Portugal está cada vez mais longe da CPLP

As trocas comerciais com os países da CPLP não chegam a 5% do comércio global de Portugal, mas são suficientes para agravar o défice da balança comercial do país em 2,5 mil milhões de euros.

Apesar de no ano passado as exportações de Portugal para os restantes oito países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) terem aumentado 36%, e as importações mais do que duplicarem para um valor recorde de 5,6 mil milhões de euros, Portugal está a afastar-se a passos largos da CPLP.

Nos últimos dez anos, as trocas comerciais de Portugal com a CPLP cresceram, em média, apenas 0,9% por ano, cerca de sete vezes menos que o ritmo de crescimento do comércio realizado de Portugal com os países da União Europeia.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o comércio entre Portugal e a CPLP cifrou-se em 8,8 mil milhões de euros no final do ano passado, o valor mais elevado desde pelo menos 2000. Mesmo assim, representa apenas 4,7% do volume global de exportações e importações que Portugal contabilizou em 2022. Dez anos antes, em 2013, este rácio era de quase o dobro, cerca de 8%.

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A evolução destes números é particularmente marcante quando um dos objetivos definidos na Declaração Constitutiva da CPLP, assinada a 17 de julho de 1996, aponta para o “desenvolvimento da cooperação económica e empresarial” entre os estados-membros.

Ao longo da última década que a importância comercial da CPLP para as contas nacionais tem-se vindo a esfumar. Mas não só. Além de o relacionamento comercial com a comunidade de países lusófonos ter hoje um peso no comércio global de Portugal semelhante ao que apresentava em 2007, os números do INE revelam também que as trocas comerciais com a CPLP se têm refletido num agravamento contínuo do saldo da balança comercial desde 2014.

Em 2022, o défice comercial de Portugal com a CPLP aumentou para o valor recorde de 2,5 mil milhões de euros, cinco vezes mais do que no ano anterior. Isto depois de entre 2006 e 2019 o saldo comercial ter sido constantemente positivo, contabilizando por seis ocasiões uma cifra acima de mil milhões de euros.

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Mais próximo do Brasil e mais longe de Angola

Os números do INE sublinham também a existência de uma forte concentração do relacionamento comercial de Portugal com a CPLP em apenas dois países: Angola e Brasil são responsáveis por mais de 80% de todo o comércio realizado por Portugal com os países desta comunidade ao longo dos últimos 23 anos.

No ano passado não foi exceção: por cada 100 euros de bens comprados e vendidos aos estados-membros da CPLP, 23 euros foram transacionados com Angola e 63 euros com o Brasil.

A concentração é ainda maior quando se analisa somente as importações. Só em 2022, o Brasil foi o país de origem de 81% dos bens importados no seio da CPLP por parte de Portugal – na sua maioria petróleo e gás. E em 2021 essa percentagem foi ainda maior: 91%.

Os números do INE sublinham também que Angola está a perder gás para o Brasil no relacionamento comercial com Portugal. Desde 2015 que esta tendência se tem acentuado particularmente, após um período áureo para o país africano entre 2012 e 2015, em que Angola chegou a ser o principal importador de Portugal entre os países da CPLP (sobretudo de petróleo).

Em 2022, as importações de Angola contabilizaram apenas 623 milhões de euros, cerca de 4,2 vezes menos que os 2,6 mil milhões de euros que somaram em 2013, o melhor ano de sempre. No plano das exportações, a dinâmica é diferente.

Depois de um período de três anos (2018 e 2020) de quedas constantes dos bens exportados para Angola, que resultou no valor mais baixo dos últimos 17 anos em 2020 (870 milhões de euros), 2021 e 2022 voltaram a ser anos positivos para as empresas portuguesas que exportam para o país africano.

Após uma subida de 9% das exportações para Angola em 2021, no ano passado dispararam 50% para mais de 1,4 mil milhões de euros, o valor mais elevado desde 2018, e o equivalente a 45% do total de exportações de bens nacionais para a CPLP. Apesar desta dinâmica positiva, o volume de bens vendidos a Angola é ainda metade do valor registado há cerca de dez anos, em 2013 e 2014.

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