BRANDS' ECO Portugal não pode ter medo de crescer, apontam empresários
Associação Empresarial do Minho celebrou o quarto aniversário a defender crescimento, coesão regional e independência como motores do futuro económico.
A Associação Empresarial do Minho (AEMinho) assinalou quatro anos de atividade com um evento em Ponte de Lima que juntou empresários, autarcas e decisores. No centro da celebração esteve a convicção de que a região tem de crescer — e de que esse crescimento depende de mais cooperação, menos preconceitos e uma estratégia económica mais ambiciosa. “Há em Portugal um preconceito em relação ao crescimento”, afirmou o presidente da associação, Ramiro Brito.
“Não é um crime tentar ter uma grande empresa. Só através do crescimento é que conseguimos uma sociedade mais próspera”, acrescentou. A independência da associação foi destacada como um valor central e a coesão empresarial da região como uma missão prioritária. “O maior desafio é cooperar. Portugal não vai conquistar território, tem de conquistar mercados”, afiançou.

Para Vasco Ferraz, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, o evento foi também um momento de reflexão sobre o papel de Portugal no novo contexto económico europeu. “A reindustrialização é uma prioridade estratégica. Temos de inverter a tendência da deslocalização industrial e investir em inovação”, afirmou. E deixou um desejo: “Que o Minho venha a ser um dos territórios mais dinâmicos da nossa Europa.”
Pedro Siza Vieira, ex-ministro da Economia, falou da urgência de reduzir a dependência externa da Europa. “O modelo europeu é insustentável se não voltarmos a investir nas tecnologias do futuro”, defendeu, apontando a perda de competitividade face a economias como os EUA e a China. “A reindustrialização não é opcional, é uma necessidade”, sublinhou o antigo responsável político.

Para Portugal, considerou, a mudança é uma oportunidade. “Temos um tecido empresarial mais resiliente, mais qualificado e habituado a lidar com dificuldades”, disse, deixando um aviso. “Se não tivermos alinhamento institucional entre setor público e privado, desperdiçaremos parte do nosso potencial. Isso seria um erro que o país não se pode permitir”, rematou.
Reindustrialização europeia passa pelo Minho
Num painel dedicado à reindustrialização da Europa, os participantes deixaram um alerta claro: sem escala, cooperação e visão estratégica, Portugal arrisca perder a nova corrida industrial. “A Europa não se pode demitir da sua tradição industrial. Se não aproveitarmos esta oportunidade, corremos o risco de nos tornarmos num museu”, afirmou Ana Teresa Lehmann, economista e ex-secretária de Estado da Indústria, lembrando que “já perdemos o comboio da inteligência artificial”, mas ainda há margem para liderança na manufatura avançada.
Sofia Tenreiro, recém-nomeada CEO da Siemens Portugal, sublinhou a necessidade de foco e coordenação. “Temos hubs de inovação em Portugal que são únicos no mundo. Mas precisamos de menos fragmentação e mais cooperação para escalar”, acredita. A executiva destacou o papel da tecnologia, nomeadamente da cibersegurança e dos chamados gémeos digitais — como base para uma indústria “altamente automatizada e competitiva”.
Do lado do financiamento, Gonçalo Regalado, presidente do Banco Português de Fomento (BPF), defendeu que “o problema não é falta de dinheiro, é falta de projetos”. Revelou que o banco já pré-aprovou 125 mil garantias e tem 1300 milhões de euros disponíveis só do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “Temos de convencer os empresários que escalar é criar valor. E o país não pode ter vergonha de quem quer ganhar dinheiro”, considerou.

A necessidade de ultrapassar preconceitos em torno da dimensão empresarial foi também abordada por Luís Aguiar-Conraria, economista e professor da Universidade do Minho, que encerrou o evento de forma provocadora. “Faz impressão a aversão ao lucro e ao crescimento. Em Portugal, penalizamos fiscalmente quem tem lucros”, criticou. O académico apelou ainda a uma maior articulação entre universidade e empresas e lamentou o “reflexo de dar tiros no pé” por via de regulações excessivas ou descoordenação estratégica.

Na sua intervenção final, Aguiar-Conraria defendeu que “os políticos não devem escolher setores vencedores – isso é trabalho dos empresários”, e destacou que Portugal tem hoje jovens mais qualificados do que a média europeia. “A nova revolução tecnológica pode permitir reindustrializar sem mais mão de obra. É uma oportunidade que não podemos desperdiçar”, concluiu.
Assista aqui ao evento completo:
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