“Quais obstáculos?” CEO da Nos recusa entraves à chegada da Digi
"Esse operador, desde o primeiro momento da interligação, teve acesso às infraestruturas", disse Miguel Almeida, no congresso da APDC. Vodafone e Meo desvalorizam impacto da concorrência romena.
As três maiores operadoras de telecomunicações em Portugal voltaram esta quarta-feira a apelar à consolidação do setor para melhorar a sustentabilidade e a capacidade de investimento, cujo retorno demora décadas. O CEO da Nos foi mais longe e negou que houve um travão à entrada da Digi no mercado.
“Não houve nenhum obstáculo, pelo menos por parte da Nos, não posso falar pelos concorrentes. Quais obstáculos? Esse operador, desde o primeiro momento da interligação, teve acesso às infraestruturas. O que lhe falta?”, disse Miguel Almeida, quando questionado sobre os entraves à entrada de um novo player no mercado, no 34º congresso da APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações. Na perspetiva do gestor, esta é uma “narrativa desligada da realidade”.
A CEO da Meo afirmou que não se está a “comparar maçãs com maçãs” e a diferença entre operadores viu-se no dia 28 de abril de 2025 aquando do apagão energético, fazendo referência ao atraso na reposição das comunicações móveis por parte da Digi.
Na visão de Ana Figueiredo, a concorrência vê-se em números. “Se fizermos uma análise histórica, nos últimos 10 ou 15 anos, houve alteração de quotas de mercado, oferta, número de serviços. Nesta década, a receita do setor cresceu 25% e o preço por gigabyte decresceu 90%”. Negando que exista um aumento dos preços, a CEO da Meo garantiu que o setor tem trabalhado no desenvolvimento de redes de última geração, o que também afeta a sustentabilidade do ponto de vista de investimento e inovação.
Desafiado a responder se a Digi causou estragos, o CEO da Vodafone disse que o segmento inferior de mercado “não está ter um forte crescimento”, referindo-se às marcas que optam pelo “preço mais baixo do mercado” e que contrastam com “a larga maioria, que procura qualidade e preço justo”.
“E não há só mais um operador. Há mais dois ou três com alguma escala em Portugal. Existem mais operadores que não estão aqui presentes”, ressalvou Luís Lopes.
As declarações acontecem um ano depois de os três CEO estarem sentados naquelas mesmas cadeiras, sendo que em 2024 antecipavam os efeitos da chegada da Digi. Na altura, já se mostravam pouco crentes no impacto do novo entrante, mas desta vez o trio mais conhecido do setor mostrou-se com maior confiança. O facto de conseguirem manter as tabelas de preços praticamente inalteradas, apesar da concorrência, foi um respiro de alívio.
“Fomos dados como mortos e estamos aqui“, ironizou o CEO da Nos, lançando farpas à exposição mediática da empresa romena. “O novo operador foi merecedor de publicidade gratuita”, criticou Miguel Almeida, reiterando que o país “não tem capacidade” para ter quatro operadores no mercado. “O número certo para garantir concorrência, sustentabilidade e inovação é três. Só aqui em Portugal é que estamos em sentido contrário”, lamentou, no evento da APDC que decorre no auditório da Culturgest, em Lisboa.
O CEO da Vodafone Portugal, Luís Lopes, foi mais específico e deixou ainda uma queixa direta à Autoridade da Concorrência (AdC), que chumbou a compra da Nowo. “A AdC tinha uma visão peculiar do mercado português das telecomunicações, ao contrário do que vemos na Europa“, declarou o CEO da Vodafone Portugal.
“Há um ano estávamos aqui a discutir, já com grande ceticismo, a compra da Nowo. A AdC entendeu que não seria possível, mesmo com um conjunto de remédios mais forte do que é costume noutras operações semelhantes em Espanha e Inglaterra (Vodafone e Three)”, comparou Luís Lopes, no painel “Estado da Nação das Comunicações”.
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