Novos comboios regionais da CP chegam em outubro de 2025

Primeira das 22 novas automotoras para o serviço regional chegará sete anos após o Governo ter aprovado a compra de material circulante. Até lá, aluguer de comboios a Espanha sairá mais caro à CP.

Faltam dois anos e meio para a CP receber o primeiro dos 22 novos comboios regionais. Entretanto, a transportadora do Estado terá de pagar mais pelo aluguer de material circulante a Espanha até ao final de 2025 do que nos anos anteriores para garantir o serviço público de passageiros em linhas não eletrificadas, como a do Douro.

Em causa estão as 22 novas automotoras compradas aos suíços da Stadler, das quais 12 são bimodo (também podem circular em linhas não eletrificadas) e dez são elétricas. O contrato foi assinado em 21 de outubro de 2020 mas apenas no início de outubro do ano seguinte é que acordo entrou em vigor. Ora, o documento estabelece que a primeira composição tem de ser entregue “no prazo de 48 meses após o início da produção de efeitos do contrato”.

Ao ECO, fonte oficial da transportadora confirma que “a entrega da primeira automotora está contratualmente prevista para outubro de 2025”. A partir dessa data, prevê que sejam entregues “duas automotoras por mês”, prevendo que a última unidade seja entregue em julho de 2026. As automotoras bimodo serão as primeiras a chegar; só depois disso virão as primeiras unidades exclusivamente elétricas. Prevê-se que em outubro de 2025 cheguem três automotoras híbridas e que em março de 2026 sejam entregues três automotoras elétricas e uma híbrida.

A CP vai receber os primeiros novos comboios mais de sete anos depois da autorização do Governo. Em 6 de setembro de 2018, o Conselho de Ministros autorizou a transportadora a lançar o concurso para aquisição destas automotoras por um valor de 168,21 milhões de euros. Esperava-se que as composições chegassem entre 2023 e 2026.

Os atrasos, contudo, começaram logo na estação de partida: o concurso público internacional só foi lançado em janeiro de 2019 e houve cinco candidatos na fase preliminar: os suíços da Stadler, os espanhóis da CAF e da Talgo, os franceses da Alstom e os alemães da Siemens. Em julho, apenas os suíços e os espanhóis tinham chegado à segunda fase do concurso. No início de dezembro, a Stadler foi declarada como a vencedora do concurso. A CAF, uma das derrotadas, travou o processo através da entrega de um contencioso no Tribunal Administrativo de Lisboa.

Dez meses depois, em 4 de outubro de 2020, foi levantada a impugnação. A CP assinou finalmente o contrato para a compra de comboios em 21 de outubro desse ano, por 158,14 milhões de euros, menos dez milhões do que o preço-base. O documento chegou pela primeira vez ao Tribunal de Contas (TdC) em 11 de novembro, para receber o obrigatório visto para os contratos acima dos 750 mil euros.

O processo foi devolvido pela primeira vez em 4 de dezembro, pedindo novos elementos à CP. A análise foi reaberta em 8 de fevereiro de 2021 mas suspensa por dez dias, para novos esclarecimentos. Desde então, houve um impasse, que apenas ficou resolvido no final de julho desse ano. O TdC obrigou a reprogramar as despesas para a compra dos comboios.

As novas contas para a compra dos comboios apenas foram aprovadas pelo Conselho de Ministros em 8 de julho mas só foram tornadas públicas no Diário da República de 27 do mesmo mês. Só então o documento foi remetido ao Tribunal de Contas, que apenas deu ‘luz verde’ ao contrato no início de outubro de 2021.

Que regionais a CP vai comprar?

Os suíços da Stadler levaram a vitória no concurso público para a compra de 22 novos comboios regionais da CP, com vantagem em todos os critérios de avaliação, sobretudo a nível de conforto, de preço e da tecnologia.

O Flirt 160 foi o modelo escolhido pela empresa suíça para entrar neste concurso. É um comboio regional com um só piso, que pode ser facilmente personalizado face às necessidades da CP. Cada automotora terá três carruagens, com capacidade máxima de 375 passageiros, dos quais 214 sentados. A velocidade máxima por comboio será de 160 km/h (unidades elétricas) ou de 140 km/h (bimodo).

