Que medidas querem fundos e empreendedores do novo Governo?
Fundos de investimento e empreendedores apontam que medidas prioritárias deveriam ser implementadas pelo Executivo para dinamizar o ecossistema e posicionar o país como hub de inovação.
Com um novo Governo acabado de assumir funções e uma nova estratégia europeia para atrair e fixar startups e scaleups, que prioridades deveriam estar na lista do Executivo para dinamizar o ecossistema de empreendedorismo?
Incentivos fiscais para investidores, plano nacional para escalar startups, novos fundos de capital de risco com vocação regional ou setorial ou uma “Autoridade Única para a Inovação” são algumas das medidas propostas por investidores e empreendedores ouvidos pelo ECO.
André Martins, head of research na Unbabel
“É fundamental investir em políticas de atração de talento que não sejam apenas simbólicas, criar condições para aumentar o número de spin-offs e reduzir drasticamente a burocracia no sistema científico.”

Diogo Mónica, cofundador da Anchorage Digital
“Simplificação administrativa. Muito já se fez, e muito mais ainda se discutiu sobre isto. Mas o facto é que continua a haver coisas tão anacrónicas como o imposto de selo, 365 anos depois da sua criação; que se continua a permitir que entidades públicas e privadas requeiram assinaturas em papel, recusando a validade de assinaturas eletrónicas em certos processos; e por aí adiante.
Para além disso, tem de haver prazo máximos estabelecidos e respeitados nas interações com o Governo, sejam elas pedidos de visto ou quaisquer outras. Só com confiança e eficiência na máquina governamental se consegue fomentar e criar capacidade e eficiência na maquinaria privada.”

Gil Azevedo, diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa
“Que assuma a inovação como prioridade nacional. A inovação tem que ter um papel mais relevante dentro do governo, à semelhança de outros países. É também essencial desenhar um plano que seja estruturante e não uma soma de medidas táticas. Temos de avançar muito rapidamente na criação de condições para que Portugal seja um verdadeiro país de inovação: com menos burocracia, mais talento, mais investimento, maior escala internacional. A Unicorn Factory Lisboa está empenhada em contribuir ativamente e decisivamente para este objetivo.”

Lurdes Gramaxo, presidente da Investors Portugal
“Enquanto associação agregadora do setor de investimento em early-stage no país, acreditamos que o fator mais relevante para o desenvolvimento e sucesso deste ecossistema é a criação de um ambiente de estabilidade e previsibilidade. Neste contexto, esperamos que o Governo tenha a capacidade de conceber e implementar políticas públicas consistentes e duradouras, com especial enfoque no estabelecimento de incentivos fiscais eficazes no longo prazo para investidores, alinhados com as melhores práticas europeias.
Para tal, é crucial que o novo Executivo desenvolva uma estratégia clara e estruturada para o setor, que seja consensual entre os principais partidos representados na Assembleia da República. Só assim será viável assegurar que as medidas adotadas têm continuidade no tempo e resistem à alternância política, promovendo a consistência e a confiança necessárias para atrair e manter investimento e contribuir para a evolução do setor.”

Luís Rodrigues, Diretor da Startup Braga
“Gostaria de ver na agenda do novo Governo um programa nacional ambicioso de valorização e transferência de conhecimento, com foco na transição de ciência para o mercado. Isso passaria por criar um instrumento dedicado à aceleração de spin-offs universitárias e tecnológicas, com financiamento direto, apoio legal e de propriedade intelectual, mentoria especializada e uma forte ligação ao tecido empresarial.
Este tipo de programa permitiria transformar capital intelectual em valor económico real, criar empregos qualificados e posicionar Portugal como um país que não apenas gera conhecimento, mas que também o transforma em inovação com impacto global.
Paralelamente, é urgente reforçar os instrumentos de financiamento do ecossistema de inovação. O novo Governo deverá trabalhar em estreita articulação com o Banco Português de Fomento, promovendo a criação de novos fundos de capital de risco com vocação regional ou setorial, que permitam uma maior proximidade aos empreendedores e aos contextos locais.
Importa também garantir a continuidade e reforço de iniciativas bem-sucedidas como a Call INNOV-ID, promovida pela Portugal Ventures, cuja regularidade e dotação orçamental devem ser ampliadas. Esta call tem-se revelado absolutamente instrumental para o arranque de muitas startups de base tecnológica e científica, sendo um verdadeiro ponto de inflexão para projetos com elevado potencial, mas ainda em fases muito iniciais.”

Márcia Pereira, fundadora e CEO da Bandora
“A proposta eleitoral do novo Governo apresentava medidas promissoras para dinamizar o ecossistema empreendedor. Destaco a redução gradual do IRC — a proposta de baixar a taxa de IRC para 17% (e para 15% nas PME) pode tornar Portugal mais atrativo para investimentos e fixação de empresas tecnológicas; o compromisso com pagamentos públicos em 30 dias — esta medida pode melhorar significativamente a liquidez das startups que colaboram com o Estado; a simplificação fiscal e aceleração da justiça tributária — estas ações podem reduzir a burocracia e facilitar o crescimento das empresas inovadoras.
No entanto, gostaria de ver uma aposta mais concreta na criação de um programa nacional de ‘primeiros clientes públicos’, permitindo que startups testem e validem soluções em ambientes reais. Além disso, a implementação de incentivos fiscais para stock options seria crucial para atrair e reter talento qualificado.
Em suma, é essencial que o Governo vá além das intenções e implemente medidas concretas que posicionem Portugal como um verdadeiro hub de inovação na Europa.”

Pedro Ribeiro Santos, managing partner da Armilar
“Desde logo, será muito importante que Portugal adira a esta iniciativa [da estratégia europeia para atrair e fixar startups e scaleups] e se comprometa com a sua rápida e efetiva implementação, sob pena de ficarmos atrás no ecossistema europeu, e de, como até aqui, termos uma Europa a 2 (ou n) velocidades neste importante campo de desenvolvimento económico.”

Stephan Morais, presidente da Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI)
“Gostaria que o novo Governo tomasse como prioridade a promoção de incentivos para que os Institucionais privados invistam em fundos de capital de risco nacionais.”

Vasco Pereira Coutinho, CEO da Lince Capital
“Acreditamos que, com a ajuda dos atuais intervenientes de mercado, seria possível a criação de um plano nacional para escalar startups, com medidas concretas em áreas como fiscalidade, acesso a financiamento, simplificação administrativa e contratação de talento internacional.
Seria também estratégico implementar uma política de Estado para a ciência e inovação, que assegure continuidade e estabilidade, independentemente dos ciclos políticos. O novo Governo tem aqui a oportunidade de posicionar Portugal como uma plataforma europeia de inovação.”

Vítor Ferreira, diretor-geral da Startup Leiria
“Uma ‘Autoridade Única para a Inovação’ — com poderes transversais para harmonizar fiscalidade de stock-options, simplificar vistos, certificar sandboxes regulatórias e gerir o braço português do Scaleup Fund. Seria o nosso DARPA (sem armas) ou, no mínimo, um ‘Simplex’ turbo para a economia intangível.”

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