Supervisor renova alerta para aumento de resgates de seguros de Vida

  • ECO Seguros
  • 2 Abril 2023

A inflação e aumento de juros podem levar a maiores resgates nos seguros de Vida enquanto os custos com sinistros continuam a aumentar nos seguros gerais. A ASF recomenda "compensação adequada".

A ASF, entidade supervisora dos seguros, alertou as companhias para “os elevados níveis de inflação que podem afetar negativamente os seguros de Vida, por via de um potencial aumento dos resgates, conjugado com a redução da produção, devido ao aumento do custo de vida e à consequente menor capacidade de poupança e de liquidez dos particulares”. Também prevê consequências para os ramos gerais “caso não se verifique a adoção de medidas de compensação adequada” para fazer face ao aumento dos custos com sinistros.

Estas declarações foram publicadas em comunicado, divulgado a propósito do lançamento ‘Painel de Riscos do Setor Segurador Março 2022’, um relatório de conjuntura trimestral com o objetivo de dar sinais às empresas de seguros sobre a conjuntura a um horizonte de três meses. O relatório de março já reflete os dados anuais das empresas de seguros em 31 de dezembro de 2022 e as variáveis financeiras referem-se recolhidas até 15 de março.

O Painel de Riscos da ASF assenta atualmente num conjunto de 53 indicadores agrupados em 8 categorias de risco. Os indicadores assentam na informação contabilística e nos reportes de Solvência II, submetidos pelas empresas de seguros sujeitas à supervisão da ASF, e ainda, na informação publicamente disponível relativa às variáveis macroeconómicas e aos mercados financeiros.

O Painel relativo a março deste ano apresenta a seguinte evolução:

Os riscos das empresas de seguros: Como estão, o que são e o que se prevê

MACROECONOMIA – risco ALTO. Os Riscos macroeconómicos mantêm-se classificados no nível máximo. É uma categoria que inclui indicadores que procuram avaliar os fatores da economia que, à escala nacional e europeia, afetam diretamente o negócio segurador. Segundo a ASF, a conjuntura é caracterizada por elevados níveis de inflação, que justificam a prossecução, pelos principais bancos centrais, de políticas monetárias contracionistas condicionando os custos de financiamento dos agentes económicos.

O mais recente episódio de turbulência no setor bancário refletiu-se num aumento pronunciado dos níveis de volatilidade nos mercados financeiros, assistindo-se a quebras nos principais índices acionistas. Apesar das correções observadas, persistem ainda sinais de sobrevalorização em alguns segmentos do mercado.

CRÉDITO – Risco MÉDIO ALTO. Mantêm-se estáveis no segundo nível mais alto. Os Riscos de crédito são avaliados pela vulnerabilidade das carteiras de investimentos das empresas de seguros ao risco de incumprimento e à exposições aos diferentes tipos de obrigações sejam soberanas, privadas financeiras e não financeiras. Os prémios de risco dos emitentes soberanos e da dívida corporativa dos setores financeiro e não financeiro apresentam uma tendência de redução a partir de outubro de 2022.

MERCADO – Risco ALTO. Continuam no escalão mais elevado. Os Riscos de mercado são avaliados pela exposição das seguradoras a obrigações, ações e imobiliário. Nos mercados acionistas, o recente episódio de turbulência no setor bancário materializou-se num aumento acentuado da volatilidade. Em adição, a exposição do setor segurador à categoria de ações tem vindo a aumentar desde o final de 2021. No terceiro trimestre de 2022 a rendibilidade do mercado imobiliário fixou-se em 13,1%.

LIQUIDEZ – Risco MÉDIO BAIXO. Mantém-se mas com tendência favorável. Esta categoria pretende avaliar a resiliência do setor segurador a choques de liquidez. Para o efeito é considerado um indicador que pretende mensurar o grau de liquidez dos ativos das seguradoras nacionais e ainda, a relação entre os fluxos de entradas e saídas. O rácio de liquidez dos ativos aumentou em 2,5 pontos percentuais, para 69,8% e o rácio de entradas sobre saídas diminuiu 8,1 pontos percentuais, cifrando-se em 119,9%, ainda positivo.

