Concertos de Coldplay geram impacto económico “brutal” em Coimbra

Câmara investiu 800 mil euros para acolher concertos de Coldplay, mas autarca José Manuel Silva estima ao ECO que "retorno será 50 vezes superior ao investimento". Hotéis com lotação máxima.

Coimbra recebe esta quarta-feira o primeiro concerto dos britânicos Coldplay, que marca o inicio da digressão Music Of The Spheres. A banda liderada por Chris Martin volta a subir ao palco do Estádio Cidade de Coimbra nos dias 18, 20 e 21 de maio, atraindo à cidade um total aproximado de 220 mil pessoas. Em declarações ao ECO Local, o presidente da Câmara Municipal prevê um impacto económico “brutal” para a cidade.

José Manuel Silva, presidente da Câmara de Coimbra

Questionado sobre o impacto económico para a região, o líder da autarquia responde que ainda é cedo para fazer contas exatas, mas faz “analogias com outros estudos”. Dá o exemplo da última edição do festival Primavera Sound, no Porto, que terá rendido mais de 36 milhões de euros. A título comparativo, o autarca estima que o impacto económico para a cidade da zona Centro seja superior, tendo em conta que são esperados mais de 200 mil visitantes.

O edil faz ainda referência a outro estudo, este realizado nos EUA pela Oxford Economics, atestando que, “em média, um visitante que gaste 100 dólares num bilhete, gasta adicionalmente mais 334 dólares”. “Se metade dos espectadores dos Coldplay gastarem numa proporção semelhante, teríamos um retorno de 33 milhões de euros para Coimbra”.

“O retorno económico direto tangível para Coimbra andará entre os 30 a 50 milhões de euros, com um pequeno investimento do município. É um retorno brutal para a cidade”, prevê José Manuel Silva.

O retorno económico direto tangível para Coimbra andará entre os 30 a 50 milhões de euros, com um pequeno investimento do município. É um retorno brutal para a cidade.

José Manuel Silva

Presidente da Câmara Municipal de Coimbra

O presidente da autarquia, que foi bastonário da Ordem dos Médicos, confirmou ainda ao ECO que a Câmara Municipal de Coimbra investiu cerca de 800 mil euros nos concertos dos Coldplay, somando todos as despesas. E está convicto de que o retorno será “50 vezes superior ao investimento da Câmara”. “Queremos que Coimbra entre na rota dos grandes eventos musicais e culturais. Queremos que seja uma cidade musical, até porque isso tem vantagens inequívocas“, acrescenta.

O objetivo é que a cidade dos estudantes, como é conhecida, passe a se um “destino regular” para estes grandes eventos. “Queremos que a cidade esteja preparada para isso. Este é um dos setores que queremos acarinhar na cidade para proporcionar mais oportunidades de vida, emprego e desenvolvimento económico. (…) Queremos tornar a marca Coimbra mais atrativa para os empresários e investidores”, salienta.

Para José Manuel Silva, a própria localização geográfica torna a cidade atrativa para receber grandes eventos culturais. “Coimbra tem uma vantagem competitiva, que é a localização central no país. O facto de ser uma cidade central no país é uma vantagem e certamente pesou na decisão da promotora”, afirma o autarca.

“No vídeo promocional dos Coldplay, a divulgar as datas nesta tour europeia, a cidade de Coimbra aparece em primeiro lugar. Tudo isso acaba por ter impacto, em termos da marca, que tem um valor extraordinário”, realça o presidente da Câmara. A banda britânica vai atuar também em cidades como Barcelona, Manchester, Milão, Nápoles, Zurique e Copenhaga, terminando em Amesterdão a 19 de julho.

Hotéis da região com ocupação máxima

Pedro Machado, presidente da Entidade Regional Turismo do Centro, sublinha ao ECO que estes concertos “esgotaram toda a hotelaria disponível” na cidade e noutras localizações próximas, com Lousã, Condeixa, Luso, Bussaco, Curia, Figueira da Foz — “e até cidades como Aveiro e Leiria também beneficiam deste impacto positivo”. Além dos portugueses, a maior procura tem chegado de espanhóis e brasileiros, relata ainda.

Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro de PortugalNuno Carvalho / Click and Play

“A fortíssima procura acabou por determinar um aumento substantivo dos preços”, realça Pedro Machado. O responsável adianta que estão “apenas disponíveis uma dúzia de quartos” e que esses poucos lugares, em hotéis de 3 e 4 estrelas, estão a praticar preços entre os 300 e 400 euros por noite. Ainda assim, Pedro Machado sublinha que “não houve especulação nos preços”, notando que há unidades hoteleiras no Porto e em Lisboa que “estão a praticar os mesmos preços”.

Os bilhetes para os concertos “voaram” em poucas horas. De acordo com a TicketLine, este foi o evento que registou a maior procura de sempre em Portugal. A presidente executiva desta plataforma online, Ana Ribeiro, sublinhou que a procura pelos ingressos para os concertos de Coldplay esgotaram em poucas horas, atingindo um nível histórico. “É inédito em Portugal. Nunca houve tanta procura para um evento em Portugal”, destacou, em declarações à Lusa.

As páginas oficiais para a compra de bilhetes, que variaram entre os 65 euros e os 150 euros, chegaram a estar congestionadas. Só na plataforma da Ticketline, quase meio milhão de pessoas chegou a estar em lista de espera. Perante a procura, no ano passado já havia bilhetes para Coldplay à venda na internet por 1.700 euros.

Apoio de 440 mil euros à promotora

A Câmara de Coimbra atribuiu um pacote de apoios no valor de 440 mil euros à Everything is New, a empresa responsável pela realização dos quatro concertos na cidade. “Reconhecendo a grande projeção internacional dos Coldplay e o relevante interesse municipal do evento”, concedeu “um apoio financeiro como contrapartida pela seleção, escolha e promoção da cidade de Coimbra e do Estádio de Cidade de Coimbra para a realização dos espetáculos, num montante de 110 mil euros por cada concerto, o que perfaz um valor global de 440 mil euros”, explicou a autarquia, em comunicado.

José Manuel Silva esclarece ao ECO que, sem esse apoio à Everything is New, “provavelmente os concertos não se realizariam em Coimbra”. O caderno de encargos da promotora incluía a recuperação do estádio, que não estava nessa altura em condições de receber os concertos dos Coldplay, exemplifica o autarca.

O diretor da Everything is New, Pedro Viegas, explicou à Lusa que foram feitos “melhoramentos a nível estrutural”. “O estádio tinha algumas questões pela sua não utilização nos últimos tempos. Há muitas zonas que ainda estão a ser melhoradas, desde casas de banho, luzes e limpezas, entre outras melhorias que assumimos”, afirmou o gestor.

Os locais podem fazer a vida normal. A vida das pessoas [de Coimbra] não tem de ser alterada. Existe um pouco de transtorno, mas isso é o que acontece na realização de grandes eventos.

José Manuel Silva

Presidente da Câmara de Coimbra

A Câmara de Coimbra reclama ainda ter preparado algumas medidas para mitigar as perturbações inerentes a este tipo de atividade. Entre outras, diz ter reforçado a linha de transportes e disponibilizado 16 parques de estacionamento, que podem ser livremente utilizados pelos visitantes.

Para facilitar a circulação das pessoas que pretendem assistir aos espetáculos, a Câmara de Coimbra reforçou ainda a oferta de linhas que cobrem a envolvente do estádio e vai disponibilizar quatro circuitos especiais de transporte coletivo, tendo ainda criado uma pulseira diária, no valor de quatro euros, que permite circular em todos os autocarros.

Os estabelecimentos escolares públicos no perímetro de segurança do concerto dos Coldplay não têm qualquer alteração de funcionamento. “Os locais podem fazer a vida normal, a vida das pessoas não tem de ser alterada. Existe um pouco de transtorno, mas isso é o que acontece na realização de grandes eventos”, garante o autarca.

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