Powell agita mercados e juros de Portugal renovam máximos de vários meses
As Obrigações do Tesouro acompanharam o sell-off europeu, com as yields a subirem em todos os prazos. As obrigações a 30 anos superaram os 4% pela primeira vez desde março.
As obrigações do Tesouro acumularam esta segunda-feira uma subida generalizada das yields ao longo de toda a curva de rendimentos, numa reação paradoxal às declarações de Jerome Powell, presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed) que, na sexta-feira passada, no simpósio de Jackson Hole, abriu caminho para um possível corte das Fed Funds em setembro.
É certo que após as declarações do presidente da Fed, as yields das obrigações portuguesas (assim como os pares europeus e norte-americanos) corrigiram, mas esta segunda-feira este movimento inverteu por completo, e no caso das obrigações portuguesas e de alguns países europeus, a taxa de juro chegou mesmo a renovar novos máximos.
Os títulos portugueses a seis anos foram os mais penalizados, com a yield a subir mais de três pontos base para 2,705%, enquanto a taxa de juro média ponderada das obrigações a 10 anos subiram 5,5 pontos base, negociando em máximos de três meses nos 3,19%. A subida foi transversal a todas as maturidades: os títulos a dois anos subiram para 2,05%, os de cinco anos para 2,5% e os de 30 anos alcançaram os 4,06% (o valor mais elevado desde março).
Portugal não foi caso isolado. O movimento de sell-off sobre os títulos de dívida atingiu todo o mercado europeu. A yield das obrigações alemãs a 10 anos — referência para a Zona Euro — subiram 4 pontos base para 2,76%, após terem caído uma magnitude similar na sexta-feira, prolongando assim uma tendência de subida iniciada em abril,
As obrigações italianas também a 10 anos registaram uma subida superior a quatro pontos base, transacionando no final da tarde de segunda-feira nos 3,6%, enquanto França e Espanha seguiram a mesma tendência ascendente, mas de forma ainda mais intensa. No caso dos títulos soberanos franceses a 10 anos, a yield superou os 3,5% pela primeira vez desde meados de março, enquanto as obrigações espanholas a 10 anos negociaram acima dos 3,4%, renovando máximos de início de abril.
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Os ventos que sopram de Jackson Hole
A reação dos mercados europeus ilustra uma das complexidades atuais da política monetária global. Embora Powell tenha sinalizado que “os riscos desfavoráveis para o emprego podem justificar um ajuste na nossa posição política”, os investidores rapidamente reavaliaram as implicações para a Europa.
Esta reação prende-se com o facto de o Banco Central Europeu (BCE) encontrar-se numa posição completamente diferente da Fed. Enquanto os mercados atribuem uma probabilidade superior a 86% de um corte de 25 pontos base da Fed na reunião de 16 e 17 de setembro, o BCE já cortou as taxas de forma mais acentuada, sendo possível que na reunião de 10 e 11 de setembro o BCE volte a colocar o pé no travão, segundo várias fontes citadas pela Reuters, fazendo a segunda pausa no ciclo de cortes das taxas de juro, que foi iniciada na reunião de julho.
Christine Lagarde, presidente do BCE, destacou na semana passada a “resiliência do mercado de trabalho da Zona Euro”, numa clara divergência face às preocupações de Powell com o emprego americano. Esta divergência de políticas monetárias pode explicar porque as yields dos títulos europeus subiram mesmo depois de Powell ter aberto a porta aos cortes.
Para Portugal, a subida das yields representa um custo adicional de financiamento num momento em que o país continua a beneficiar de spreads historicamente baixos face à Alemanha.
A situação portuguesa insere-se num contexto mais amplo de pressão sobre as obrigações da periferia europeia. Apesar de Portugal não ser o caso mais emblemático — essa distinção cabe à França, onde as tensões políticas continuam a preocupar os investidores –, o país não ficou imune ao movimento de alargamento dos spreads face à Alemanha. Atualmente, o diferencial das yields dos títulos a 10 anos entre Portugal e a Alemanha é de 44,7 pontos base, o valor mais elevado desde 22 de julho, após uma subida de 7,7% na segunda-feira (a maior subida desde 4 de abril).
Os próximos dados económicos serão assim fundamentais para determinar a trajetória das yields europeias. Com a inflação na Zona Euro na meta de 2% do BCE e sinais contraditórios sobre o crescimento económico, os investidores mantêm-se cautelosos. A situação contrasta com o otimismo inicial que se seguiu ao discurso de Powell no simpósio de Jackson Hole, com os mercados de ações a subirem e as yields americanas e europeias a desceram.
Para Portugal, a subida das yields representa um custo adicional de financiamento num momento em que o país continua a beneficiar de spreads historicamente baixos face à Alemanha. No entanto, o movimento desta segunda-feira serve como um lembrete de que, numa era de crescente divergência entre políticas monetárias globais, nem mesmo os sinais dovish da Fed conseguem proteger os mercados europeus de episódios de volatilidade.
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