RENDIBILIDADE E SOLVABILIDADE – Risco MÉDIO BAIXO. Mantém o nível mas com tendência positiva. Esta categoria mede o nível de rendibilidade e de solvência da indústria seguradora portuguesa. Neste trimestre o valor dos capitais próprios registou um decréscimo em grande parte motivado pelas perdas registadas nos ativos financeiros, traduzindo-se no aumento da rendibilidade dos capitais próprios no final de 2022.

O resultado técnico global anual do ramo Vida foi idêntico ao de 2021. O resultado técnico global dos ramos Não Vida diminuiu 11,4%, face ao final de 2022. Este decréscimo é motivado sobretudo pelo seguro Automóvel – que tem registado quebras consecutivas da margem bruta antes de resseguro – e, em menor magnitude, pelo grupo de ramos Incêndio e Outros Danos. Em Acidentes de Trabalho, apesar da melhoria dos resultados operacionais, registou-se uma quebra pronunciada da função financeira. O rácio global de solvência fixou-se em 200%, próximo do observado no trimestre anterior.

INTERLIGAÇÕES – Risco MÉDIO BAIXO. Subiu positivamente um nível. O Risco de interligações analisa a exposição à dívida pública portuguesa e ao setor bancário e o nível de concentração dos investimentos das empresas. Acentuou-se a tendência de decréscimo da exposição a dívida pública portuguesa que passou a fixar-se em 11,6% do total de ativos. A exposição da carteira de ativos aos setores bancário, segurador e de fundos de pensões, e a outras instituições financeiras, permaneceu semelhante à do trimestre anterior. Verificou-se um aumento da concentração dos ativos por grupo económico e por setor de atividade, evolução que é substancialmente impactada pelo desempenho de uma empresa de seguros de dimensão relevante.

ESPECÍFICO DE SEGUROS DE VIDA. Risco MÉDIO ALTO. Esta categoria analisa o comportamento do ramo de Vida, numa vertente técnica, analisando a evolução global dos prémios, a sinistralidade nos seguros temporários, e, nos produtos financeiros, os resgates, a diferença entre as taxas de juro garantidas e o retorno dos investimentos, e a diferença entre as durações dos ativos e passivos. O valor anualizado dos prémios brutos emitidos do ramo Vida diminuiu 11% face ao trimestre anterior, traduzindo essencialmente o decréscimo nos produtos Vida Ligados. Ainda que de forma pouco expressiva, a taxa de sinistralidade dos seguros Vida Risco manteve a tendência descendente, enquanto a taxa de resgates de produtos financeiros registou uma evolução contrária.

ESPECÍFICOS RAMOS NÃO VIDA. Risco MÉDIO ALTO. Esta categoria pretende avaliar o comportamento do ramos Não Vida, numa vertente operacional, analisando a evolução global dos prémios, da sinistralidade, do rácio combinado e do nível de provisionamento. O valor anualizado dos prémios brutos emitidos dos ramos Não Vida cresceu 3,8% face ao trimestre transato. A taxa de sinistralidade anualizada da modalidade Acidentes de Trabalho registou um decréscimo significativo, refletindo a revisão dos pressupostos de cálculo das respetivas provisões técnicas, nomeadamente do efeito de desconto. Nas restantes principais linhas de negócio, as variações foram mais comedidas, ainda que apresentando evoluções heterogéneas entre operadores. O índice de provisionamento anualizado global dos segmentos Automóvel e Incêndio e Outros Danos registou um aumento. Por sua vez, em Doença e Acidentes de Trabalho, o mesmo indicador permaneceu relativamente estável, embora, no último caso, se deva ao efeito líquido do aumento da componente de “Pensões” e do decréscimo da componente de “Outras prestações e custos”.

O relatório completo pode ser visto aqui .

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