Que medidas querem fundos e empreendedores do novo Governo?

Fundos de investimento e empreendedores apontam que medidas prioritárias deveriam ser implementadas pelo Executivo para dinamizar o ecossistema e posicionar o país como hub de inovação.

Com um novo Governo acabado de assumir funções e uma nova estratégia europeia para atrair e fixar startups e scaleups, que prioridades deveriam estar na lista do Executivo para dinamizar o ecossistema de empreendedorismo?

Incentivos fiscais para investidores, plano nacional para escalar startups, novos fundos de capital de risco com vocação regional ou setorial ou uma “Autoridade Única para a Inovação” são algumas das medidas propostas por investidores e empreendedores ouvidos pelo ECO.

André Martins, head of research na Unbabel

“É fundamental investir em políticas de atração de talento que não sejam apenas simbólicas, criar condições para aumentar o número de spin-offs e reduzir drasticamente a burocracia no sistema científico.”

André Martins, head of research Unbabel.

Diogo Mónica, cofundador da Anchorage Digital

Simplificação administrativa. Muito já se fez, e muito mais ainda se discutiu sobre isto. Mas o facto é que continua a haver coisas tão anacrónicas como o imposto de selo, 365 anos depois da sua criação; que se continua a permitir que entidades públicas e privadas requeiram assinaturas em papel, recusando a validade de assinaturas eletrónicas em certos processos; e por aí adiante.

Para além disso, tem de haver prazo máximos estabelecidos e respeitados nas interações com o Governo, sejam elas pedidos de visto ou quaisquer outras. Só com confiança e eficiência na máquina governamental se consegue fomentar e criar capacidade e eficiência na maquinaria privada.”

Conferência "New Money" - 19MAR22
Diogo Mónica, cofundador da Anchorage Digital.Hugo Amaral/ECO

Gil Azevedo, diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa

Que assuma a inovação como prioridade nacional. A inovação tem que ter um papel mais relevante dentro do governo, à semelhança de outros países. É também essencial desenhar um plano que seja estruturante e não uma soma de medidas táticas. Temos de avançar muito rapidamente na criação de condições para que Portugal seja um verdadeiro país de inovação: com menos burocracia, mais talento, mais investimento, maior escala internacional. A Unicorn Factory Lisboa está empenhada em contribuir ativamente e decisivamente para este objetivo.”

Gil Azevedo, diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa.Hugo Amaral/ECO

Lurdes Gramaxo, presidente da Investors Portugal

“Enquanto associação agregadora do setor de investimento em early-stage no país, acreditamos que o fator mais relevante para o desenvolvimento e sucesso deste ecossistema é a criação de um ambiente de estabilidade e previsibilidade. Neste contexto, esperamos que o Governo tenha a capacidade de conceber e implementar políticas públicas consistentes e duradouras, com especial enfoque no estabelecimento de incentivos fiscais eficazes no longo prazo para investidores, alinhados com as melhores práticas europeias.

Para tal, é crucial que o novo Executivo desenvolva uma estratégia clara e estruturada para o setor, que seja consensual entre os principais partidos representados na Assembleia da República. Só assim será viável assegurar que as medidas adotadas têm continuidade no tempo e resistem à alternância política, promovendo a consistência e a confiança necessárias para atrair e manter investimento e contribuir para a evolução do setor.”

Lurdes Gramaxo, presidente da Investors Portugal.

Luís Rodrigues, Diretor da Startup Braga

“Gostaria de ver na agenda do novo Governo um programa nacional ambicioso de valorização e transferência de conhecimento, com foco na transição de ciência para o mercado. Isso passaria por criar um instrumento dedicado à aceleração de spin-offs universitárias e tecnológicas, com financiamento direto, apoio legal e de propriedade intelectual, mentoria especializada e uma forte ligação ao tecido empresarial.

Este tipo de programa permitiria transformar capital intelectual em valor económico real, criar empregos qualificados e posicionar Portugal como um país que não apenas gera conhecimento, mas que também o transforma em inovação com impacto global.

Paralelamente, é urgente reforçar os instrumentos de financiamento do ecossistema de inovação. O novo Governo deverá trabalhar em estreita articulação com o Banco Português de Fomento, promovendo a criação de novos fundos de capital de risco com vocação regional ou setorial, que permitam uma maior proximidade aos empreendedores e aos contextos locais.

Importa também garantir a continuidade e reforço de iniciativas bem-sucedidas como a Call INNOV-ID, promovida pela Portugal Ventures, cuja regularidade e dotação orçamental devem ser ampliadas. Esta call tem-se revelado absolutamente instrumental para o arranque de muitas startups de base tecnológica e científica, sendo um verdadeiro ponto de inflexão para projetos com elevado potencial, mas ainda em fases muito iniciais.”

Luís Rodrigues, diretor da Startup Braga.

Márcia Pereira, fundadora e CEO da Bandora

“A proposta eleitoral do novo Governo apresentava medidas promissoras para dinamizar o ecossistema empreendedor. Destaco a redução gradual do IRC — a proposta de baixar a taxa de IRC para 17% (e para 15% nas PME) pode tornar Portugal mais atrativo para investimentos e fixação de empresas tecnológicas; o compromisso com pagamentos públicos em 30 dias — esta medida pode melhorar significativamente a liquidez das startups que colaboram com o Estado; a simplificação fiscal e aceleração da justiça tributária — estas ações podem reduzir a burocracia e facilitar o crescimento das empresas inovadoras.

No entanto, gostaria de ver uma aposta mais concreta na criação de um programa nacional de ‘primeiros clientes públicos’, permitindo que startups testem e validem soluções em ambientes reais. Além disso, a implementação de incentivos fiscais para stock options seria crucial para atrair e reter talento qualificado.

Em suma, é essencial que o Governo vá além das intenções e implemente medidas concretas que posicionem Portugal como um verdadeiro hub de inovação na Europa.”

Márcia Pereira, CEO da Bandora.

Pedro Ribeiro Santos, managing partner da Armilar

“Desde logo, será muito importante que Portugal adira a esta iniciativa [da estratégia europeia para atrair e fixar startups e scaleups] e se comprometa com a sua rápida e efetiva implementação, sob pena de ficarmos atrás no ecossistema europeu, e de, como até aqui, termos uma Europa a 2 (ou n) velocidades neste importante campo de desenvolvimento económico.”

Pedro Ribeiro Santos, partner da Armilar Venture Partners, em entrevista ao ECO - 18FEV19
Pedro Ribeiro Santos, managing partner da Armilar Venture Partners.Hugo Amaral/ECO

Stephan Morais, presidente da Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI)

“Gostaria que o novo Governo tomasse como prioridade a promoção de incentivos para que os Institucionais privados invistam em fundos de capital de risco nacionais.”

Stephan Morais, presidente da Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI).Hugo Amaral/ECO

 

Vasco Pereira Coutinho, CEO da Lince Capital

“Acreditamos que, com a ajuda dos atuais intervenientes de mercado, seria possível a criação de um plano nacional para escalar startups, com medidas concretas em áreas como fiscalidade, acesso a financiamento, simplificação administrativa e contratação de talento internacional.

Seria também estratégico implementar uma política de Estado para a ciência e inovação, que assegure continuidade e estabilidade, independentemente dos ciclos políticos. O novo Governo tem aqui a oportunidade de posicionar Portugal como uma plataforma europeia de inovação.”

Vasco Pereira Coutinho, CEO da Lince Capital.

Vítor Ferreira, diretor-geral da Startup Leiria

Uma ‘Autoridade Única para a Inovação’ — com poderes transversais para harmonizar fiscalidade de stock-options, simplificar vistos, certificar sandboxes regulatórias e gerir o braço português do Scaleup Fund. Seria o nosso DARPA (sem armas) ou, no mínimo, um ‘Simplex’ turbo para a economia intangível.”

Vítor Ferreira, diretor-geral da Startup Leiria.

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