Modelo Flirt da Stadler circula desde 2018 na região italiana de Valle d’Aosta, perto da fronteira com a Suíça.

A compra dos 22 novos comboios regionais é independente da aquisição de 50 carruagens usadas à Renfe e de 117 novos comboios elétricos a serem entregues até ao final de 2029: 62 para serviços urbanos e 55 regionais.

As novas automotoras do serviço da CP serão necessárias em modo híbrido nos percursos Caldas da Rainha-Louriçal (Linha do Oeste) e Régua-Pocinho (Linha do Douro), cuja colocação da catenária está prevista até ao final da década. Também poderão ser usadas na Linha do Leste e na Linha do Alentejo, entre Casa Branca e Beja.

Atraso obriga a prolongar aluguer a Espanha

O atraso na entrega das automotoras obrigou a empresa a prolongar por três anos o aluguer a Espanha das unidades diesel 592. Até ao final de 2025, a CP vai pagar um total de 19,551 milhões de euros pela disponibilidade de 18 unidades para as linhas não eletrificadas, segundo portaria publicada em 16 de fevereiro em Diário da República. O custo por automotora subiu em cerca de 100 mil euros deveu-se ao “ajuste e revisão dos preços praticados e pelo número de quilómetros contratualizados”, justifica ao ECO fonte oficial da transportadora.

Também contribuiu para o prolongamento deste aluguer o facto de a CP “não ter material circulante suficiente para cobrir as necessidades de serviço público” em linhas não eletrificadas.

As automotoras de Espanha continuarão a ser usadas nas linhas do Douro e do Oeste, onde a catenária tarda em chegar. A eletrificação da Linha do Douro entre Marco de Canaveses e Régua é a obra mais atrasada do programa de investimentos Ferrovia 2020, devendo apenas ficar concluída já em 2026 pois ainda não há autorização do Governo para lançar o concurso público. No Oeste, a corrente elétrica apenas chegará aos troços Meleças-Torres Vedras e Torres Vedras-Caldas da Rainha durante o ano de 2024, prevê a Infraestruturas de Portugal.

O atraso da eletrificação da Linha do Algarve – deverá ficar pronta no início de 2024 – também impede a libertação das automotoras diesel da série 450 para outras linhas sem catenária e aliviar as necessidades de material espanhol. Há ainda comboios de Espanha na Linha do Minho porque Portugal e Espanha não se entendem na realização do comboio Celta (Porto-Vigo) com material para a linha eletrificada e compatível com os sistemas de assistência à condução Convel (Portugal) e Asfa (Espanha).

Aluguer começou em 2011

A CP começou a alugar comboios a Espanha em 2011. Na altura, as linhas do Douro e do Minho foram as primeiras linhas servidas pelas “camelas”, assim conhecidas porque as caixas de ar condicionado no tejadilho fazem lembrar umas bossas. As composições da série 592 foram entregues à Renfe entre 1981 e 1984, tendo circulado três décadas em Espanha.

Automotora 592 realiza o comboio Celta da CP embora a Linha do Minho esteja eletrificadaNelson Silva/Wikimedia Commons

Em 2011, a então administração da transportadora, em vez de modernizar o material circulante, preferiu alugar a Espanha composições que consomem mais gasóleo, cujo cheiro é sentido no interior das composições em alguns casos.

As “camelas” substituíram as automotoras a diesel UDD 600 da CP, que circularam mais de três décadas nas linhas do Minho, Douro, Oeste e Algarve. Na altura, a CP rejeitou a proposta da empresa de manutenção EMEF para dar uma nova vida às UDD 600, por um valor próximo dos dois milhões de euros por cada uma das 15 unidades. A recusa deveu-se à dificuldade em instalar o sistema de ar condicionado e os problemas de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida – por causa dos degraus. As UDD 600 acabaram por ser abatidas em 2015.

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