encerra uma enorme complexidade, na medida em que possui uma forte componente social e humana. Deve, por isso, ser encarado como um processo aberto e contínuo. Há diferenças culturais e estratégicas entre a academia e as empresas que devem, naturalmente, ser respeitadas. O papel da Fundação é contribuir para o alinhar destas diferenças, tendo sempre em vista um objetivo comum: o crescimento da competitividade nacional.

Para o futuro, o que se espera que o “Desafio 2030” possa mudar dentro do mercado?

No âmbito do Projeto é proposta a criação de um programa que designamos por Horizonte Portugal, já que os seus objetivos estarão alinhados com o Horizonte Europa. Trata-se de criar uma linha de financiamento de apoio às instituições científicas que promovam a criação de consórcios com empresas para o desenvolvimento de soluções para desafios socioeconómicos. A existência de um fundo público para o desenvolvimento de atividades de inovação colaborativa entre entidades seria um grande incentivo à prática da Inovação aberta.

A implementação, entre outros, do eixo de Inovação e Conhecimento proposto no âmbito do Portugal 2030 e das agendas de investigação e de inovação do PRR, ambos os programas orientados para a criação de valor económico e social, parece-nos ser o caminho para atingirmos a ambiciosa meta que aponta para que a despesa total em I&D seja 3% do PIB em 2030. Só uma ação articulada e colaborante entre todas as partes pode contribuir para a convergência de Portugal com a Europa até 2030.

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