“Mais do que 1,5% ou 5% do PIB, é bom que tenha retorno económico”, avisa cluster da defesa

"A defesa investia 3% do PIB nos anos 80, mas não houve uma transformação tão grande ao nível de novas empresas" ou tecnologia, afirmou o presidente da AED Cluster Portugal.

O presidente da AED Cluster Portugal, que representa as empresas de aeronáutica, espaço e defesa, disse esta terça-feira que o debate em torno do investimento na defesa deve ter mais em conta o retorno económico do que a percentagem em si, até porque a indústria nacional tem potencial para liderar na inovação.

“Mais do que falarmos em 1,5%, 2% ou 5%, é bom é que sejam bem utilizados e tenha retorno económico para a indústria nacional (…). A defesa investia 3% do PIB nos anos 80, mas não houve uma transformação tão grande ao nível de novas empresas ou de novos desenvolvimentos tecnológicos”, afirmou José Neves, no 34º congresso da APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações.

José Neves reconhece que “não vamos desenvolver um caça de quinta geração, mas podemos trabalhar na cadeia de fornecimento”. “É possível ser líder em inovação com uma articulação forte, que é crítica para o sucesso. Vamos é ter de agir bem e rápido”, advertiu o também diretor de Segurança Interna e Defesa na GMV.

O apelo foi corroborado por outros players da área da defesa, nomeadamente o responsável de Valorização de Conhecimento da idD Portugal Defense, a holding que gere as participações públicas nas empresas da Defesa. Miguel Correia Pinto considera que Portugal tem de apostar na integração em consórcios de forma a ser capaz de fornecer sistemas sem tentar replicar o que outros países – que “souberam manter cultura” e orçamentos de defesa ao longo dos anos – fizeram.

“O conhecimento aumentou e a indústria tem de o acompanhar. Os militares têm de estar em contacto com as empresas e as universidades”, sugere o porta-voz da idD Portugal Defense, constatando que existe uma aceleração da investigação nesta área.

Miguel Pinto, responsável de Valorização de Conhecimento da idD Portugal Defense (ao centro) e Pedro Petiz, diretor de Desenvolvimento Estratégico da Tekever (à direita)

O cluster da defesa, que acumula 2,1 mil milhões de euros em volume de negócios, corrobora que está mais atrativo para investidores estrangeiros, conforme se vê nas feiras internacionais, onde os stands da indústria portuguesa recebem um número crescente de visitantes, enquanto antes tinham de “ter pastéis de nata” para oferecer.

“Empresas como a Tekever ou a Ogma valem ou vão valer mais de mil milhões per se, na dinâmica de mercado aberto e ainda sem aumentos do investimento na defesa”, exemplificou José Neves, acrescendo que “cavalgando” esta dinâmica global ainda terão maior crescimento.

A portuguesa Tekever, que produz drones e atingiu recentemente o estatuto de unicórnio ao ser avaliada em 1,2 mil milhões de euros, percebeu em 2010 que a robótica um ramo tecnológico no qual “valia a pena apostar”, mas ganhou dimensão com o contexto internacional. “O contexto de guerra mais premente deu-nos outra escala”, admitiu o diretor de Desenvolvimento Estratégico da Tekever, Pedro Petiz, no evento anual da APDC que decorre no auditório da Culturgest, em Lisboa.

“É preciso trazer capacidade industrial para a Europa, que começa nos materiais e vai até aos componentes e ao produto final. Temos de criar ecossistemas de fornecimento e ter empresas, embora, provavelmente, não consigamos fornecer tudo devido à nossa dimensão e massa crítica. Mesmo que não desenvolvamos submarinos, desenvolvemos drones”, adiantou Pedro Petiz.

Questionados sobre as futuras oportunidades neste setor, a idD Portugal Defense e a Tekever enumeraram segmentos da economia como o têxtil técnico (camuflagem), engenharia e fornecimento de componentes, no painel de debate intitulado “Business & science working together in Defense” (“Negócio e ciência a trabalharem juntos na Defesa”).

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