Portugal paga o dobro para se financiar nos mercados este ano

Com 90% do financiamento em Obrigações do Tesouro deste ano já assegurado, Portugal está a pagar o dobro dos juros conseguidos nas emissões de 2021. Custo médio da dívida vai, ainda assim, baixar.

Os tempos de inflação quase inexistente terminaram e com eles os juros negativos do Banco Central Europeu que permitiram que os Estados se financiassem com custos historicamente baixos. A inversão agressiva da política monetária trouxe juros mais altos e Portugal já paga este ano o dobro do que pagava em 2021 pelo financiamento de médio e longo prazo nos mercados.

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) já foi ao mercado levantar 11,8 mil milhões de euros em Obrigações do Tesouro este ano, o equivalente a 90% do montante previsto para financiar o défice de 1,9% do PIB e fazer face a reembolsos, de acordo com a última atualização disponível do programa de financiamento. Segundo cálculos do ECO, a taxa média ponderada dessas emissões (excluindo as operações de troca) foi de 1,44%, o dobro dos 0,73% contabilizados o ano passado.

O agravamento dos custos de financiamento ficou bem patente na emissão realizada esta quarta-feira, em que o IGCP pagou uma taxa de rentabilidade média (yield) de 2,754% para colocar 780 milhões de euros em títulos a 10 anos, mais 63% do que os 1,694% conseguidos na operação sindicada de abril em que vendeu 3.000 milhões.

É preciso recuar cinco anos, a setembro de 2017, para encontrar um leilão de idêntica maturidade com uma taxa mais elevada. Na altura, Portugal pagou 2,785% para colocar 850 milhões. Valores bem superiores aos 0,329% que o Tesouro chegou a conseguir em setembro de 2020.

Esta realidade de juros mais elevados estende-se às linhas nos restantes prazos em que o país tem ido ao mercado, dos quatro aos 20 anos. É o resultado da tendência de subida das yields das obrigações desde o início do ano e que acelerou após a invasão russa da Ucrânia e, mais recentemente, da subida das taxas diretoras pelo Banco Central Europeu para tentar travar a inflação, que atingiu os 9,1% na Zona Euro em agosto.

A inflação tem continuado a surpreender em alta, o que fez com que os bancos centrais iniciassem um movimento de subida de taxas mais agressivo. Este efeito tem levado a um rápido ajuste nas yields de todas as maturidades das dívidas soberanas”, explica Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, num comentário à emissão de hoje.

Apesar deste aumento dos juros exigidos nas novas emissões, Portugal voltará este ano a conseguir baixar o custo médio do seu stock de dívida, que foi de 1,9% em 2021, já que as colocações deste ano terão um encargo médio inferior e amortizam emissões tendencialmente mais caras. A taxa de 1,44% referida não inclui os títulos de curto prazo (Bilhetes do Tesouro) que continuaram a ter taxas quase sempre negativas.

Em 2023, poderá já não ser assim, uma vez que a perspetiva é de que os juros continuem a subir. “Sabemos que os bancos centrais vão estar a tomar decisões reunião a reunião e com base nos dados que forem sendo divulgados. É certo que iremos continuar a ter volatilidade, pelo menos até à rubrica da inflação estabilizar. Para os emitentes e neste caso Portugal, iremos ter custos de refinanciamento mais elevados“, acrescentou.

Após a última reunião do Conselho do BCE, na semana passada, a presidente, Christine Largarde afirmou que a Zona Euro ainda está “longe da taxa que levará a inflação a regressar ao objetivo de médio prazo de 2%”. Os economistas estimam que o banco central possa elevar a taxa de referência até aos 2,5%, ou até mais, nos próximos meses.

À subida das taxas pode somar-se outro fator de pressão, caso o BCE pare com o reinvestimento dos títulos adquiridos no âmbito dos vários programas de compras de ativos e que chegam entretanto à maturidade. A favor de Portugal jogam as recentes melhorias do rating pela DBRS (para “A”) e pela Standard & Poor’s para (BBB+) e a trajetória de redução do défice e da dívida pública.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Portugal paga o dobro para se financiar nos mercados este ano

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião