Portugal volta a ter défice externo ao fim de quase 11 anos

A economia nacional fechou 2022 com necessidades de financiamento de 1,1 mil milhões de euros (0,5% do PIB). Excluindo 2020, foi a primeira vez desde 2011 que Portugal registou um défice externo.

De acordo com dados do Banco de Portugal divulgados esta sexta-feira, Portugal terminou 2022 com um défice externo de 1,1 mil milhões de euros, o equivalente a 0,5% do PIB. “Excluindo o ano de 2020, em que se verificou um valor marginalmente negativo do saldo, a economia portuguesa já não apresentava necessidades de financiamento desde 2011”, refere o Banco de Portugal.

A pressionar fortemente o défice externo do país esteve a balança comercial de bens, que se agravou em 65% face a 2021, contabilizando um défice recorde de mais de 26 mil milhões de euros, engolindo por completo o excedente de 21,5 mil milhões de euros da balança comercial de serviços.

Fonte: Banco de Portugal. Valores em milhões de euros.

O Banco de Portugal destaca que nas exportações de serviços destacaram-se as viagens e turismo, os serviços de transportes e os outros serviços fornecidos por empresas. “Estes serviços apresentaram taxas de variação homólogas de 110%, 57% e 23%, respetivamente”, lê-se no relatório.

O saldo da rubrica de viagens e turismo aumentou 9,1 mil milhões de euros relativamente ao período homólogo, com as exportações e as importações a superarem os valores registados antes da pandemia: “As exportações corresponderam a 115% e as importações a 108% dos valores observados em 2019, tendo sido as mais elevadas de toda a série”, refere o relatório do Banco de Portugal, notando ainda que os turistas residentes no Reino Unido, em França e em Espanha continuaram a ser os responsáveis pelas maiores receitas turísticas de Portugal.

Também em terreno negativo continuou a balança de rendimento primário, que inclui os pagamentos e recebimentos de rendimentos do trabalho e de capital (dividendos e juros), que agravou o défice de 1.743 milhões de euros para 3.585 milhões de euros.

A contrabalançar este valor esteve o excedente da balança de rendimento secundário, que regista as transferências correntes entre residentes e não residentes. Segundo o Banco de Portugal, as remessas dos emigrantes superaram em 5.305 milhões de euros as remessas dos imigrantes.

O regulador destaca ainda a “acentuada redução” do excedente da balança de capital em relação a 2021 de 1,6 mil milhões de euros, que se deveu, “principalmente pelo recebimento excecional, em julho de 2021, da devolução da margem financeira relacionada com o Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF).”

Na contabilização do défice externo da economia nacional está também o saldo de transferências com a União Europeia que foi reduzido em 1,1 mil milhões de euros, “em resultado, essencialmente, da menor atribuição de fundos comunitários”. O Banco de Portugal destaca “a diminuição de fundos comunitários atribuídos associados ao programa FEDER, de 1,6 mil milhões de euros, após o máximo registado em 2021”. Esta diferença pode explicar-se pelo facto de o Portugal 2020 estar em 2023 no seu último ano de execução e, o ano passado, ter sido feito um enorme esforço de aceleração da execução de verbas e consequente aumento dos pedidos de pagamentos a Bruxelas.

E, por fim, há a salientar um défice de mil milhões de euros do saldo da balança financeira, “que se traduziu num aumento dos passivos perante o exterior (13,6 mil milhões de euros) superior ao incremento dos ativos”.

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